Por Gerson Nogueira
A grande notícia do fim de semana do futebol, além da chegada do surpreendente Atlético-PR ao segundo lugar na Série A, diz respeito a um paraense. Paulo Henrique Ganso voltou a jogar em bom nível técnico. Não é exatamente novidade dizer isso, pois um craque não desaprende. Mas pode sumir. E o meia-armador do São Paulo parecia ter entrado em período de férias, desde o ano passado.
Contra a Portuguesa, sábado à noite, Ganso confirmou a fase evolutiva com grande atuação. Comandou a meia-cancha, com 40 passes e lançamentos, dois disparos a gol e pelo menos quatro bons dribles, daqueles que merecem assinatura.
Além de dar contribuição decisiva no ataque, Ganso mostrou uma face inteiramente nova. Com cinco desarmes, apareceu também na marcação. Esta última parte do repertório tem clara influência de Muricy Ramalho, um técnico que nutre especial carinho pela segurança defensiva.
Interessante mesmo foi observar que Ganso readquiriu a antiga confiança e parou de se esconder da bola, como vinha ocorrendo desde sua última aparição na Seleção Brasileira, durante a Copa América, ainda sob o comando de Mano Menezes.
A fase atual começa a desafiar os incrédulos e já estimula alguns pedidos (ainda discretos) de convocação para a Copa. O caminho de volta ao escrete ainda é longo e pedregoso, pois não bastará a Ganso jogar muita bola até o começo da próxima temporada.
Deve, acima de tudo, provar a Felipão que pode ser levado a sério como alternativa de qualidade para o quarteto de meio-de-campo. E Felipão, como se sabe, aprecia jogadores que se envolvem com o duplo ofício de atacar e defender.
Por sorte, a Seleção ainda não achou um criador para chamar de seu. Oscar não chega a assombrar com a 10 e o trono ainda está vago. Ganso pode brigar por ele. Com a vantagem de ser um estilista, um armador de perfil clássico, que cultiva gosto especial por lançamentos de 30 metros e passes desconcertantes de calcanhar. No Brasil atual, ninguém faz isso.
Em forma depois de longos períodos de recuperação física, Ganso demonstra estar voltando à superfície. Precisa de continuidade e rendimento estável. Terá mais ou menos três meses para convencer o país de que pode ser o maestro que a Seleção tanto busca. Com o excepcional trunfo de ser o mais acostumado a jogar com Neymar.
————————————————————————-
Oito pecados capitais do Papão
Depois de um sábado generoso em resultados favoráveis, o Paissandu segue a alimentar dúvidas em seus torcedores quanto à possibilidade de salvação. Em meio a isso, surgem os lamentos. Como o do amigo Daniel Malcher, que lista os oito pecados capitais do Papão na competição: os tropeços diante de América-RN (1 a 1 em Paragominas), ASA (1 a 1 em Paragominas), São Caetano (2 a 2 na Curuzu), América-MG (0 a 2 na Curuzu), Icasa (1 a 2 na Curuzu), Atlético-GO (0 a 0 na Curuzu), Boa Esporte (0 a 0 na Curuzu) e Avaí (0 a 2 na Curuzu).
“Enquanto conquistamos apenas 6 pontos fora de nossos domínios, quando exercemos o mando cedemos 19 pontos aos adversários. Se tivéssemos cedido pelos menos a metade, ou seja, entre 9 e 10 pontos, hoje estaríamos possivelmente com 44 ou 45 pontos e praticamente garantidos no certame do próximo ano. Se sempre fomos tímidos e até risíveis fora de Belém, antes éramos um time caseiro, difícil de ser batido e que conquistava entre 85% e 90% dos pontos que disputávamos em casa. Continuamos tímidos fora de nossas fronteiras, mas agora também indolentes ante nossa torcida. Nosso aproveitamento de apenas 60% dos pontos disputados em Belém fala por si”, analisa, certeiro como sempre, Daniel.
————————————————————————-
Outra lambança de um técnico bestial
O jogo entrava naquela fase decisiva, com possibilidades para os dois lados, quando o genial Oswaldinho da Cuíca teve a brilhante sacada: tirou o craque Seedorf e botou o uruguaio Lodeiro. É fato que o holandês não fazia um partidaço, mas de seus pés brotavam os passes mais precisos na zona de ataque. É verdade também que Lodeiro deveria entrar, mas no lugar do jovem e atrapalhado Gegê, que desperdiçou duas oportunidades claras de gol e errou uns 200 passes no meio.
Como o filósofo Muricy disse um dia, a bola pune. O da Cuíca esqueceu que craques são sempre insubstituíveis. Sem lucidez na criação, o Bota, que desfrutou de cinco grandes chances de matar o jogo (duas com o indolente Elias, uma com Rafael Marques e as duas de Gegê), acabou entregando a rapadura no final. Sina cruel deste e de outros campeonatos. E nem adianta reclamar do gol “mão de Deus” de Sasha. Afinal, quem procura, acha.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 04)