Por Cosme Rímoli
Evangelista Martins Pereira. 52 anos. Vascaíno.
Resolveu enfrentar a selvageria, estupidez, desprezo que marca a venda de ingressos de jogos importantes aos torcedores no Brasil. Calor absurdo, fila de milhares de pessoas. Tumulto. Policiais tratando os torcedores piores do que gado. Com cacetetes os obrigavam a ficarem juntos, grudados. Não podiam invadir a rua. A ordem era para ficar na calçada.
Como? Se espremendo, do jeito que desse. O atraso na abertura das bilheterias. A cada ameaça em falso, os torcedores se espremiam mais ainda. Uns por cima dos outros. A lei do mais forte, selvageria desnecessária. Homens bem mais jovens do que Evangelista desmaiaram por causa do calor, com falta de ar.
E o pai firme lá, tinha de comprar ingresso para o seu filho. Seria a grande surpresa. Só que o calor, o tumultuo, a falta de água, as ameaças dos cacetetes dos policiais foram demais. Seu coração não suportou. Sofreu um infarto fulminante. Morreu na fila.
E vai ficar por isso mesmo. Evangelista é mais uma pessoa que morre à toa no futebol brasileiro. Como os oito torcedores que despencaram da arquibancada que ruiu na Fonte Nova. E tantos e tantos casos.
Os simples torcedores são desprezados no Brasil. Não há interesse em informatizar as vendas. Todos têm acesso à Internet no Brasil, sem hipocrisia. Se estivesse no conforto da sua casa, Evangelista estaria vivo. Não passaria pelo tristeza dessa morte boba, tosca, fruto do descaso.
Qual a preocupação dos dirigentes do Fluminense com sua torcida? O que importava foi feito: majoraram o preço dos ingressos. Para o resto, lavaram as mãos. Isso vale para o Rio, São Paulo, Minas Gerais, Brasil inteiro.
Torcedor é a última preocupação para os dirigentes. O dinheiro que ele proporciona, não. Vem muito antes. A morte de Evangelista Martins Pereira fica na conta de quem? Ah…Vamos fazer um minuto de silêncio no domigo e olhe lá… Está bom demais. Da-lhe Fluzão, meu amor!
Na Libertadores a gente se encontra na mesma fila. Sempre vai ter gente que se sujeita a acampar, tomar cacetadas de policiais, ficar sem tomar água, ir ao banheiro, ser empurrado, pisoteado. Quem morrer, morreu… Minuto de silêncio foi feito para isso mesmo… Assim pensam os dirigentes de futebol no Brasil. Nem eles, nem seus familiares ou amigos precisam ir para a cruel fila para comprar um ingresso… Nunca precisarão…