Kennedy: o mito sobrevive 50 anos depois

Do Opera Mundi

A queda de um mito. Esta é uma frase clássica nos EUA para explicar como a morte de John Fitzgerald Kennedy afetou o país em 22 de novembro de 1963. “Qualquer que fosse o desastre natural”, disse o cronista Gay Talese, teria tido um efeito menos catastrófico que o assassinato do presidente. A razão? O jovem democrata, morto aos 46 anos foi responsável pelas ideias mais notórias acerca de questões sociais, econômicas e políticas no século XX na América do Norte, de acordo com historiadores e especialistas. Todavia, 50 anos depois, ainda restam controvérsias sobre o seu legado.

John F. Kennedy

A discussão é que, em vez de políticas públicas, o carisma e a energia com que Kennedy apresentava suas opiniões, somados às conspirações e aos contornos dramáticos de sua morte, teriam transformado o democrata em mito – que persiste, mesmo há 50 anos do fatídico disparo em Dallas, Texas. Diversos críticos de sua gestão afirmam que o norte-americano era muito mais um personagem, inspirado em heróis do cinema, do que um governante, capaz de desenvolver soluções para a problemática da sociedade.

“Kennedy teve acertos e erros na sua administração, assim como todos os outros presidentes dos EUA. No entanto, seus discursos cativantes e o seu carisma fizeram com que, no momento de sua morte, ele alcançasse nível de herói”, afirmou o jornalista Seymour Hersh, 76 anos, em entrevista recente. Hersh é autor do livro “O lado negro de Camelot”  – uma das obras mais controversas sobre Kennedy, contestando a verdadeira face do presidente.

Embora a agenda de Kennedy tenha abordado temas complexos da problemática social e econômica dos EUA, cientistas políticos contestam a eficácia do seu trabalho. Muitos afirmam, inclusive, que seu sucessor, Lyndon Johnson, foi quem realmente conseguiu executar os seus planos.
“Aqueles que estudam sua gestão como presidente constatam que, embora tenha tido um grande talento e representasse uma enorme esperança para os norte-americanos, suas conquistas reais em matéria legislativa e diplomática foram extremamente reduzidas”, afirma o professor Jeffrey Engel, da Southern Methodist University, de Dallas, em entrevista à agência AP.

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O fato, no entanto, é que são poucos os norte-americanos que não colocam Kennedy entre os maiores de todos os tempos. O consenso nos EUA é que um conjunto de fatores auxiliou na promoção da ideia do “presidente herói”.

O principal deles é que os fatos negativos de sua administração, como graves crises no sistema de saúde ou a política intervencionista na América Latina, foram esquecidos pela sua morte trágica – com um tiro na nuca. Assim, a lembrança positiva dos discursos emocionantes diante de milhares de pessoas ficou perpetuado no imaginário da população.
No entanto, Kennedy teve seus méritos, governando o país também em um dos períodos mais conturbados do século XX, a Guerra Fria. Ele exerceu papel chave durante a crise dos mísseis na ilha de Cuba. Para Jeffrey Engel, foi “o momento mais perigoso para a sobrevivência global e Kennedy mostrou-se um calmo, ainda que não perfeito, gestor de crises, conseguindo no final o que ele precisava – a retirada dos mísseis soviéticos de Cuba – a um baixo custo diplomático”, disse Engel. Kennedy também teve atuação decisiva para a aprovação da Lei dos Direitos Civis, recebendo Luther King Jr. e outros líderes negros na Casa Branca.

