O passado é uma parada…

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Trecho da antiga avenida 15 de Agosto (hoje Presidente Vargas), esquina com a rua Aristides Lobo, no começo do século passado. À direita, aparece uma casa onde tempos depois seria erguida a sede da agência central dos Correios. O prédio à esquerda continua de pé, firme, até hoje. (via http://nostalgiabelem.blogspot.com.br/)

O procurador que apostou na blindagem errada

Por Luis Nassif

A enrascada em que se meteu o procurador da República Rodrigo De Grandis se deve à sua aposta na blindagem errada: julgou que o PSDB fosse um todo homogêneo e não se deu conta de que a blindagem da mídia beneficiava exclusivamente o grupo ligado ao ex-governador José Serra. A primeira prova de fogo de De Grandis foi a Operação Satiagraha. Nela, os principais atores – juiz Fausto De Sanctis e delegado Protógenes Queiroz – foram alvos de uma campanha implacável – da mídia, como um todo, reforçada pelo Ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes.

mainardigrandisDe Sanctis e Protógenes mostraram estrutura psicológica para resistir ao massacre a que foram submetidos. De Grandis encolheu-se, assustou-se. Quando a Satiagraha recrudesceu,  seus parceiros apontavam para seu pouco entusiasmo, o desagrado de ser interrompido em alguma festa para tomar alguma medida urgente, a demora em responder a algumas questões, nada que o comprometesse mas que já demonstrava seu desconforto de enfrentar empreitada tão trabalhosa – que, para procuradores mais vocacionados, poderia ser o desafio da vida.

Definitivamente, De Grandis não tinha a estrutura psicológica e a vocação dos que se consagraram no combate ao crime organizado, como os procuradores Vladimir Aras, Raquel Branquinho, Luiz Francisco, Celso Três, Janice Ascari e Ana Lúcia Amaral – firmes e determinados, alguns até o exagero, como várias vezes critiquei.

O convite inacreditável a Mainardi

Na primeira vez que foi alvo de ataques, De Grandis arriou. Ocorreu quando o colunista de Veja Diogo Mainardi avançou além da prudência e anunciou que entregaria pessoalmente ao juiz da Operação Chacal (na qual Dantas era acusado de grampear adversários e jornalistas) o relatório da Itália sobre as escutas da Telecom Italia. Titular do caso, a procuradora Anamara Osório reagiu e publicou nota no site do Ministério Público Federal de São Paulo alertando que se tratava de um jogo de Dantas para contaminar o inquérito. Sem noção, Mainardi partiu para ataques destrambelhados contra os procuradores. Depois, caiu a ficha e entrou em pânico.

Dias depois, foi recebido por De Grandis, através da intermediação de um colega de faculdade ligado à ex-vereadora Soninha – do grupo de Serra. Foi um encontro surpreendente. Numa ponta, um colunista assustado – conforme algumas testemunhas do encontro -, quase em pânico, querendo desfazer a má imagem perante os procuradores. Na outra ponta um procurador assustado, querendo desfazer a má imagem junto à mídia.

Foi provavelmente ali que De Grandis sentiu a oportunidade de se aproximar dos detratores e proteger-se do fogo futuro. Convidou Mainardi para palestrar em um encontro social de procuradores, avalizando – perante a classe – a conduta de um dos principais suspeitos de atuação pró-Dantas. Só não ocorreu o encontro por falta de agenda de Mainardi.

As mudanças na atuação

A partir daquele episódio, surgem os sinais mais nítidos da aproximação de De Grandis com o grupo Serra. Quando a Operação Satiagraha foi anulada pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça), De Grandis recorreu, como não poderia deixar de fazer, mas chamou a atenção sua indiferença contra uma medida que comprometia o que procuradores mais vocacionados considerariam o trabalho de sua vida.

Tempos depois, recusou pedido da Polícia Federal para indiciar o vereador Andreá Matarazzo – também do grupo Serra. Devolveu o inquérito solicitando mais informações para tomar sua posição. Poderia ser apenas rigor técnico, não fossem os fatos posteriores.

Foi apanhado no contrapé quando a revista IstoÉ mencionou os pedidos de procuradores suíços para atuar contra suspeitos do caso Alstom – dentre os quais José Ramos, figura-chave da história. Alegou ter esquecido o pedido em uma pasta errada. Agora, a Folha informa que o próprio Ministério da Justiça enviou três cobranças, os procuradores paulistas também o questionaram, e nada foi feito.

O erro de avaliação

Há vários pontos a explicar seu comportamento. O primeiro, o da análise incorreta do benefício-risco. A Satiagraha revelou, em sua amplitude, o risco de atuar contra pessoas próximas a Serra. Se fosse a favor, haveria blindagem. E a comprovação foi o próprio comportamento do ex-Procurador Geral da República Antônio Fernando de Souza. Ele retirou da AP 470 o principal financiador do mensalão – as empresas de telefonia controladas por Dantas -, escondendo dados levantados pelo inquérito da Polícia Federal. Foi premiado com contratos milionários da Brasil Telecom, e continuou vivendo vida tranquila.

Antes disso, o mesmo Antônio Fernando anulou a Operação Banestado, em uma atitude escandalosa que não mereceu uma reação sequer da corporação dos procuradores, menos ainda da mídia. Depois, o ativismo político de Roberto Gurgel, comprometendo a imagem de isenção da corporação e garantindo aos inimigos, a forca, aos aliados, a gaveta. Com tais exemplos, De Grandis deve ter apostado que, ficando longe dos esquemas tucanos, seria poupado pela mídia.

A falta de informação lhe custou caro.

