Por Antonio Valentim
O 27 DE MARÇO passa, a partir deste ano, a ser conhecido não apenas por ser a data de aniversário natalício de uma célebre apresentadora de programas infantis. Hoje fica sendo, principalmente para nós, amantes do nobre esporte bretão, a data em que um goleiro brasileiro consagra-se como o primeiro do planeta Terra, dessa posição, a fazer uma centena de tentos em sua carreira. Só podia ser um brasileiro, e, para mim, Rogério Ceni é o maior goleiro brasileiro em atividade.
Comecei a torcer por Rogério por conta da natural antipatia a Chilavert, o paraguaio, e que também atuou no futebol argentino. No cenário internacional, houve outros arqueiros artilheiros como o colombiano Higuita e Jorge Campos, mexicano, todos dignos de elogios. Não por acaso todos do continente americano; não se podia esperar do goleiro europeu uma iniciativa dessas, eles tão disciplinados e presos a esquemas táticos. Mais um ponto ao talento do futebolista brasileiro.
Fazer 100 gols seria um fato comum na carreira de um futebolista, não fosse o singular detalhe de que esse jogador não atua na linha, ou seja, não tem a missão de se lançar em direção à meta adversária, arremessando ao gol, criando oportunidades ao longo de uma partida de futebol em vencer as metas contrárias. Sua missão é justamente o contrário: impedir gols. Digo mais: 100 gols de um goleiro é de um grau de dificuldade bem maior que o de um atacante fazer 1.000.
No futebol já vi gols de goleiros, e nem sempre em execução de penalidades – faltas ou pênaltis. O fato vira notícia justamente por ser uma raridade, já que a função de um arqueiro não é essa. Um certo Iran – que até um dia vestiu o sagrado uniforme azul marinho, por sinal já em final de carreira e sem condições clínicas ideais – uma vez fez um ao finalzinho da contenda. A diferença de aventureiros como Iram e outros para Rogério Ceni é que jamais as iniciativas do arqueiro tricolor, paranaense de Pato Branco, se motivou pelo desespero de causa, lançando-se ao ataque como um louco. Seus gols são frutos de, além de um talento inato, incansável treinamento nessa arte em que se aperfeiçoou ao longo de sua carreira.
Eu disse antes se tratar de o maior goleiro brasileiro. Não tenho medo dos narizes tortos nem de seus donos que discordam de semelhante afirmação. Como dizem que cada brasileiro é um técnico de futebol em potencial, eu, nessa condição, não hesitaria em convocar Rogério. Tenho certeza que naquele jogo de zero a zero ou em que o Brasil estivesse perdendo, uma penalidade próxima à grande área teria grande chance de ser convertida em gol se nosso time canarinho contasse com um goleiro dessa estirpe. Ganharia o Brasil duas vezes: um grande goleiro e um excelente apontador de faltas. Além naturalmente de um grande profissional, que é.
Como técnico, tivesse o meu time um arqueiro dotado dessa excepcional característica, não pensaria duas vezes em incentivá-lo. Na verdade, Adriano, excepcional goleiro que por várias temporadas serviu ao Clube do Remo, certa vez acertou uma cobrança, fazendo um belo gol. Pena que não foi adiante, talvez por falta de incentivo. Sei que, no caso de Rogério Ceni, Mário Sérgio também o proibiu de tais façanhas. Ainda bem, para o futebol brasileiro, que esse ‘mala’ durou pouco lá pelo São Paulo.
O feito revestiu-se de maior singularidade ainda por ter ocorrido justamente contra o Corinthians, no momento o maior rival do São Paulo, e não contra outro time qualquer; e ainda num domingo e em rede nacional, além naturalmente da vitória ter quebrado um ‘tabu’ de 11 jogos (já vi tabus maiores que esse!). A importância do adversário valorizou ainda mais a façanha. Registro que o São Paulo venceu com dois gols de jogadores paranaenses. O primeiro gol foi do duovizinhense Dagoberto.
Valeu ROGÉRIO CENI! Você é um daqueles raros futebolistas, cuja imensa legião de admiradores não se limita à massa torcedora do São Paulo F. C., clube para o qual não torce este humilde torcedor, por sinal. Como Pelé e Garrincha, você será sempre lembrado por todas as torcidas.