Um carnaval de ilusões

Por Gerson Nogueira

Ainda sob os efeitos da descoberta de que o carnaval paraense é hoje o mais trepidante do país, segundo a Polícia Militar, o torcedor começa a perceber que há uma competição à parte se desenrolando neste primeiro turno do Parazão. A porfia envolve exclusivamente o Remo, que se empenha para bater o próprio recorde de contratações – mais de 60 no ano passado.

O esforço não tem sido em vão. Em menos de três semanas da nova temporada o Leão já contabiliza quase a metade de sua impressionante marca. Depois de anunciar Ramon, ex-Flamengo e Náutico, chegou a vez do desconhecido Elivelton, que defendeu o BOA na Série B 2012.

Talvez esses atletas signifiquem a redenção do Remo e acabem por assegurar as conquistas que clube e torcida tanto almejam, mas o bom senso ensina que reforços em excesso costumam causar mais danos que alegrias. A situação é ainda mais nebulosa pelo papel decisivo de empresários e investidores nas transações recentes.

O técnico Flávio Araújo, responsável pela montagem do elenco, já havia dado por encerrado o ciclo de contratações. De repente, antes que as cuícas comecem a roncar, lá está o Remo mergulhado em novas apostas. No caso de Ramon, o clube teve o desassombro de adquirir 30% de seus direitos federativos (avaliados em R$ 10 milhões) sem vê-lo jogar.

Amigo de Ronaldinho Gaúcho, Ramon pode até valer tudo isso, mas é estranho que, com todo esse cacife, tenha vindo parar em Belém do Pará vinculando-se a um clube sem divisão e sem garantia de torneios a disputar. A questão é que estranhos negócios movem hoje o futebol profissional no Brasil, quase sempre com motivos obscuros por trás dos acertos.

Por ora, diante da surpreendente celeridade com que o acordo foi firmado, surge a desconfiança de que o Remo esteja servindo a interesses de agentes e empresários. Difícil é saber até que ponto negócios dessa natureza são válidos para o clube.

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Novos truques de Dick Vigarista

coluna gerson (2)Depois do papelão do canadense Ben Johnson, a confissão de culpa de Lance Armstrong é o mais sério golpe já imposto ao esporte mundial. Todos os que acreditavam naqueles preceitos éticos do barão Pierre de Coubertin devem ter ficado de queixo caído com as declarações do ex-superatleta.

Com a quantidade de substâncias ilegais que Lance ingeriu, a glória e a fortuna estão ao alcance de qualquer cidadão. A revelação pública dos golpes põe por terra a credibilidade de todas as competições, mas cabe observar que a badalada entrevista à TV americana (em duas partes) não deixa de ser mais um truque midiático.

Sem o menor sinal de arrependimento, Lance admitiu à apresentadora Oprah Winfrey que processou tantas pessoas – quase todas inocentes – que até perdeu a conta. O repentino surto de sinceridade do campeão de trapaças é parte de meticulosa estratégia de defesa.

A ideia é obter o perdão – ou abrandamento de penas –, limpar a imagem e manter uma fatia do império montado ao longo da “vitoriosa” carreira. O consolo é que Lance não escapará de uma enxurrada de processos.

Ex-parceiros de negócios, anunciantes, federações e funcionários estão ávidos para acionar juridicamente o espertalhão. Como a Justiça americana não brinca com essas coisas dá para imaginar a montanha de dinheiro que o ciclista terá que desembolsar nos próximos anos.

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Domingo de festa na Curuzu

Depois do tropeço em casa contra o São Francisco, é natural que Lecheva tome todos os cuidados para evitar surpresas diante do Águia. Ainda sem vencer, o time marabaense é um adversário de respeito. Não tem o poderio técnico de outros anos, mas é tradicionalmente um osso duro de roer quando se apresenta em Belém.

Para os bicolores, que ambicionam a liderança do Parazão, o jogo pode confirmar a boa fase de João Neto, artilheiro do time na competição e autor de um golaço contra o Paragominas. Além de finalizador, Neto demonstra ser bom articulador de jogadas, participando dos outros gols do Paissandu no torneio. Outro destaque é o goleiro Zé Carlos, seguro e eficiente na reposição de bola.

