Matando pela democracia

Por Heraldo Campos (*)

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Estamos nos matando pela democracia.

Ou melhor, quem está indo para ruas, bravamente, protestar, é quem está fazendo na realidade isso por nós porque, como somos do grupo de risco, estamos em casa, obrigados a trabalhar em home-office (quando temos trabalho) e a permanecer em isolamento social contra a pandemia do coronavírus.

Essa gente forte, corajosa, caminha nas ruas carregando bandeiras e vestindo camisetas muito representativas da sociedade porque lá estão presentes clubes de futebol, moradores de favelas, filiados de sindicatos, militantes de partidos políticos, entre outros cidadãos indignados com o momento que estamos atravessando, nessa nossa cada vez mais violentada democracia.  

Parece óbvio que essa gente de coragem, mesmo com máscara cobrindo o rosto para uma proteção primária contra a contaminação pelo coronavírus, uma hora iria se expor e formar uma frente de luta contra esse governo desumano e autoritário que se instalou no nosso país. 

Os sinais que esse governo descarado, praticante da eugenia, iria endurecer contra o povo foram dados há tempos e agora parece que, cada vez mais, vai materializando na luz do dia o que era visto apenas como um pesadelo distante. 

Um governo que despreza a vida humana, a saúde pública e as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), para evitar que a pandemia do coronavírus se alastre está, conscientemente, querendo nos dizimar.

Recordemos que saímos da última ditadura, instalada com o golpe de 64, há pouco mais de trinta anos e a volta de outra edição dela está batendo na nossa porta. Essa nova edição está querendo nos arrebentar, como se fosse uma impiedosa seca que invade nossas vidas e acaba nos matando pela falta de água. 

A água é essencial para a vida e a água que bebemos todos os dias é a mesma que beberam os dinossauros há 200 milhões de anos atrás e Moisés, Jesus e Maomé, no intervalo de pouco mais de 2 mil anos, pois ela faz parte de um ciclo.

Aliás, diga-se de passagem, são nas regiões de origem destes três senhores, no Oriente Médio, que o controle, a distribuição e a utilização do petróleo e da água são historicamente um motivo de tensões e de conflitos; ali se mata há séculos pelo domínio desses dois recursos que são tratados, nitidamente, como mercadoria de guerra.

E por falar em guerra, quem sabe não está passando da hora para se levantar a tese da utilidade das forças armadas. O que de bom, de fato, trouxeram para o povo, ao longo das ditaduras, as forças armadas? Medo?Repressão? Tortura?

No distante 1º de setembro de 1977, o jornalista Lourenço Diaféria publicou uma crônica intitulada “Herói. Morto, Nós.”, com o seguinte trecho: “O duque de Caxias é um homem a cavalo reduzido a uma estátua. Aquela espada que o duque ergue ao ar aqui na Praça Princesa Isabel – onde se reúnem os ciganos e as pombas do entardecer – oxidou-se no coração do povo.

O povo está cansado de espadas e de cavalos. O povo urina nos heróis de pedestal. Ao povo desgosta o herói de bronze, irretocável e irretorquível, como as enfadonhas lições repetidas por cansadas professoras que não acreditam no que mandam decorar.

“Assim oxalá, no futuro, nossos tataranetos poderão viver em um país sem militares no poder, porque é questionável a utilidade das forças armadas no dia a dia do nosso povo e uma faixa nas ruas com os dizeres “Abaixo a estátua de Duque de Caxias” pode ser um primeiro passo, como um incentivo simbólico, para as próximas manifestações.

Para concluir, por entender que o desenfreado processo autoritário, com o golpe dentro do golpe em marcha, não vai desacelerar tão cedo, a cassação da chapa militar-presidencial pelos desmandos cometidos e a convocação de nova eleição, lastreada no que diz a Constituição Federal, pode ser a melhor solução política a ser tomada, para não estarmos, em vão, nos matando pela democracia.

* Heraldo Campos é Graduado em geologia (1976) pelo Instituto de Geociências e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista – UNESP, Mestre em Geologia Geral e de Aplicação (1987) e Doutor em Ciências (1993) pelo Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo – USP. Pós-doutor (2000) pelo Departamento de Ingeniería del Terreno y Cartográfica, Universidad Politécnica de Cataluña – UPC e pós-doutorado (2010) pelo Departamento de Hidráulica e Saneamento, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo – USP.