Velho oeste caolho

Por Daniel Malcher

Joaquim Barbosa é ministro do STF que, sim, é um órgão colegiado. Contudo, sua interpretação dos fatos, à luz da jurisprudência por óbvio, remataram as sentenças dos petistas proferidas por seus pares no processo do Mensalão, muito embora a tese do “domínio do fato”, balizadora que foi das condenações, tenha sido alvejada por contestações e acalentadas por defesas desferidas por renomados juristas, o que a torna no mínimo controversa.
Mas o que se deve colocar sob a alça de mira de nossos argutos olhares não são as filigranas dos trabalhos no interior dos tribunais, nem mesmo seus métodos. Afinal, detalhes passam a ser apenas meros detalhes quando até o mais humilde cidadão deste Brasil sabe que nossos doutores, togados ou não, muitas vezes são os primeiros a violarem “iluministicamente” os artigos de nossa Magna Carta. Sabemos ainda que nosso sistema jurídico legitima contradições e distorções que o são imanentes, cheios de incorreções e vícios sine qua non.

Como se consagrou ultimamente na crônica esportiva, abrasileirando-se o provérbio de tintas orientais, perdemos tempo olhando para o dedo que aponta para a floresta ao invés de percebermos o quão frondosas são as árvores. Este é, de fato e de direito (hummm…), o ponto crucial que merece toda a nossa atenção: a construção do discurso informada a partir de questionamentos. Perguntemos pois: como não enxergar que o processo do Mensalão foi conduzido de uma forma a satisfazer certos setores que respondem, de forma ilegítima, cínica e pretensiosa, pela “opinião pública” nacional ou pela “sociedade brasileira”, como se estes últimos fossem? Como não enxergar que os ministros do STF, indicados pelo governo ora instalado em Brasília, também tem pendores ideológicos e políticos? Por acaso são autômatos, ciborgs da objetividade desprovidos de paixões mesmo as mais cândidas?
É o rir que dá pra chorar. E não falo da piada de mal gosto de que Dirceu e Genoíno são presos políticos. Se o STF condenou membros de um partido político que susta o governo central, indicador dos magistrados que compõem a mais alta corte do país, diriam os mais otimistas – e até os mais cínicos – que trata-se enfim de um judiciário independente. Mas este mesmo STF não julga e não fustiga casos tão ou mais venais contra o erário público, igualmente não republicanos e que também representam “projetos de poder que solapam nossas instituições democráticas e nossos sentimentos mais republicanos”. Diriam outros e com razão que a mais alta corte pode ser tudo, menos isenta. E entre uma corte que pretende-se independente ao mirar em quem lhe fornece quadros e um tribunal que mostra desleixo com a isenção ao negligenciar alvos de volumosas felpas, há de tudo um pouco: banqueiro, bicheiro, jornalista-espião-chantagista, trensaleiro, mensaleiro sabor queijo minas e assassinos de religiosos e camponeses.
Nossos xerifes do STF, sobretudo o mais notório deles, andam ruins de mira. Atiram apenas na direção do saloon do outro lado da rua, em frente, ora é mais novo e mais barulhento! O pardieiro ao lado, velha guarda de prestimosos serviços em nome da bandalheira à moda brasilis? Ah, deixa pra lá! Este será tombado por representar tão bem – e fidedignamente! – o nosso velho oeste tropical.

Há 50 anos saía “With The Beatles”

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Por Jamari França

Há 50 anos, no dia 22 de novembro de 1963 (mesmo dia do assassinato do presidente John Kennedy),  saía na Grã-Bretanha With The Beatles, LP da banda de Liverpool que, àquela altura, já tinha a ilha aos seus pés graças ao sucesso do LP de estreia, Please Please Me, lançado em 22 de março e ainda em primeiro lugar, e de três singles, Please Please Me, From Me To You e She Loves You. O disco saiu com encomenda de 250 mil cópias, o que desalojou o anterior do topo da parada, e foi a primeira vez que um LP saiu sem ser alavancado por um single de sucesso. Mais que isso, uma semana depois a banda lançou o single I Want To Hold Your Hand, que não estava no álbum, com um milhão de cópias previamente vendidas. O álbum passou de 500 mil nas 21 semanas em primeiro lugar.
Tudo isso era inédito na história musical britânica. Naquele ano, os Beatles deixaram de ser uma banda que tocava em clubes de Hamburgo, Alemanha, e num porão suarento em Liverpool, o Cavern, para se tornarem o maior nome do show business britânico. Executivos de gravadoras que menosprezaram aquele conjuntinho que vinha de uma cidade nortista ridícula, como encaravam Liverpool, inundaram a cidade dispostos a contratar qualquer banda, atrás dos novos Beatles (mal sabiam que a próxima grande atração estava nos arredores de Londres, The Rolling Stones).