Em comparação com os outros novatos – Eduardo Ramos, Diego Bispo e Esdras –, Neto e Zé Carlos estão em ampla vantagem.

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A última grande vitória

No apagar das luzes, Ronaldo Passarinho e Pablo Coimbra, que respondiam pelo Departamento Jurídico do Clube do Remo até dezembro, conseguiram nova grande vitória nas lides trabalhistas. No processo movido pelo lateral Panda, que reclamava do clube a mirabolante quantia de R$ 2,4 milhões, a Justiça do Ceará condenou o Remo a pagar apenas R$ 6 mil. O processo tramitou na Vara do Cariri (CE).

Entre outros feitos como defensor do clube, Ronaldo conseguiu abater os débitos trabalhistas do patamar de R$ 11,1 milhões para pouco mais de R$ 6,5 milhões entre 2011 e 2012, responsabilizando-se pelo pagamento de 123 processos no período. Com a missão mais do que cumprida, prestou contas publicamente e saiu de cena em dezembro, apesar dos insistentes pedidos de dirigentes e conselheiros. Vai fazer falta.

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Bola na Torre

O programa deste domingo começa às 23h50 na RBATV, logo depois do Pânico na Band. Guilherme Guerreiro apresenta, Ramon (Remo) é o convidado. Participações de Tommaso e deste escriba baionense.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 20)

O louco do porão

Por Jotabê Medeiros

Cruzava as ruas de Salvador a bordo de uma velha motocicleta BMW preta que ele chamava de “prostituta da Babilônia”. Enrolava o próprio cigarro artesanal, vestia roupas amassadas e tinha a fama de um amalucado Professor Pardal. Exilado da barbárie nazista, o compositor, músico, filósofo, poeta, artista plástico, cientista e dramaturgo suíço Walter Smetak (1913-1984) adotou a indeterminação dos trópicos como regra para um experimentalismo sonoro cujo alcance é, ainda hoje, imenso.

“Falar sobre música é uma besteira, mas executá-la é loucura”, dizia o compositor. Este ano, celebra-se um século do seu nascimento em Zurique, em 12 de fevereiro de 1913 (morreria na Salvador que consagrou como moradia em 30 de maio de 1984), filho do músico Anton e da cigana Frederica Smetak. Sua influência se reflete na música brasileira por meio de gerações diferentes, de Tom Zé ao grupo Uakti, chegando até Lucas Santtana.

smetak2_divulgacao288 (1)Trabalhando num porão da faculdade, o que lhe valeu curioso apelido, ele se tornou mestre e baliza dos tropicalistas. Caetano Veloso o menciona de forma elíptica em uma música de 1972, Épico. “Smetak, Smetak & Muzak & Smetak & Muzak & Smetak & Muzak & Razão”. Legou dezenas de livros, centenas de composições, três peças teatrais. Nada do que produziu, em música, está disponível comercialmente. Seu primeiro disco, Smetak, foi gravado em 1974. O segundo,Interregno, em 1980. “Sou como a própria natureza, crio em abundância, presenteio os homens e as mulheres, e prefiro não cobrar nada”, disse ele.

“Concluí que era preferível me envolver com a desordem e a liberalidade dos trópicos do que submeter-me às misérias europeias semeadas por Adolf Hitler”, afirmou ele, sobre a decisão de estabelecer-se no Brasil.

Smetak não era um vanguardista temporão. Estava trabalhando em suas revoluções em momento histórico simultâneo ao de diversos outros expoentes da experimentação pelo mundo afora, como John Cage e Pierre Boulez. No final dos anos 1940, em Paris, Pierre Schaeffer tinha divulgado seus Études de Bruits (Estudos de Barulhos), uma sinfonia eletrônica que consistia em chiados, ruídos e apitos de seis locomotivas que ele tinha gravado na estação de Batignolles.

“A percepção audível do ser humano vai muito mais além do que a ínfima parte que pode ser computada, tanto para os graves como para os agudos”, dizia Smetak. “A música deve representar o próprio silêncio, mas não aquele silêncio que existe como ausência do som. Como não é possível suprimir o silêncio, só a música pode substituí-lo”, afirmava.