Bolsonaro quer criminalizar charge que o associa ao nazismo

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O advogado e professor da FGV Thiago Amparo comentou o pedido feito pelo ministro da Justiça, André Mendonça, para que seja aberto um inquérito para “investigar publicação reproduzida no Twitter Blog do Noblat”. A publicação trata-se de uma charge do jornalista Renato Aroeira, divulgada pelo jornalista Ricardo Noblat. Amparo lembrou que em 2019 Jair Bolsonaro perdeu um processo semelhante.

A citação vem de um caso em que Bolsonaro perdeu no TJ do RJ em 2018 contra outra charge também associando-o ao nazismo. Tribunal entendeu que, por ser uma sátira, charge é em si um exagero, não uma descrição da realidade exata.

Se o presidente Jair Bolsonaro (PSL) não ficou constrangido de tirar foto ao lado de um homem fantasiado de Adolf Hitler, uma charge que o associa ao nazismo não causa danos morais. Foi o que decidiu a 5ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, na terça-feira, 26 de fevereiro de 2018, em apelação de Bolsonaro contra o jornal O Dia.

De acordo com a relatora, desembargadora Cristina Tereza Gaulia, a charge tem “cunho satírico potencializado”, e não intenção de manchar a honra do presidente. Só haveria dano moral se elas tivessem conteúdo claramente difamatório, e o objetivo da charge, evidentemente, foi fazer crítica com humor. Ela lembrou também que o presidente nunca tentou impedir a circulação da foto que tirou com o sósia de Hitler e, portanto, não se incomoda com a associação.

A charge foi publicada na época das eleições. Mostrava uma suástica com o rosto do hoje presidente no centro, como se as pontas dela fossem suas mãos e pés. Embaixo, os dizeres “e ninguém vai dizer nada?”, chamando atenção para os discursos cada vez mais agressivos do então candidato.

Na ação por danos morais, Bolsonaro usou o episódio da facada que tomou como justificativa. Segundo ele, ao associá-lo ao nazismo, além de difamar sua imagem, a charge poderia despertar reações violentas de seus opositores. A facada, segundo ele, foi um exemplo de como ele pode se tornar vítima de alguém. O jornal respondeu que estava exercendo seu direito de liberdade de imprensa.

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O pedido foi negado na primeira instância e, na terça, o TJ negou o recurso. “Não há como reconhecer qualquer dano à honra do autor-apelante a partir da impugnada charge, pois se aquela foto [ao lado do homem fantasiado de Hitler] não lhe gerou constrangimento psíquico, tampouco o desenho cômico objeto da presente ação foi passível de gerar abalo à sua honra subjetiva, ao sentimento que cultiva sobre si mesmo”, argumentou a relatora no TJ-RJ. O homem fantasiado de Hitler é Professor Marco Antônio, candidato a vereador do Rio de Janeiro em 2016 pelo PSC. Ao jornal Extra, o candidato derrotado jurou que não faz apologia ao nazismo e seu bigode, igual ao de Hitler, é “estilo francês”.

Depois de doar 2 milhões de doses ao Brasil, EUA suspendem uso da cloroquina

Os problemas daquele grande estudo sobre riscos da cloroquina para tratar COVID-19 - Crédito: David J. Phillip/AP

Por Jamil Chade

As autoridades americanas anunciaram nesta segunda-feira a decisão de revogar “a autorização de uso emergencial que permitia que o fosfato de cloroquina e o sulfato de hidroxicloroquina fossem utilizados para tratar certos pacientes hospitalizados com COVID-19” fora de testes clínicos. Agora, para que o remédio possa entrar no protocolo sanitário do país, os testes científicos completos terão de ser aguardados e o uso emergencial não será mais liberado. Nesta semana, a OMS anunciou que também deverá tomar uma decisão sobre a manutenção ou não dos testes sobre o remédio. A agência mundial vem fazendo testes com o produto.

O remédio usado para o tratamento da malária é uma das esperanças no caso do coronavírus. Mas, segundo a OMS, até hoje não existem evidências científicas de que possa gerar benefícios.

Nas últimas semanas, o governo brasileiro chegou a comemorar a decisão da Casa Branca de destinar ao Brasil duas milhões de doses do remédio, enquanto o assessor de Jair Bolsonaro, Arthur Weintraub, sugeriu que um tribunal de Nuremberg fosse estabelecido contra as pessoas que se recusaram a receitar o remédio.

Mas, nesta segunda-feira, o Food and Drug Administration (FDA), dos EUA, “determinou que os critérios legais para a emissão de uma autorização para uso emergencial não são mais atendidos”. A FDA é uma agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos.

Procurado pela coluna, o Itamaraty ainda não respondeu se a doação será mantida. “Com base na sua análise contínua e dados científicos emergentes, o FDA determinou que a cloroquina e a hidroxicloroquina têm pouca probabilidade de serem eficazes no tratamento da COVID-19 para os usos autorizados nos EUA”, afirmaram as autoridades americanas.

