Por Cássio de Andrade
No antigo teatro grego, a farsa e a tragédia rivalizavam-se nos anfiteatros. Dos dois estilos, surgiram as máscaras símbolos da arte dramática. Sob características diferentes, usualmente os enredos acabavam com um mesmo fim.
No século XIX, Marx aciona os dois estilos para na “Comuna de Paris”, afirmar que a “história só se repete na farsa e na tragédia”, ao descrever o sobrinho de Napoleão Bonaparte. Na segunda-feira, um novo dezoito brumário arrebenta no Baenão e nos trouxe de volta à alegoria marxiana.
Farsa e tragédia, marcaram o enredo das trajetórias remistas nos últimos vinte anos. Depois dos tempos de glória dos anos 70, a prédica do fracasso entoou firme na litugia azulina. Recuando mais, poderíamos afirmar que o mito de origem reside no remoto 1984 quando em pleno Mangueirão, perdia o título da taça de prata ao Uberlândia do triângulo das Alterosas.
A primeira década do século atual, não tem sido generosa. Central, Palmas, Vila Aurora, Joinville, foram protagonistas de vergonhas somados ao Juventude e ao próprio Corínthians. Este, graças ao Castor, virou drama nacional com direito à lamentos da atriz global Patrícia Pillar.
Muitos frequentadores dos anfiteatros futebolísticos locais devem ter esquecido qual última grande perfórmance do elenco azulino. Dívidas, planejamentos pueris, amadorismos, têm se tornado atores principais nos enredos do melodrama azulino. Mais do que isso, a alma em frangalho da equipe, sugere a cada ano, a síndrome assimilada do fracasso. Seria o Leão Azul um autêntico vira-latas rodrigueano?
Mais um ano, novo fracasso, numa história de repetição que juntam a farsa e a tragédia e vão se enraizando n’alma da imensa nação azul. Um fenômeno azul, sem dúvidas, de amor e sofrimentos. Fizeram os dirigentes azulinos o ingrato dever de fazer o Clube do Remo padecer no inferno, de onde, parece, tão cedo não sairá. E as novas farsas já começam a ser escritas para o segundo turno.
Para um treinador que já tem um sobrenome próximo à comédia, talvez uma dura ironia. Após o tsunami tucano, que “cabeça” de burro estaria enterrada no cemitério do Carrossel?
Aos torcedores, resta a resignação e a espera por um novo revés. Cabem aos “atletas azulinos”, tão endeuzados no belo hino de Tavernard, cumprirem o dever dos antepassados e sair do determinismo de Parmênides. Que tal voltar a Héráclito?