(Antes do primeiro lugar de Please Please Me, quando George Martin anunciou numa reunião dos diretores da EMI e de seus selos que ia lançar uma banda de rock de Liverpool a gozação foi geral, não acreditavam no futuro de bandas e muito menos de Liverpool Como o selo Parlophone, de Martin, gravava discos de comédia sacanearam ele dizendo que era mais um de piadas. Os diretores da EMI e do selo Columbia haviam rejeitado os Beatles.)
Quando o single Please Please Me, lançado em 11 de janeiro, chegou ao primeiro lugar em 22 de março, a euforia foi geral, mas Martin temeu que fossem apenas banda de um sucesso só, como tantos outros nomes antes. Mas ele reconheceu a força do repertório deles quando produziu o primeiro disco, bem diferente do padrão vigente que era uma música de sucesso e um monte de faixas escritas por compositores profissionais. Os dois sucessos da banda àquela altura, o menor Love Me Do (número 18 nas paradas) e Please Please Me, eram composições originais. E o primeiro LP tinha oito músicas da banda e seis de artistas americanos pouco ou nada conhecidos na Inglaterra.

Em 1963 percorreram a ilha várias vezes de cima a baixo: Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda, a princípio em caravanas de várias atrações como mais uma delas, mas o sucesso crescente os impulsionou para o topo da lista, ou seja, para fechar a noite. Até o famoso cantor americano Roy Orbison, estrela de uma das caravanas, se viu relegado ao segundo lugar.
Os contratantes se viram subitamente beneficiados com o fato de terem contratado os Beatles por cachês baratos quando pouco conhecidos, tipo 80 libras, e faturaram alto com o sucesso deles. Mas logo saíram sozinhos com cachês de 600 libras e subindo. Mesmo com a banda já valorizada, o empresário Brian Epstein não tentou renegociar, ele honrou os compromissos contratados a preços baixos. Os shows na época tinham no máximo 30 minutos e com frequência faziam dois numa noite.

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A grande imprensa tomou conhecimento do fenômeno perplexa, sem entender nada. Quatro cabeludos com guitarras cantando músicas estridentes levavam garotas ao auge da loucura, berrando desesperadamente a ponto de encobrir o que tocavam. A música ouviam em casa, ao vivo o interesse era físico, nos quatro Beatles, de quem tentavam se aproximar a todo custo. As mais bonitas até podiam conseguir: roadies da banda sempre selecionavam algumas para levar ao hotel para serem traçadas pelos quatro e, às vezes, até mesmo em bastidores, banheiros ou qualquer canto disponível nos teatros e ballrooms.

A imprensa conservadora os via como maus exemplos, mas todos tiveram que se curvar depois da apresentação diante da nobreza no Royal Command Variety Performance (ver post anterior) a 4 de novembro. O Daily Mirror os saudou como “maluquinhos, barulhentos, felizes e elegantes”: “Eles são jovens e uma novidade. Nada daqueles cantores românticos com suas interpretações chorosas e rasas. Os Beatles são excêntricos, os cabelos são longos, mas bem limpos, e não precisam fazer piadas de mau gosto para agradar.”

Em 1963 visitaram apenas um país, a Suécia, com grande sucesso e tinham uma temporada marcada para o Olympia de Paris de 16 de janeiro a 4 de fevereiro de 1964 com oito outros artistas, incluindo a cantora Sylvie Vartan e o cantor americano de ascendência mexicana Trini Lopez. Assinaram um contrato para o primeiro filme, A Hard Day’s Night, a ser rodado no primeiro semestre de 1964 com cachê de 25 mil libras e os produtores queriam fazer logo para aproveitar o sucesso. Temiam que não durasse muito.
O segundo LP foi gravado a partir de abril nos intervalos entre uma turnê e outra. O repertório tinha sete canções de Lennon e McCartney, uma de George Harrison e seis de artistas americanos, alguns desconhecidos na Inglaterra, como o quarteto vocal feminino The Donays, do single Devil In His Heart que George Harrison conheceu e levou para o disco.