“Além disso, à luz de eventos cardíacos graves em andamento e outros potenciais efeitos colaterais graves, os benefícios conhecidos e potenciais da cloroquina e da hidroxicloroquina já não compensam os riscos conhecidos e potenciais para o uso autorizado”, indicaram.

A autorização havia sido concedida para o uso emergencial do remédio em 28 de março de 2020 “com base na ciência e dados disponíveis na época”. Naquele momento, a decisão estipulava que o produto fosse dado apenas com o acompanhamento médico e dentro de clínicas para os pacientes mais graves.

Fifa avalia mudar calendário de seleções e adiar Mundial de Clubes

Alex Oxlade-Chamberlain encara a marcação de Gerson na final do Mundial de Clubes de 2019 entre Liverpool e Flamengo - Karim Jaafar/AFP

A Fifa vai discutir no dia 25 de junho o calendário do futebol e pode anunciar o cancelamento de suas datas-Fifa em 2020 e o adiamento do Mundial de Clubes, marcado para dezembro no Qatar. O Conselho se reúne virtualmente daqui a dez dias, em sua primeira reunião do ano — a primeira, marcada para março em Assunção, foi cancelada por causa da pandemia do novo coronavírus.

O encontro será importante porque também debaterá as contas da entidade, números que serão revelados em setembro durante o Congresso virtual, e também será escolhida a sede da Copa do Mundo feminina de 2023 — o Brasil desistiu na semana passada dessa disputa.

A Fifa avalia cancelar as datas-Fifa, aquele período em que há jogos entre seleções, do restante do ano. São três, uma entre agosto e setembro, outra em outubro e a última em novembro. Isso faria com que a seleção brasileira não entrasse em campo em 2020, já que as data-Fifas de março, que marcaria o início das Eliminatórias da América do Sul para a Copa de 2022 no Qatar, e de junho já foram canceladas.

Como debaterá calendário, há expectativa entre membros do Conselho de que a secretaria-geral coloque em pauta o Mundial de Clubes de dezembro. Como mostramos em abril, a incerteza de que campeonatos como a Libertadores terminarão até novembro faz a Fifa estuda adiar para dezembro de 2021 o torneio ainda com sete participantes marcado para dezembro no Qatar. As confederações pediram para a Fifa não adiar a competição, ou esperar ao máximo para fazer isso, mas o tempo está encurtando e é preciso dar resposta aos patrocinadores.

A entidade já adiou, sem data, o Mundial em novo formato, com 24 times, que estava agendado entre junho e julho de 2021 na China. Esse período será usado para a realização da Eurocopa e da Copa América, que seriam 2020 e também acabaram postergados por causa da Covid-19. Isso tudo será discutido entre os 37 membros do Conselho, que inclui o brasileiro Fernando Sarney. (Com informações de Marcel Rizzo)

Vida longa ao clássico Re-Pa

POR GERSON NOGUEIRA

Cassiano, Isac, Elielton, Walter... - Quem deve se destacar no Re ...

Ao longo de seis horas de programa, das 15h às 21h, a Rádio Clube premiou ontem a torcida paraense com uma edição primorosa dos “Jogos Memoráveis”, dedicada a tributar o Re-Pa. Uma homenagem à altura, afinal são 106 anos de história, enchendo estádios e mobilizando a paixão de todo um povo. É o maior confronto futebolístico da Amazônia, duelo mais disputado no mundo e um dos clássicos nacionais mais importantes.

Com produção caprichada, coordenada por Guilherme Guerreiro e com apresentação de Giuseppe Tommaso, o programa reconstituiu momentos emblemáticos, como o 7 a 0 e algumas partidas do tabu de 33 de jogos. Personagens da saga construída pelos dois clubes também marcaram presença, com depoimentos emocionados e ricos em detalhes.

Para falar sobre o clássico, radialistas e jornalistas até de fora do Pará marcaram presença, como Bruno Formiga (do Esporte Interativo), que observou um fato curioso: apenas o Gre-Nal, além do Re-Pa, tem por característica uma vinculação direta com o torcedor. No Rio Grande do Sul, como no Pará, a torcida sabe de cor o número de vitórias e as principais façanhas sobre o maior rival.

Formiga elogiou também a combinação perfeita de cores entre as duas camisas antagônicas: o azul marinho do Leão contra o azul celeste do Papão. Nós, que vivenciamos esse embate desde a mais tenra idade, nem atentamos muito para esse detalhe.

