Por Gerson Nogueira
Foi a melhor atuação de um time neste Parazão. O Paissandu, não apenas pela goleada, encantou sua torcida (pequena ontem na Curuzu) e dominou inteiramente um atarantado Águia. E não se diga que o nível do adversário facilitou a coisa para os comandados de Lecheva. Na verdade, o resultado final expressou fielmente uma inspirada atuação do setor de meio-de-campo do Papão, cujas quatro peças praticamente não cometeram erros e ainda conseguiram extrapolar suas funções básicas. Além da manhã gloriosa dos homens de meio, o time teve ainda Rafael Oliveira, João Neto e Pikachu em altíssimo nível.
Rafael marcou três vezes, voou em campo e assumiu a liderança da artilharia. João Neto não ficou muito atrás, marcando duas vezes, movimentando-se bastante e fazendo cruzamentos e assistências. Ambos, juntamente com Pikachu, contribuíram para que o grande rendimento do meio-de-campo acabasse se refletindo no escore. A não ser por alguns cochilos dos zagueiros, a atuação foi quase impecável.
Não só pelos gols marcados, a dupla Rafael-Neto destacou-se pela intensa participação. A atuação de ambos surpreende ainda mais porque os times ainda estão se ajustando e o começo da temporada costuma ser pobre em boas atuações individuais. Ontem, tanto os atacantes quanto os meio-campistas pareciam estar em atividade há vários meses, tal o entrosamento demonstrado.
O Águia, que costuma criar dificuldades jogando fora de casa, parece ter se espantado com a forte presença ofensiva do Paissandu. Desde os primeiros minutos, o time de João Galvão mostrou um acanhamento que não combina com seu histórico. Mantinha-se atrás, com o meio-campo até confundindo-se com a linha de zagueiros e pouquíssimas saídas para o ataque. Resistiu ao sufoco bicolor por 25 minutos, mas, a partir do primeiro gol, entrou em parafuso.
Enquanto Analdo, William, Rafinha e Wando perdiam-se em passes laterais e inconclusivos, o quadrado formado por Capanema, Esdras, Eduardo Ramos e Gaibu fazia a transição com impressionante facilidade. O bloqueio das ações do Águia vinha acompanhado por passes em velocidade para Pikachu, Rafael e Neto. Em alguns momentos, Gaibu (36 anos) fez mais: ia à linha de fundo preparar cruzamentos para a finalização na área.
Outro aspecto a ser ressaltado tem a ver com comprometimento. Pikachu, que ainda não tinha deslanchado no Parazão, entrou com a disposição de um novato, como se precisasse provar alguma coisa. Marcava, apoiava e chutava em gol, como aos 25 minutos, quando arriscou um disparo de fora da área, obrigando o goleiro a uma difícil defesa. No instante seguinte, apareceu à frente do lateral Mocajuba para roubar-lhe a bola e cruzar para Rafael abrir o placar.

Em dez minutos, após acelerar o jogo, o Paissandu transformou a boa atuação em projeto de goleada. Marcou mais dois gols aos 34 (Rafael) e 36 (João Neto). O gol de William, aos 37, num dos descuidos da zaga a que me referi, deu a falsa impressão de que o Águia podia pegar embalo no segundo tempo.
As facilidades iniciais se confirmaram logo no comecinho da etapa final, quando Esdras foi derrubado na área depois de grande triangulação com Pikachu e Neto. Depois da cobrança da penalidade por Pikachu, a partida entrou em ritmo de amistoso. A partir daí, o Águia entregou de vez os pontos, beirando a apatia em várias ocasiões, e o Paissandu não ia à frente com o mesmo ímpeto. O forte calor certamente influiu nesse estado de ânimos.
Apesar disso, mais dois gols – de João Neto, em cabeceio certeiro, e Rafael, de peixinho – ainda iriam premiar a torcida, que destoou (5 mil pagantes) ontem. Nem mesmo a saída de Gaibu, que tornou o Paissandu mais lento na armação, beneficiou o Águia. Apostar nas incertezas de um ataque comandado pelo confuso Leleu e em laterais improdutivos foi apenas um dos equívocos do Águia no jogo.
Na verdade, a equipe padece de carências crônicas em todos os setores e sofre os efeitos de uma preparação incompleta para o campeonato. Algumas peças ainda não se encaixaram. Leandro, goleiro que substituía Adriano, falhou em lances cruciais (no terceiro e sexto gol) e passou intranquilidade ao time. Os zagueiros Bernardo e Mário demonstravam completo descompasso. O lateral Mocajuba errou praticamente todos os passes e cruzamentos. Wando foi o único jogador com tino de organização, mas não teve forças para contagiar seus companheiros. Diante de tantos problemas, as dificuldades se tornaram insuperáveis diante de um Paissandu aprumado e com atuações individuais iluminadas. (Fotos: MÁRIO QUADROS/Bola)

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Teste de fogo para o Leão
O time de Flávio Araújo sai para o primeiro compromisso longe de sua torcida. Em Cametá, além das dificuldades naturais que todo visitante tem, os remistas terão que superar as condições do campo, um dos piores do Parazão. Em termos internos, Araújo luta para conseguir a consistência técnica necessária no setor de meio-campo. Edilsinho foi sacado da equipe e Galhardo confirmado na escalação.
Para quem adota o 3-5-2, jogar com apenas um meia de ligação – e Galhardo já disse que não é um organizador – é sempre um convite à pressão adversária. Contra o Santa Cruz e a Tuna, o Remo saiu vitorioso, mas foi dominado durante a maior parte do tempo, principalmente por não conseguir reter a posse da bola na meia cancha. Se o entrosamento não se materializar hoje, a saída é apostar na força individual dos atacantes. Paulista e Val Barreto já mostraram que podem fazer muito quando bem acionados.
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São Francisco frustra torcida
O melhor público da rodada veio de Santarém, o que não chega a ser surpreendente. O São Francisco, com bons resultados nas primeiras rodadas, atraiu 7.120 pagantes ao estádio Barbalhão. Infelizmente, para a apaixonada torcida santarena, o time frustrou as expectativas e foi derrotado pelo PFC Paragominas por 3 a 2. O Azulão ainda esboçou uma reação, mas não foi suficiente para impedir o triunfo do visitante, que chegou a fazer 3 a 0. Se o São Francisco empacou, a rodada marca a reabilitação do PFC, que chega aos seis pontos, igualando-se ao Remo na segunda colocação do campeonato.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 21)