O disco anterior foi gravado num único dia. O segundo teve mais tempo para aperfeiçoar as canções, embora poucas tenham dado trabalho porque eram do repertório de estrada e foram rapidamente registradas. Houve casos como as duas sessões do dia 30 de julho, quando gravaram seis canções em 10 horas e meia e ainda saíram no começo da tarde para gravar o programa Saturday Club, da BBC. A gravação foi em apenas dois canais, mas usavam dois gravadores para abrir espaço para os overdubs (acréscimos de voz e instrumentos sobre o take final). As gravações foram no estúdio dois, edições e mixagens nos estúdios um e três da EMI.
Os Beatles usaram os mesmos instrumentos para quase todas as faixas do LP. John Lennon fez as bases com uma guitarra Rickenbacker 325, de 1958. Paul tocou seu baixo elétrico em forma de violino Hofner 500\1 de 1952 e o piano Steinway Vertegrand 1905 em Little Child. George Harrison a guitarra Gretsch Country Gentleman 6122, de 1962 e Ringo a bateria Black Oyster Pearl da Ludwig, de 1963. John usou o violão Gibson J160E, de 1964 e Harrison o violão José Ramirez Classical, de 1950, em Till There Was You. John tocou o violão Gibson J 160E, de 1952 em Not a Second Time. O produtor George Martin tocou o piano Steinway Vertegrand 1905 em Not A Second Time, Money e You Really Got a Hold On Me, além de órgão Hammond B-3 em I Wanna Be Your Man. John usou amplificadores Vox AC-15 e AC-30, George Vox AC-30 e Paul Vox AC-50.

A capa sofreu oposição dentro da gravadora por ser uma foto em preto e branco com parte do rosto de cada um na sombra e expressões sérias, o que contrariava o padrão de capa colorida com o artista sorrindo. Os Beatles usaram como modelo as fotos artísticas que a fotógrafa alemã Astrid Kirchherr fazia deles em Hamburgo. Quando foram tocar lá, atraíram um grupo de fãs intelectuais e Astrid ficou amiga da banda e namorou o então baixista Stuart Sutcliffe. A ela se atribui também o corte de cabelo dos quatro.

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Bran Epstein contratou o conceituado fotógrafo Robert Freeman porque gostou de uma série em preto e branco dele com músicos de jazz. A foto foi clicada em 22 de agosto de 1963 num corredor do Palace Court Hotel em Bournemouth, cidade litorânea do Sul da Inglaterra onde a banda fazia uma temporada de seis dias no Gaumont Cinema. Freeman conta que a foto tinha que se adequar ao formato quadrado da capa, por isso colocou Ringo, o último a entrar, embaixo. Ele também fez as capas de Beatles For Sale, Help e Rubber Soul. Na contracapa os quatro sorridentes naqueles paletós sem gola e um texto de apresentação do assessor de imprensa Tony Barrow.
Este álbum seria lançado em 20 de janeiro de 1964 na América pela Capitol com um repertório diferente. No Brasil saiu pela Odeon como Beatlemania com repertório diferente do inglês e do americano. As informações estão disponíveis na internet pelos títulos.

O maior PIB do futebol mundial

Por Gerson Nogueira

O que dá pra rir às vezes também dá pra chorar. Com os 32 países já definidos para a Copa do Mundo de 2014, valorizada ainda mais pela confirmada participação de todas as seleções campeãs – Brasil, Alemanha, Itália, Uruguai, Argentina, Inglaterra, França e Espanha –, já é possível contabilizar também perdas importantes no plano individual.