Dei meus pitacos também, obviamente. Instado a mencionar um clássico memorável dentre tantos que acompanhei, não consegui citar um apenas. Tenho muito viva a lembrança do embate decisivo de 1971, quando o PSC derrotou o Remo de virada, por 3 a 2. Moreira fez o gol decisivo nos instantes finais da prorrogação.  

Foi um clássico dramático e vibrante, com nomes ilustres em campo. Alcino, Dico, Jorge Costa, João Tavares, Benê, Neves e Robilota, além de Arnaldo César Coelho no apito, como também por ter descambado em pinimba judicial que só seria sanada em 1972, quando o PSC abriu mão do então iniciante Bira para que o Remo desistisse da ação. Troca que se mostraria altamente lucrativa para o Leão.

Meu outro Re-Pa inesquecível, escolhido entre tantos que acompanhei e tive o privilégio de cobrir como jornalista, foi a goleada azulina de 4 a 0 (25º jogo do tabu de 33 jogos) em 1996, com três gols de Ageu e um golaço de Rogério Belém chutando de fora da área.  

O programa teve o cuidado de resgatar figuras icônicas dos dois lados, como Chico Espina, Dario, Bira e Luís Miller, que marcaram época como artilheiros e que se tornaram muito estimados pelas duas nações. Além do craque Pagani, o mais clássico defensor que vi jogar, até mais que Belterra. Saía driblando, jogava como um lorde, sem sujar o calção.  

A Rádio Clube fez uma declaração de amor ao principal dérbi do Norte. Pelo conteúdo jornalístico de primeira, riqueza de depoimentos e narrações, o programa deve ser guardado e mostrado às novas gerações. Vida longa ao Re-Pa!, disse Guerreiro no encerramento, frase que abre a coluna.

Combater o racismo é prioridade, dentro e fora de campo

Um brasileiro mostrou ontem que o futebol não pode se omitir na atual temporada de protestos contra o flagelo representado pelo racismo no mundo. O lateral Marcelo comemorou seu gol para o Real Madrid diante do Eibar com um gesto que já se tornou clássico nas gigantescas manifestações após a morte de George Floyd, assassinado pela polícia norte-americana.

Em meio à comemoração pelo gol, Marcelo se ajoelhou e ergueu o braço de punho cerrado, repetindo a simbologia do movimento negro. O lateral brasileiro mostrou engajamento e consciência social.

O Real voltou a campo e resolveu seus problemas logo no primeiro tempo, no estádio Alfredo Di Stéfano (o Bernabéu está em obras). Kroos, Sergio Ramos e Marcelo marcaram para o time merengue e Pedro Bigas diminuiu. O gol de Marcelo foi um disparo forte da entrada da área.

Interessante no retorno do Real foi a moral que Zinedine Zidane deu aos brasileiros do elenco. Utilizou como titulares Marcelo, Casemiro e Rodrygo. No 2º tempo, Militão substituiu Sergio Ramos e Vinícius Jr. entrou no lugar de Hazard.

Keno, que despontou no Águia, agora é sonho do Galo

O Atlético-MG de Jorge Sampaoli não está economizando na busca por reforços e a bola da vez é o atacante Keno, ex-Palmeiras, que hoje defende o Pyramids, do Egito. Tendo Alexandre Mattos como homem-forte do futebol, o Galo não está para brincadeiras.

Foi Mattos o responsável pela ida de Keno para o Palmeiras e, posteriormente, cuidou de sua negociação com os egípcios. O Atlético já fez uma proposta oficial pelo atacante, no valor de R$ 17 milhões.

E pensar que Keno passou por aqui em 21013 trazido por João Galvão para o Águia de Marabá, mas passou meio em brancas nuvens. Coisas do mundo da bola.

Direto do blog

“Gerson, assisti bem recente uma entrevista do Canhotinha ao Bial. Ele falou com méritos daquele timaço de 70, destacando exatamente o conjunto de que estava dentro e fora de campo. Uma seleção inesquecível e vitoriosa com todos os méritos. Não assisti à Copa de 70, tinha pouco mais de 1 ano de idade. A de 78, sim. Torci para o Brasil, mas fiquei deslumbrado com Mario Kempes, o canhoto argentino. Depois disso, só vi algo parecido, em 82, com o futebol-arte do escrete canarinho. Para mim, 1970 e 1982, foram o que tivemos de melhor. 70 com o merecido para aquela geração de craques e 82, pela retomada da democrática do país e a genialidade do Dr. Sócrates. O tetra não veio, mas ficou o legado histórico”.

Willys Lins, a respeito da coluna de domingo

(Coluna publicada na edição do Bola desta segunda-feira, 15)