Coluna: Sobre a passagem do tempo

Ronaldinho Gaúcho vive a fase descendente da carreira, depois de ter chegado ao topo, há seis anos, quando defendia o Barcelona. Como tem acontecido com outros jogadores famosos, depois de perder espaço no mercado europeu, o experiente meia-atacante buscou refúgio no Brasil. Abrigou-se no Flamengo sob desconfianças gerais, mas vem surpreendendo, como maestro do time e até goleador.
Faz um Campeonato Brasileiro tão bom que conseguiu tornar o Flamengo num dos aspirantes ao título, apesar de sérios problemas defensivos. Ocorre que a Seleção Brasileira impõe exigências maiores e isso Ronaldinho já não tem a oferecer. O jogo de anteontem em Córdoba, contra a seleção B da Argentina, escancarou essa realidade.
Com boa vontade, pode-se dizer que talvez tenha sido apenas uma noite pouco inspirada do camisa 10, mas o fato é que na Seleção o comportamento de Ronaldinho poucas vezes vai além do burocrático. Comporta-se como quem está ali apenas para bater ponto, sem preocupações em ir além do óbvio. Não se atreve nem mesmo a um drible mais moleque. Prefere o toque de lado, o passe curto e jamais arrisca dar uma arrancada em direção à área como nos bons tempos. 
O motivo não é físico, pois Ronaldinho aparenta estar em plena forma. A questão, como observou ontem o jornalista Bob Fernandes, talvez esteja mesmo na cabeça, como bradava o subversivo Walter Franco na época dos últimos festivais de música. E quando o problema é de cabeça não há muito o que fazer ou esperar.
Penso que o tempo de Ronaldinho passou. É uma página virada. Ele ultrapassou aquele momento único e iluminado no qual todas as fantasias parecem se realizar. Teve o mundo aos pés, viveu numa cidade encantadora e era idolatrado pela torcida mais engajada do planeta. Continua a ter muito dinheiro e fama, mas deixou de desfrutar da adoração que cerca os fora-de-série.
No estádio Mário Kempes, de Córdoba, antes do amistoso, Ronaldinho ainda mereceu aplausos respeitosos, não pelo presente, mas pelo conjunto da obra. Aquele tipo de aclamação que é uma espécie de canto triste em homenagem a um artista que já não dispõe do mesmo alcance vocal e que apenas desfia pastiches de seu repertório musical. A platéia finge não ver a decadência e se constrange em vaiar, 
Posso estar redondamente errado e Ronaldinho talvez se reinvente no amistoso programado para Belém. Tomara. Mas a partida que vi retratou um fato doloroso: Ronaldinho é um jogador do passado. O Flamengo ainda lucrará e talvez até ganhe títulos com ele, mas que ninguém conte com o craque quando o assunto for Seleção. Seu futebol deixou de fazer a tal diferença que um selecionado exige.

Mestre Didi já ensinava: treino é treino, jogo é jogo. Torcedor se manifesta nos jogos, quando pode vaiar e protestar à vontade. Nos treinos, torcedor nem deve entrar no estádio, pois normalmente perturba o clima de tranqüilidade e concentração dos atletas. É preciso haver respeito pelos profissionais, principalmente quando eles estão trabalhando e ensaiando. Jogar futebol requer técnica, talento e disciplina. Torcer, de verdade, significa compreender tudo isso.
O que um grupelho de desocupados fez ontem, de novo, no treino do Paissandu, constitui abuso. Pressionar técnico e jogadores é comportamento burro, pois só atrapalha o time pelo qual dizem torcer. O fato é que o clube falhou, pois é o responsável pela segurança de seus empregados e não pode permitir acesso ao campo de treinamento. 

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 16)

21 comentários em “Coluna: Sobre a passagem do tempo

  1. Para mim ainda está cedo para falar em um fim do Ronaldinho na Seleção muitos pensam só na copa de 2014 e esquecem que ano que vem temos olimpíadas um título que nunca ganhamos. Vejo o Ronaldinho pra isso seria uma boa forma de ele encerrar a carreira com uma medalha de ouro.

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    1. Contra o time B da Argentina, não mostrou nem isso, Lacerda. Aqui pra nós, era pra deitar e rolar. Passou mais tempo ajeitando aquela bandana ridícula do que jogando bola.

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      1. MAS contra o perigoso selecionado de (em)GANA, muita gente elogiou.

        Contra a virada de 5 a 4 em cima do Santos, todo mundo elogiou.