Já havia falado aqui sobre a maior de todas, a do craque Zlatan Ibrahimovic, vitimado junto com a sua Suécia pelo apetite avassalador de Cristiano Ronaldo. Astro do PSG, Ibra vale 69 milhões de euros. Goleador de altíssimo nível, Ibra joga muita bola, mas não conseguiu classificar sua seleção.

unnamed (7)Além de Ibra, há o jovem galês Gareth Bale, que se transferiu do Tottenham para o Real Madrid por 92 milhões de euros naquela que é a segunda maior transação no futebol em todos os tempos. País de Gales ficou nas eliminatórias europeias e o Brasil não verá Bale em ação.

Outro astro de primeira grandeza, o tcheco Petr Cech, arqueiro titular do Chelsea há várias temporadas, também não conseguiu garantir passaporte para o Brasil. É o mesmo caso de outro ídolo europeu, o artilheiro polonês Robert Lewandowski, estrela do Borussia Dortmund e alvo da cobiça dos grandes clubes do continente.

Em contrapartida, o mundial do próximo ano terá como atração craques de primeira linha, como o português Cristiano Ronaldo (94 milhões de euros), o argentino Lionel Messi e o brasileiro Neymar.

Clubes do porte do Bayern de Munique, campeão europeu, cederão ao torneio pelo menos 9 de seus badalados titulares. Além de ser base da seleção alemã, mandará aos gramados brasileiros o holandês Robben e o francês Ribéry. O Barcelona segue a mesma trilha, sendo representado na Copa por oito atletas.

Por mais que Ibra, em mais um acesso de imodéstia, tenha dito que a Copa não será a mesma sem ele, penso que o torneio terá nível técnico elevado e a promessa de clássicos memoráveis já a partir das oitavas de final. Duvido que alguém sinta falta do sueco falador na grande festa, que muitos brasileiros ainda insistem em desdenhar.

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Uma ausência providencial

A lista dos relacionados pelo técnico Vagner Benazzi para o jogo decisivo de amanhã contra o Bragantino trouxe uma surpresa. Lesionado, o centroavante Marcelo Nicácio, segundo maior goleador do Papão na Série B, é desfalque certo na escalação.

Em jogo que será certamente muito tenso, o destino moveu suas pedras no tabuleiro para que Nicácio não se reencontre com a torcida alviceleste, ainda agastada com o xingamento a ela dirigido pelo jogador durante a partida contra o Palmeiras.

Cabe também considerar os riscos de uma reação mais violenta por parte da massa em caso de um resultado desfavorável no Mangueirão. Por esse ponto de vista, a lesão que afasta o atleta termina por ser das mais convenientes a essa altura.

Ainda no campo dos desfalques, o próprio Benazzi já é carta fora do baralho para o confronto da última rodada contra o Sport, no Recife. Ele foi condenado no STJD a seis jogos de suspensão pelos incidentes, seguidos de expulsão, em Joinville.

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Campeões de valorização

Caso dinheiro realmente traga felicidade, o hexa já pode começar a ser comemorado. Estudo divulgado ontem pela consultoria Pluri indica que a Seleção Brasileira é a campeã em valorização financeira, atingindo a estimativa de R$ 1,55 bilhão. Uma montanha de dinheiro justificada pela presença de inúmeros craques no elenco. A atual campeã, Espanha, vem apenas alguns milhões abaixo, com R$ 1,53 bilhão, seguida da Argentina, com R$ 1,44 bilhão. Seria este o pódio final do torneio?

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 22)

