Domingo sem futebol em Belém é algo tão fora de propósito que obriga os fanáticos por bola a buscar abrigo nas transmissões da TV. Sem saída, abusei do controle remoto. Vi dois jogos no sábado e mais três ontem, além de inúmeros pedaços de pelejas que não me despertaram maior interesse. De tudo o que foi possível acompanhar, chamou minha atenção a saudável quantidade de bons usuários da camisa 10 (embora alguns deles nem usem o número místico) em ação no futebol brasileiro.
Cinco deles mostraram como se deve jogar, usando o repertório que só o talento concede. Embora nem sempre contem com boas parcerias, fizeram o que era possível, nas circunstâncias, em prol de seus times. Com dribles, passes, lançamentos e gols, foram quase sempre decisivos. De bom, a constatação de que os artistas continuam a brilhar. De preocupante, o fato de que quatro deles são estrangeiros.
O Palmeiras, apesar do jeito tosco de correr em campo, reapresenta Valdívia aos brasileiros. Curiosamente, a bola o procura quase que por dever de ofício. Depois de bastante maltratada por Pierres e Danilos, chega aos pés do chileno e se rende por completo, dócil e terna. Graças a ele – e a Kleber –, o time de Felipão passou sem sobressaltos pelo Flamengo, que só teve lampejos de lucidez quando Petkovic entrou, a 20 minutos do fim.
No líder Fluminense, o argentino Conca é o principal expoente há pelo menos dois anos. Utilíssimo para o time, de estilo quase econômico, provou sua eficácia no triunfo sobre o Vitória. Além de elaborar as principais jogadas tricolores, ainda se incumbiu de fazer o gol em pênalti que foi cometido pelo paraense Vanderson.
Em equipe recheada de figurões, incluindo Deco, que brilhou no Barcelona e na seleção portuguesa, Conca confirma a velha história de que um time se estrutura a partir de um meia-armador. Tudo começa e acaba naquele espaço do campo onde a habilidade dita as regras.
Outro argentino, menos discreto e bem mais famoso, também segue fazendo das suas. D’Alessandro, maestro do Internacional, foi o dono da bola no Beira-Rio, distribuindo lançamentos e de vez em quando aparecendo pelo lado direito do ataque. Participou diretamente de dois gols do Colorado e conseguiu encontrar espaços, com as habituais fintas curtas, mesmo depois que Elias passou a vigiá-lo de perto.
Do lado corintiano, Bruno César marcou um gol (de pênalti) e mandou dois chutes na trave. Não estava inspirado como D’Alessandro, mas apareceu com muito perigo sempre que se aproximou da área. Jovem ainda, tem muito a evoluir, mas está entre os melhores da competição.
Moisés embarcou ontem para São Paulo, a fim de se incorporar em definitivo ao elenco do Santos. A saída de Dorival Junior, após desentendimento com Neymar e a diretoria do Peixe, podem atrapalhar o começo do atacante paraense na Vila Belmiro. Indicação do ex-técnico, terá que se adaptar à nova situação e aguardar a chegada do novo comandante da equipe.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 27)