Um de seus mais afetuosos discípulos foi Gilberto Gil, que se lembra de chamá-lo de Tak, Tak. Quando ministro, Gil visitou uma exposição do artista e chegou a tocar um dos seus instrumentos. “Smetak me dava a sensação de um misto de cientista louco e Papai Noel de província; misto de chefe religioso severo e ameaçador, e velho manso conselheiro de farta cabeleira branca e porta sempre aberta aos curiosos do Antique e do Mistério”, disse Gil.

“A obra de Smetak explora a curiosidade na arte, quando mostra tanto esboços de novos instrumentos quanto esculturas que apenas sugerem sons”, disse em 2008 o músico Arto Lindsay, que foi curador de uma mostra sobre o artista no Museu de Arte Moderna de Salvador.

A ida de Walter Smetak a Salvador deu-se num momento de rara ousadia nas políticas de cultura brasileiras. Instados pelo reitor Edgard Santos, a universidade federal da capital baiana tornou-se, nos anos 1950, polo de vanguarda cultural, abraçando as contribuições do português Agostinho da Silva no Centro de Estudos Afro-Orientais; de Eros Martim Gonçalves na Escola de Teatro; de Hans Joachim Koellreuter, Smetak e Ernest Widmer no Seminário Livre de Música; e de Yanka Rudzka e Rolf Gelewsky, na Escola de Dança.

Além destes, o esforço de avant-garde se consolidaria com nomes como os da arquiteta italiana Lina Bo Bardi, o etnólogo francês Pierre Verger, o artista plástico argentino Carybé, entre outros. “Claro que, ao implantar um programa cultural de caráter tão vanguardista, Edgard Santos ganhou adversários e desafetos a granel. Além da esquerda mais populista, os próprios alunos das escolas ligadas às áreas científicas reclamavam da suposta predileção do reitor por escolas de arte”, escreveu Carlos Calado em Tropicália, a História de uma Revolução Musical (Editora 34, 1997).

Palpitômetro da rodada

Espaço livre para os palpites para os jogos da terceira rodada do Parazão. Só vale um post por comentarista e até uma hora antes do primeiro jogo, marcado para este sábado. Ganhador leva um brinde especial.  

Santa Cruz x Tuna

Paissandu x Águia

São Francisco x PFC Paragominas

Cametá x Clube do Remo

Música inédita dos Beatles será mostrada em NY

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Uma música dos Beatles nunca antes divulgada será lançada no show A Musical Memoir of the ’60s and Beyond, de Peter Asher, em homenagem às canções lançadas na década de 60, em Nova York. A apresentação, marcada para domingo, 20, será realizada na casa de jazz The Iridium. A confirmação veio de um músico não identificado que trabalha com Asher para o site Examiner. Ele confirmou que a faixa “nunca foi ouvida antes, sequer em gravações piratas ou em rádios”.

A canção foi descrita pela fonte como “vibrante”. O entrevistado também informou que ela lhe deu uma “compreensão aprofundada do processo de criação de Paul McCartney”. A nota do Examiner informa que esta gravação se trata de uma canção de Paul e John Lennon doada para a dupla Peter & Gordon, de Asher e Gordon Waller, e, por isso, nunca chegou a ver a luz do dia na versão original feita pelos Beatles.

A cessão de canções de McCartney-Lennon para a dupla de Asher era costumeira – “World Without Love”, “Nobody I Know”, “I Don’t Want To See You Again” e “Woman” são alguns exemplos. A ligação entre o músico e os Beatles era tamanha que, depois que a dupla chegou ao fim, Asher foi nomeado diretor artísico do selo Apple Records, propriedade de Macca e companhia. Dentre as suas descobertas está James Taylor. (Da Rolling Stone) 

O passado é uma parada…

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Alicerces de Brasília, meados de 1959. Peões de todo o país transformavam o canteiro de obras num formigueiro humano. O monumental projeto de Oscar Niemeyer começava a ganhar forma.