Show de erros

Por Janio de Freitas, na Folha e no DIÁRIO
O estado de Genoino já era conhecido quando Joaquim Barbosa determinou que o sujeitassem à viagem
No primeiro plano, o espetáculo criado para a TV (alertada e preparada com a conveniente antecedência) mostrou montagem meticulosa, os presos passando pelos pátios dos aeroportos, entrando e saindo de vans e do avião-cárcere, até a entrada em seu destino. Por trás do primeiro plano, um pastelão. Feito de mais do que erros graves: também com o comprometimento funcional e moral de instituições cujos erros ferem o Estado de Direito. Ou seja, o próprio regime de democracia constitucional.
Os presos na sexta-feira, 15 de novembro, foram levados a exame de condições físicas pela Polícia Federal, antes de postos em reclusão. Exceto José Genoino, que foi dispensado, a pedido, de um exame obrigatório. Experiente, e diante de tantas menções à saúde inconfiável de José Genoino, o juiz Ademar Silva de Vasconcelos, a quem cabem as Execuções Penais no Distrito Federal, determinou exame médico do preso. Era já a tarde de terça-feira, com a conclusão de que Genoino é portador de “doença grave, crônica e agudizada, que necessita de cuidados específicos, medicamentosos e gerais”.
José Genoino não adoeceu nos primeiros quatro dias de sua prisão. Logo, deixá-lo esses dias sem os “cuidados específicos”, enquanto aqui fora se discutia se é o caso de cumprir pena em regime semiaberto ou em casa, representou irresponsável ameaça a uma vida –e quem responderá por isso?
A rigor, a primeira etapa de tal erro saiu do Supremo Tribunal Federal. A precariedade do estado de José Genoino já estava muito conhecida quando o ministro Joaquim Barbosa determinou que o sujeitassem a uma viagem demorada e de forte desgaste emocional. E, nas palavras de um ministro do mesmo Supremo, Marco Aurélio Mello, contrária à “lei que determina o cumprimento da pena próximo ao domicílio”, nada a ver com Brasília. O que é contrário à lei, ilegal é. O Conselho Nacional de Justiça, que, presidido por Joaquim Barbosa, investe contra juízes que erram, fará o mesmo nesse caso? Afinal, dizem que o Brasil mudou e acabou a impunidade. Ou, no caso, não seria impunidade?
Do mesmo ministro Marco Aurélio, além de outros juristas e também do juiz das Execuções Penais, veio a observação que localiza, no bojo de mais um erro gritante, parte do erro de imprevidência temerária quanto a José Genoino. Foi a já muito citada omissão da “carta de sentença”, que, se expedida pelo ministro Joaquim Barbosa, deveria anteceder o ato de reclusão. E só chegou ao juiz competente, para instruí-lo, 48 horas depois de guarda dos presos.
Com a “carta de sentença”, outra comunicação obrigatória deixou de ser feita. Só ocorreu às 22h de anteontem, porque o destinatário dissera às TVs não ter o que providenciar sobre o deputado José Genoino, se nem fora comunicado pelo Supremo da decisão de prendê-lo. Presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves vai submeter a cassação do deputado ao voto do plenário, e não à Mesa Diretora como uma vez decidido pelo Supremo. Faz muito bem.
Mas o Ministério da Justiça tem mais a dizer. E sobretudo a fazer. O uso de algemas durante o voo dos nove presos transgrediu a norma baixada pelo próprio ministério, que só admite tal imobilização em caso de risco de resistência ou fuga. Que resistência Kátia Rabello, Simone Vasconcelos, José Genoino poderiam fazer no avião? E os demais, por que se entregariam, como fizeram também, para depois tentar atos de resistência dentro do avião? Além de cada um ter um agente no assento ao lado. 
O uso indevido de algemas, que esteve em moda para humilhar empresários, é uma arbitrariedade própria de regime policialesco, se não for aplicado só quando de fato necessário. Quem responderá pela transgressão à norma do próprio Ministério da Justiça?
Com a prisão se vem a saber de uma violência medieval: famílias de presos na Papuda, em Brasília, precisam dormir diante da penitenciária para assegurar-se, no dia seguinte, a senha que permita a visita ao filho, ao pai, marido, mulher. Que crime cometeram esses familiares para receberem o castigo desse sofrimento adicional, como se não lhes bastasse o de um filho ou pai na prisão?
Medieval, é isso mesmo a extensão do castigo à família. Na Brasília que diziam ser a capital do futuro. Assim até fazem sentido a viagem ilegal dos nove para Brasília, as algemas e outros castigos adicionais aplicados a José Genoino e outros. E que vão continuar.