Fora do eixo

Por Ricardo Noblat

“Você me acusa de fazer chicana? Peço que se retrate imediatamente.”
Ricardo Lewandowski, do STF, para Joaquim Barbosa

Quem o ministro Joaquim Barbosa pensa que é? Que poderes acredita dispor só por estar sentado na cadeira de presidente do Supremo Tribunal Federal? Imagina que o país lhe será grato para sempre pelo modo como procedeu no caso do mensalão? Ora, se foi honesto e agiu orientado unicamente por sua consciência, nada mais fez do que deveria. A maioria dos brasileiros o admira por isso. Mas é só , ministro.
Em geral, admiração costuma ser um sentimento de vida curta. Apaga-se com a passagem do tempo. Mas, enquanto sobrevive, não autoriza ninguém a tratar mal seus semelhantes, a debochar deles, a humilhá-los, a agir como se a efêmera superioridade que o cargo lhe confere não fosse de fato efêmera. E não decorresse tão somente do cargo que se ocupa por obra e graça do sistema de revezamento.
Joaquim preside a mais alta Corte de justiça do país porque chegara sua hora de presidi-la. Porque antes dele outros dos atuais ministros a presidiram. E porque depois dele outros tantos a presidirão. O mandato é de dois anos. No momento em que uma estrela do mundo jurídico é nomeada ministro de tribunal superior, passa a ter suas virtudes e conhecimentos exaltados para muito além da conta. Ou do razoável.
Compreensível, pois não. Quem podendo se aproximar de um juiz e conquistar-lhe a simpatia, prefere se distanciar dele? Por mais inocente que seja, quem não receia ser alvo um dia de uma falsa acusação? Ao fim e ao cabo, quem não teme o que emana da autoridade da toga? Joaquim faz questão de exercê-la na fronteira do autoritarismo. E, por causa disso, vez por outra derrapa e ultrapassa a fronteira, provocando barulho.
Não é uma questão de maus modos. Ou da educação que o berço lhe negou – longe disso. No caso dele, tem a ver com o entendimento jurássico de que, para fazer justiça, não se pode fazer qualquer concessão à afabilidade. Para entender melhor Joaquim acrescente-se a cor – sua cor . Há negros que padecem do complexo de inferioridade. Outros assumem uma postura radicalmente oposta para reagir à discriminação.
Joaquim é assim se lhe parece. Sua promoção a ministro do STF em nada serviu para suavizar-lhe a soberba. Pelo contrário. Joaquim foi descoberto por um caça talentos de Lula, incumbido de caçar um jurista talentoso e… negro. “Jurista é pessoa versada nas ciências jurídicas, com grande conhecimento de assuntos de Direito”, segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.
Falta a Joaquim “grande conhecimento de assuntos de Direito”, atesta a opinião quase unânime de juristas de primeira linha que preferem não se identificar . Mas ele é negro. Havia poucos negros que atendessem às exigências requeridas para vestir a toga de maior prestígio. E entre eles, disparado, Joaquim era o que tinha o melhor currículo. Não entrou no STF enganado. E não se incomodou por ter entrado como entrou.
Quando Lula bateu o martelo em torno do nome dele , falou meio de brincadeira, meio a sério: ” Não vá sair por aí dizendo que deve sua promoção aos seus vastos conhecimentos . Você deve à sua cor”. Joaquim não se sentiu ofendido. Orgulha-se de sua cor. E sentia- se apto a cumprir a nova função. Não faz um tipo ao se destacar por sua independência . É um ministro independente . Ninguém ousa cabalar-lhe o voto .
Que não perca a vida por excesso de elegância (Esse perigo ele não corre). Mas que também não ponha a perder tudo o que conseguiu até aqui. Julgue e deixe os outros julgarem.

11 comentários em “Fora do eixo

  1. A par de criticar o comportamento absolutamente reprovável do Joaquinzão, o Noblat não perde a oportunidade de alfinetar o Lula. A propósito, se bobear, ainda terá de responder um processo por racismo, tal qual respondeu (e perdeu) O Paulo Henrique Amorim, relativamente ao que disse a respeito de um repórter da Globo, o Heraldo Pereira.

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  2. A par de criticar o comportamento absolutamente reprovável do Ministro, o jornalista não perde a oportunidade de alfinetar o ex-presidente. A propósito, se bobear, ainda terá de responder um processo por racismo, tal qual respondeu (e perdeu) o titular do Conversa Afiada, relativamente à afirmações semelhantes que fez quanto à capacidade profissional de um repórter da chamada vênus platinada, coincidentemente negro. vejamos se assim contorna a moderação.

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  3. O Noblat é um recalcado, não consegue engolir o ex presidente até hoje, e coloca coisa em seus textinhos como se tivesse ouvido o lula falar perto dele, ora Noblat fala do TRENSALÃO.

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  4. Até um jornalista ultraconservador como Noblat, caneta-de-aluguel dos barões da mídia golpista se sentiu incomodado com a arrogância do presidente do STF. Já estava passando da hora do encantamento acabar. Talvez eles estejam caindo na real, e pensando na possibilidade de o feitiço virar contra o feiticeiro, pois o trem descarrilou.

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