A blindagem da mídia abrange exclusivamente o esquema Serra – uma estrutura complexa que passa pelo banqueiro Daniel Dantas, por Verônica Serra, por lugares-tenentes como Andrea Matarazzo, Gesner de Oliveira, Mauro Ricardo, Hubert Alqueres (e seu primo José Luiz), antes deles, por Ricardo Sérgio, Vladimir Riolli, pelos lugares-tenentes que levou ao Ministério da Saúde, pelos esquemas de arapongagem. Não entram na blindagem outros grupos tucanos, como o do governador paulista Geraldo Alckmin ou os mineiros de Aécio. Pelo contrário, não poucas vezes são alvos de fogo amigo.

Ao não se dar conta dessas nuances, De Grandis se expôs. Agora ficou sob fogo cruzado do PT e no grupo de Serra.

O PT, para atingir o PSDB; o grupo de Serra para fornecer mais elementos para Dantas anular a Satiagraha no Supremo Tribunal Federal. O primeiro grupo ataca De Grandis da Operação Alstom; o segundo, o De Grandis que não mais existia, da Satiagraha.

Entre a desambição e o caos

Por Gerson Nogueira

bol_sab_021113_11.psUm conjunto de fatores pode ser utilizado para justificar o mau passo do Paissandu, ontem à noite, na Arena Joinville. O mais fácil é a atuação do confuso trio de arbitragem, que inverteu marcações e deixou de assinalar um pênalti contra os donos da casa aos 44 minutos do segundo tempo. Mas é preciso reconhecer que esses detalhes, embora importantes, não explicam por inteiro a derrota.

O principal problema foi a preocupação em empatar e o caos defensivo. O time entrou excessivamente recuado, atraindo o JEC para o seu campo e aceitando a intensa pressão do adversário. Logo no primeiro minuto, o zagueiro Diego cabeceou uma bola no travessão e fez ataques fulminantes. Do lado bicolor, Eduardo Ramos acertou um chute na trave, e ficou nisso nos primeiros 35 minutos.

Nesse período, o Joinville foi mais organizado e agressivo. Fez dois gols, perdeu mais uns três e se tranquilizou. Ficou tão tranquilo que acabou se descuidando e sofreu dois grandes sustos aos 41 e 42 minutos. Marcelo Nicácio, Careca e Leonardo perderam chances claras.

Quando tudo fazia crer que o ensaio de reação do final do primeiro tempo seria concretizado na etapa final, o técnico Vagner Benazzi optou por se abraçar à cautela e manteve a mesma escalação, prejudicada pelas atuações desastrosas de Alex Gaibú na lateral esquerda e de Artur e Jailton no meio-de-campo.

Só se convenceu a fazer mudanças depois que o JEC chegou ao terceiro gol, com Wellington Bruno, após bola cruzada na área e não interceptada pelos 300 zagueiros e volantes ali posicionados. Djalma entrou no lugar de Jailton e deu nova dinâmica ao setor de ligação, liberando Eduardo Ramos para se aproximar dos atacantes.

Como consequência, o Paissandu passou a empreender ataques mais elaborados, conseguindo acuar o Joinville pela primeira vez no jogo. Aos 24 minutos, Leonardo fez o primeiro gol, de cabeça. Héliton substituiu Nicácio e, seis minutos depois, Artur fez sua melhor participação em campo: lançou Careca e este, também de cabeça, desviou para as redes. O novo placar botava pressão nos donos da casa e reabria as esperanças do Papão.

Pena que logo a seguir o Joinville marcou o quarto gol e matou o jogo. O lance, muito questionado pelos bicolores, começou com a marcação de um escanteio, que o auxiliar interpretou como tiro de meta. Na sequência, Carlos Alberto chutou duas vezes e Pikachu ainda desviou com o braço.

A marcação gerou reclamações e xingamentos, resultando na expulsão do técnico Vagner Benazzi. Curioso é que Pikachu, mesmo tocando na bola quando o gol já tinha sido marcado, recebeu cartão amarelo pelo gesto.

Antes do apito final, o pernambucano Cláudio Mercante ainda cometeu outra lambança: ignorou um pênalti cometido pela zaga do Joinville após chute de Héliton. A bola bateu no braço do zagueiro e desviou a trajetória.

Apesar de razões de sobra para protestar contra os erros do árbitro, o Paissandu não pode (nem deve) ignorar seus próprios pecados. E eles foram superiores ao do atrapalhado apitador.

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Números não justificam goleada

Os números da partida traduzem certo equilíbrio no confronto. Paissandu e JEC chutaram muito a gol, com ligeira vantagem dos catarinenses nos tiros certos: 9 a 7. Na posse de bola, o Papão levou a melhor, com 54% a 46%. Foi superior também nos escanteios – 9 a 6 – e nos passes errados, com 30 a 28. O tricolor catarinense também cometeu mais faltas, 19 a 13.

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Novela em torno do Mangueirão

Como se já não bastasse a delicada situação na tabela de classificação, o Paissandu de repente é envolvido em outra situação desfavorável: terá que adiar ou antecipar seu jogo com o Oeste (previsto para o dia 9) por força de um problema inesperado. Nessa data, o Mangueirão será palco dos Jogos Escolares da Juventude, evento do Comitê Olímpico Brasileiro marcado há mais de um ano.

Várias gestões foram feitas, mas o COB não abre mão das datas de 7 a 9. Como teve a Curuzu interditada depois do tumulto provocado por torcidas organizadas na partida contra o Avaí, o Paissandu viu-se obrigado a mandar seus jogos no Mangueirão.

Diante do impasse, é provável que precise adiar seus jogos contra Oeste e Palmeiras (dia 12), submetendo-se ao risco extra de vir a perder mandos de campo no julgamento do dia 6, no STJD. Teria, então, que fazer fora de Belém os três jogos que lhe restam em casa.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste sábado, 02)