Por Gerson Nogueira
O Paissandu viveu sábado à tarde todas as emoções que o futebol pode proporcionar em 90 minutos. Levou dois impactos terríveis antes dos 15 minutos, causados por falhas bisonhas de seus zagueiros. Reencontrou a esperança nos instantes finais do primeiro tempo, ao diminuir com Pablo. Marchou, convicto, rumo ao ataque, mas voltou a se desesperar com o terceiro gol dos visitantes. Teve tempo ainda para arranjar um pênalti e arrancar um empate que parecia inalcançável. A euforia que tomou conta do estádio e de seus quase 8 mil pagantes após tanto sofrimento dá a medida das emoções que estavam em jogo.
O futebol, como se aprende desde muito cedo, é um esporte capaz de distribuir alegrias e tristezas com a mesma intensidade, às vezes tudo ao mesmo tempo agora. Que o diga o torcedor alviceleste, confrontado quase toda semana com a gangorra emocional proporcionada por um time instável e imprevisível.
Contra o Oeste, quando a vitória era o único resultado interessante, o Paissandu começou fazendo o que manda o manual do bom anfitrião. Não dava sossego ao visitante, atacando seguidas vezes com fúria e determinação. É verdade que não criou nenhuma grande chance, mas deu a impressão de que não iria desistir de alcançar seu objetivo.
Bastaram duas pontadas meio despretensiosas do Oeste para que o sonho virasse pesadelo. No primeiro lance, a bola foi cruzada na área e o zagueiro Leonardo pulou, mas não conseguiu cabecear. O atacante, bem posicionado, só fez tocar de cabeça longe do alcance do goleiro.
Minutos depois, em lance iniciado no meio-de-campo, o meia-atacante Bruno Nunes, um dos melhores em campo, invadiu a área e finalizou na saída do goleiro Mateus, depois de novo cochilo da zaga do Papão. A partir daí, entrou em cena o mesmo time nervoso e estabanado das derrotas para América-MG e Avaí na Curuzu.
A torcida, ciente de seu papel, manteve os incentivos. Vagner Benazzi, que havia feito a burrada de escalar Diego Barbosa, acertou em cheio lançando Djalma no lugar de Careca. O meia-atacante entrou com a vontade e a velocidade que faltavam aos demais jogadores – principalmente a Eduardo Ramos, quase andando em campo. Correria era justamente o que menos interessava ao Oeste, já castigado pelo calor desde os primeiros minutos.
Foi Djalma o responsável por incendiar o jogo, avançando pelos lados do campo e puxando os melhores ataques do Paissandu. No lance do gol de Pablo, participou ativamente da jogada que originou o escanteio. Graças a ele, o time readquiriu a confiança e desceu para o intervalo aplaudido pela torcida.
Na base da pressão, o Papão chegou a rondar a área do Oeste no segundo tempo, mas esbarrava na falta de pontaria e na lerdeza dos meias Ramos e Barbosa. E o Oeste voltou a crescer e a ameaçar. Em manobra pela esquerda, Bruno Nunes cruzou para a área e o atacante Lelê desviou mansamente para as redes. Novo apagão da dupla Sanches e Leonardo, campeã de trapalhadas na partida.
Como não tinha mais nada a perder, Benazzi lembrou de Héliton e finalmente tirou Barbosa. Era o que o Paissandu precisava para ir à frente de vez. Djalma aproveitou o desgaste físico dos marcadores e mostrou desassombro ao tirar um pênalti da cartola, aos 35 minutos. Nicácio bateu e diminuiu.
Foi dele também o disparo na trave que levantou a torcida aos 40 minutos, mostrando que o empate ainda era possível. Veio, então, a lambança da zaga do Oeste, como que para não ficar atrás dos beques do Papão. Chutão na direção da área, o goleiro saiu mal e estourou com Héliton, deixando a bola livre para Nicácio mandar para as redes.
A igualdade estava decretada, dando tintas mais justas a um jogo dramático. Um consolo para o torcedor, que só a caminho de casa deve ter se dado conta de que o resultado – mesmo honroso – havia sido extremamente negativo. Mas, como diria aquele antigo apresentador de TV, o importante é que a nossa emoção sobreviva.
Empate com leituras diferentes
Djalma e Vânderson saíram frustrados com o 3 a 3, pois jogaram o suficiente para vencer. Para Pablo e Nicácio, o escore ficou de bom tamanho. Para Eduardo Ramos e Diego Barbosa, o empate foi muito além do que mereciam. (Fotos: MÁRIO QUADROS/Bola)
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Campeão sem direito a festejos
O Cruzeiro, legítimo campeão da temporada, experimenta as agruras de um título conquistado em campeonato de pontos corridos. Vai festejar a conquista longe de sua torcida, impedido de ter a glória de uma final de verdade. Se é justíssimo no reconhecimento dos méritos, a fórmula de pontos corridos é um desastre quanto à capacidade de emocionar.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 11)