        Se tivesse feito aquele gol de falta, em que mais uma vez o companheiro tentou empurrar o extrema da barreira argentina (mas não conseguiu), também seria muito elogiado.

        Com o Flamengo ainda vai ganhar muito (tomara que não agora, que é contra o Botafogo), principalmente contra marcadores fracos, e por isso ainda vão tecer loas e loas ao Ronaldo Carioca.

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  2. Gerson e amigos, vale ressaltar que, no programa Camisa 13 da RBA TV, o Edson Gaúcho, com exclusividade, escalou o Papão para o jogo de domingo, com: Fávaro, Sidny, M.Santos, L.Camilo e Fábio. Daniel, Sandro, Juliano e L.Henrique. Rafael Olivira e Josiel.
    – Por isso falei, num post anterior, com o Edson Gaúcho, é melhor esperar e, não estava errado.
    – Gostei da escalação, pelos desfalques que o Paysandu vai ter nesse jogo. Penso que Daniel, L.Henrique e Juliano, suprirão a falta de marcação de Sandro e, ora Fábio, ora Sidny e, farão com que essa bola chegue com muito mais qualidade ao ataque. É a minha opinião.

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    1. Fávaro, Sidny, M.Santos (????), L.Camilo e Fábio. Daniel, Sandro, Juliano e L.Henrique (????). Rafael Oliveira e Josiel (????).

      Por que continuar com L. Henrique?
      Por que continuar com Jociel?
      Aquele zagueiro argentino não presta mesmo? Por que trouxeram ele?

      Acho que seria melhor assim:

      Fávaro, Sidny, M.Santos (ou o zagueiro argentino), L.Camilo e Fábio. Daniel, Sandro, Juliano e Robinho. Rafael Oliveira e Helinton.

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  3. COM relação a Ronaldinho Carioca, concordo, e, bem antes disso, já opinei sobre o seu declínio técnico, inclusive quando todos (quase todos) teciam loas e mais loas a seu futebol naquela virada do Fla contra o Santos. Exceção à torcida apaixonada do Flamengo, dos demais, principalmente dos profissionais de imprensa, espera-se lucidez nas suas opiniões, o que nem sempre ocorre. O mesmo ocorre no Pará com exageros à pretensa excepcional qualidade de um ou de outro jogador, exceção de alguns profissionais.

    Sobre Ronaldo Carioca, claro, como ainda está acima da média – não há como se negar isso -, aqui e acolá vai fazer a diferença no Flamengo, principalmente quando a marcação do adversário estiver mal, já no selecionado brasileiro já está com a vida ganha, e a motivação também não é a mesma de antes.

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    1. Como bem lembrou o Tavernard, quase toda mudança de comando técnico traz um arejamento de postura de um time. O principal motor disso é o fato de que os acomodados se espertam e todo mundo busca mostrar serviço. O problema é que quase nunca essa mudança tem longa vida. Com o passar do tempo e a adaptação ao novo comando, as coisas se acomodam naturalmente. Por sorte, o Paissandu precisa mostrar ânimo novo essencialmente para o jogo deste domingo, depois a gente vê como fica.

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  4. Lacerda, muitas coisas serão notadas (para melhor) no time bicolor.
    A presença de um novo treinador e a importancia do jogo em sí, se responsabilizam pelas mudanças de comportamento do time nte. Não havendo isso, haverá o caos.

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  5. A culpa do que aconteceu ontem na Curuzu é dos próprios jogadores, pois os invasores são os mesmos a quem eles prestam destacada reverência por ocasião da entrada do time em campo ou quando assinalam um gol, usando os braços em forma de “T” para identificá-los.

    A torcida do Paysandu é bem maior do que esses grupelhos de bandidos disfarçados de torcedores que na realidade vão ao estádio para roubar, bater e as vezes até matar.

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  6. Concordo plenamente com a análise feita sobre o RG, também ví assim no jogo de 4a, estava iludido pelas apresentações dele no Fla, mas na seleção, o dito cujo, volta a querer se exibir, não sei se é por estar ao lado do Neymar e a frescura bate de volta! Sobre o Paysandu a formatação me agrada, pelo menos teríamos dois jogadores que sabem lançar, o Sandro e o Juliano, sendo assim, o ataque ficaria melhor abastecido. Quando jogam Robinho ( que pra mim não é essa bola toda) e Potiguar, o meio do campo conduz muito a bola e esta não chega ao ataque, daí os poucos gols marcados pelo Papão.

