No festival de besteiras que assola nosso futebol a cada começo de temporada, Remo e Paissandu ainda têm a chance preciosa de começar tudo de jeito diferente desta vez. Com alguma habilidade, podem garimpar bons valores entre os times que disputaram as fases de acesso à fase principal do campeonato.
É claro que a tentação gastadora costuma falar mais alto, fazendo comichar o diabinho das contratações desatinadas, mas creio que há gente lúcida querendo mostrar trabalho e disposta a zelar pela saúde contábil dos dois grandes da capital.
Caso isso efetivamente venha a ocorrer, há quase dois bons times disponíveis, a preços razoáveis, para os irmãos siameses se reforçarem. Anotei assim, meio a esmo, alguns nomes que se destacaram nos recentes torneios seletivos ao Parazão: Ângelo, Diego Amaral, Cleidir, Américo, Mocajuba, Charles, Tobias, Euler, Japonês, Jairo, Analdo, Soares, Flamel, Kevson, Fininho, Diego Índio, Ró, Branco, Fabinho, Ivan, Rafael Oliveira.
Todos têm qualidade, futebol e experiência para defender os grandes da capital. Talvez lhes falte apenas um bom empresário. Quem sabe um bom marqueteiro? Além desses – alguns dos quais já devidamente recrutados por Remo, Paissandu, Águia e S. Raimundo –, os velhos rivais têm à disposição uma boa quantidade de garotos das divisões de base.
Claro que a meninada tem menos apelo ainda, pelo menos aos olhos gananciosos de algumas raposas, que preferem os bons (para eles) negócios de importação de “reforços”, processo vicioso e viciado que perdura há anos em Belém. O conselho é velho, repetitivo até, mas dirigentes de Remo e Paissandu deveriam dedicar prioridade máxima às revelações da base.
O primeiro mandamento deveria ser o de não aceitar passivamente as sugestões de contratações. Outra questão obrigatória: testar os importados antes de firmar contrato, procurando compará-los com a prata da casa. Se existe jogador regional do mesmo nível, por que trazer gente de fora? Essa regra, tão óbvia, deveria ser seguida mais do que nunca pelos clubes.
Sei que já repetimos esse mantra inúmeras vezes, mas não custa insistir de novo. Os exemplos recentes, de Salgueiro e Vila Aurora, que triunfaram aqui dentro, diante do nosso nariz, deveriam estar martelando na cabeça dos gestores de Paissandu e Remo. Por que times tão modestos conseguem ser melhores que os nossos caros elencos? Porque talvez ainda estejam se preocupando em gastar pouco – e bem.
Os programas esportivos da TV e os jornais do país inteiro não param de dar destaque à cirurgia do argentino Conca, eleito melhor jogador do último Brasileiro. A badalação é tamanha que o próprio jogador, antes encabulado, parece já estar acreditando na fama repentina. Devagar com o andor, vamos deixar as coisas nos devidos lugares. Neto disse e eu concordo: Conca, como Montillo e Valdívia, é apenas um bom jogador, igual a tantos que ganham a vida nesse imenso Brasil boleiro.
(Coluna publicada no Bola/DIÁRIO, edição desta terça-feira, 28)