Por Fernando Alves Jr. (fernandochivu@hotmail.com)
Gerson, assim como eu, todo torcedor remista ficou triste com o cacete que levamos do Santos nessa quinta-feira. Confesso que já fui ao estádio conformado com uma derrota que evitaria o jogo de volta (no bolão com amigos eu apostei num 3-1 para o Santos), mas ainda assim mantinha a esperança de ver um lampejo de eficiência, uma mínima resistência do Remo. Saí do estádio cabisbaixo nem tanto pelo resultado em si, mas porque constatei que os nossos times estão muito defasados em relação aos grandes de RJ, SP, MG e RS.
Fiquei chateado, sobretudo, porque percebi que o problema é mais grave do que imaginávamos. Os dirigentes têm culpa por contrarem jogadores com pouca qualificação técnica? Sim, claro. O treinador escalou errado? Pode ser. Mas, cá para nós, vendo o Remo x Santos concluí que os nossos jogadores são, na minha visão, os maiores culpados pelos últimos fracassos do Remo.
Vi, por exemplo, o Neymar correndo e se movimentando durante 90 minutos. Se tivessemos aquela ferramenta utilizada pela Fifa/Uefa que registra quantos quilômetros o jogador corre por partida, certamente veríamos que o atacante do Santos percorreu no mínimo uns 10 km contra o Remo. Ah, mas ele é magro, é novinho e tal….e o Heliton, não é?! Por que o nosso atacante não tem a mesma postura? Por que, com 30min de jogo, ele coloca as mãos na cintura e deixa de se movimentar?
Talvez porque os treinadores nunca pararam um coletivo e disseram: “Heliton, quando estiveres sem a bola, preenche esse espaço, corre por aqui, cai ali…”. Mas, sinceramente, acho que essa deficiência é culpa do próprio atleta, que não se preocupa em chegar com o preparador físico e falar: “Monta um treinamento para eu voar em campo, para ter explosão, para ter chegada”. Ou chegar com o treinador e pedir para aprimorar os fundamentos básicos (cruzamento, passe, chute). Dá para imaginar isso? Acho que os nossos atletas não têm nem humildade para tanto.
Acho que, mesmo reforçando o preparo físico e os fundamentos, o Heliton nunca será um Neymar. Até porque, acho que a habilidade para driblar e para fazer fantasias é algo inato. Tem gente que tem coordenação motora diferenciada. Mas, se Heliton e demais buscarem se qualificar um pouco mais, certamente teriam um rendimento bem superior em campo. Os profissionais de outras áreas não fazem isso? Quando querem evoluir, eles não buscam cursos, pós-graduação, qualificação? Por que o nosso jogador não abre os olhos para isso? Pô, se o cara não nasceu gênio, ele tem que ralar! Tem que compensar em outros items.
É por essas e outras que invejo a cultura europeia. O Cristiano Ronaldo costuma fazer 3.000 abdominais todos os dias! Ele faz isso inclusive em dia de jogo do Real Madrid. E faz por conta própria! Tudo bem que tem a vaidade envolvida, mas ele também faz isso para evitar lesões e melhorar seu rendimento. Não é à toa que ele voa em campo. Quais as possibilidades de um cara desses pendurar as chuteiras aos 35 anos com 100kg? Devem ser de uns 2%……
E o Henry, do Barcelona? Ele já confessou que adora assistir partidas em casa para estudar os adversários, para ver como o zagueiro rival se comporta e como pode superá-lo. Os caras são inteligentes, profissionais! Rapaz, não vai adiantar montar uma superacademia no Baenão, ter um novo estádio, contratar um treinador renomado se o jogador não desenvolver valores ligados ao profissionalismo. É preciso acabar com esse provincianismo de dar entrevista na TV e achar que já é o cara. E isso vale para a turma do PSC também. O Fabrício, que é bom jogador, não se acostumou na Europa. Será que estranhou a cultura, a cobrança lá?
Como, a meu ver, essa nossa deficiência envolve uma questão cultural dos nossos atletas, acho, infelizmente, que a nossa redenção ainda está longe. Educar demora. A não ser que, numa dessas roletas russas habituais dos nossos clubes, surjam novos Sandros, Lechevas, Jobsons e Rogerinhos e a gente consiga repetir os feitos do PSC do início do século.
Desculpa a extensão do desabafo, mas é que fiquei extremamente entristecido ontem. A recuperação do nosso futebol já não depende só dos cartolas. Abs.