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  7. Não é o tópico do post, mais lembrando que hoje ás 14:00 começa a pauta de julgamentos da Justiça Desportiva. Gostaria muitíssimo que o Papão ganhasse a vaga no campo, mas se for de outro modo, e desde que seja correto, que venha, é difícil… andei consultando alguns casos, mas não é impossível, mesmo que tenha sido o MPE o autor da ação, e que beneficiou o RB e bla bla bla. O que conta pra lei é que em hipótese nenhuma enquanto não esgotadas todos o recursos administrativos no STJD não se pode ir a justiça comum, e caso o RB sofra penalização o jogo Luverdense e Águia torna-se um jogo dramático, pois uma vitória do Luverdense e outra do Papão o Águia sobra. Lembrando que são apenas suposições.

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  8. Gérson, não tiro o mérito de sua crítica e, claro, a opinião abalizada sobre futebol, entretanto, penso que há exageros quanto a essa implicância sua contra o Ronaldo, talvez por que (e isso é natural pela sua paixão, afinal no futebol, esta é siamesa da razão), o veterano craque jogue no Flamengo. Em várias de suas manifestações anti-flamenguistas anteriores, percebo sua acidez em relação ao Ronaldo (notadamente a sua bandana). Camarada, é claro que Ronaldo não é mais o de 2002 há muito tempo, mas,diante da mediocridade apresentada naquele jogo caça-níquel, o que daria mais para fazer, convenhamos. O “x” me parece estar localizado no comando técnico que, no ferver da panela, iguala craques e desafortunados do bom futebol. Será que o burocratismo de Ronaldo reside somente em seu suposto declínio técnico. Observe, camarada,que jogadores mais novos e tão badalados quanto, estão jogando abaixo da mediocridade na seleção.O Neymar anda jogando? E o Ganso, mais novo e se desenhando uma fraude no futebol, um bom jogador, mas não um craque? Portanto, penso que o peso da idade é um fator e tanto, mas sob um olhar mais atento, percebe-se, mesmo na seleção, lampejos diferenciais importantes. Em vários momentos, vi Ronaldo fazendo passes precisos e gastos inutilmente com Neymar (este sim, a maior decepção), e com volantes do modelo “Leiva”. A zaga do Brasil, é um verdadeiro pedregulho que depende do limitadísimo e violento futebol do Dedé. O meio sofrível que destroi mais do que cria, e vamos cobrar de um ou outro craque, excelência? De qualquer forma, concordo com a pertinência do tempo em relação ao Ronaldoe espero não como flamenguista,mas brasileiro, dias melhores em seu crepúsculo. Que passe a posuir, ao menos, o ardor da supernova.

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    1. Cassio, concordo com você quanto à baixa produtividade geral da seleção, mas também é verdade tudo o que GN diz. Eu mesmo já disse que os que vem “corridos” da Europa arrebentam por aqui apenas devido à menor importância dada à tática, ao menor poder de marcação, onde o combate corpo a corpo supera a ocupação de espaços fazendo com que a individualidade sobressaia. No ataque é a mesma coisa. Nossos atletas não jogam solidariamente, não se agrupam nem se deslocam pra favorecer o passe, só querem correr com a bola no pé, o drible é a primeira opção de muitos, enquanto que a essência do futebol está no passe. Resumindo, Ronaldinho e outros voltam e enganam bem, mas seleção não dá mais. E anotem, Messi, hoje aos 24, em 2014 já não será o mesmo jogador. Três anos é muito tempo no futebol atual e ele depende muito da condição física, entenda-se explosão e velocidade e não apenas peso ou gordura corporal. Sua Copa teria sido a de um ano atrás.

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  9. Em relação a seleção brasileira, torno a repetir! A seleção brasileira existe, para selecionar os melhores jogadores de nosso Paíz, quer queira quer não, o Ronaldinho Gaúcho, ainda é o melhor jogador de criação em atividade em nosso Paíz. Se ele é o melhor, então porque não convoca-lo? Se levam cada bomba para as copas, o que dizer do Elano na última copa do mundo!

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  10. RESULTADO DO JULGAMENTO: POR MAIORIA DE VOTOS, PUNIR O CLUBE RIO BRANCO/AC, POR INFRAÇÃO AO ARTIGO 191 INCISOS I, II, III, EM MULTA DE R$ 13.385,37, E PUNIR EM R$ 100 E EXCLUSÃO DO CLUBE DO CAMPEONATO BRASILEIRO DA SÉRIE C POR INFRAÇÃO AO ARTIGO 231, TODOS DO CBJD.

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