Tomo a liberdade de transcrever, porque interessante e muito bem escrita, a coluna-carta de despedida do jornalista Flávio Gomes do diário Lance. Craque da cobertura automobilística, Gomes era uma das atrações do jornal. Como divórcios profissionais nem sempre são bem resolvidos, entendo que este ficou muito bem retratado no texto abaixo:
A gente se vê
Pelas minhas contas, foram 652 semanas em quase 13 anos pingando aqui, religiosamente às quintas-feiras, algumas palavras soltas sobre carros e corridas. Muita gente que começou a ler o LANCE! ainda garotinho, com 10, 12 anos de idade, é hoje adulto. Eu estou 13 anos mais velho, o que depois dos 30 não faz muita diferença.
Neste tempo todo, vimos Villeneuve ser campeão, Hakkinen esboçar uma hegemonia, Schumacher conquistar o primeiro título, e depois o segundo, e o terceiro, e o quarto, o quinto, o sexto, o sétimo… Vimos Barrichello assinar com a Ferrari e ganhar seu primeiro GP, o surgimento de Massa, a ascensão de Alonso, o fenômeno Hamilton, a surpresa da Brawn.
Vimos equipes nascerem e morrerem, como a Jaguar, a Stewart, a Jordan, a Arrows, a Benetton, a Prost, a Tyrrell, a Minardi, a Lola, a BAR, a Toyota, a Renault, a Red Bull, a Midland, a Spyker, a Toro Rosso, a Super Aguri, a Force India, a Hispania, a Virgin, a Lotus, a Mercedes…
Sim, tudo isso aconteceu em 13 anos. Rodei o mundo várias vezes, escrevi um monte de bobagens, fiz centenas de previsões que não se confirmaram, dei palpites, entrevistei muita gente, relatei grandes corridas.
Nesse tempo todo aconteceram três Copas, três Olimpíadas, o futebol brasileiro ameaçou se endireitar com os pontos corridos, o país ganhou algumas medalhas, Guga explodiu e implodiu, o Rio ganhou o Pan e os Jogos de 2016, o Brasil levou o direito de fazer o Mundial de 2014.
Detesto despedidas. Sou meio carioca nessas coisas de dizer adeus. Prefiro um “a gente se vê”, mesmo sem saber se a gente vai se ver de novo. Assim, nestas que possivelmente são minhas últimas palavras aos milhares de leitores do LANCE!, é tudo que consigo dizer agora. A gente se vê.
E um enorme e sincero obrigado aos leitores que me aturaram nesse tempo todo. No bad feelings, como dizem os gringos. No regrets. A vida, no fundo, é uma longa corrida. E a última volta ainda está longe.
Vai fazer falta.
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Com certeza, caro Jorge. Flávio Gomes é um dos mais antenados comentaristas de automobilismo do país.
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