O “campeonato do Remo” acabou ontem, depois de um anêmico empate do dono do torneio com o modesto Vila Aurora (MT). Quando a Série D começou, o técnico Giba declarou, pomposamente, que o Remo iria disputar uma competição particular, exclusivamente sua. Aos poucos, em meio a desculpas esfarrapadas (climáticas, principalmente), foi mudando o discurso, até admitir que os adversários – Cristal, América, Cametá e Vila Aurora – eram dificílimos, quase inexpugnáveis. Por tudo isso, o desfecho não surpreendeu, mas frustrou terrivelmente cerca de 21 mil torcedores que foram ao Mangueirão (outros 5 mil voltaram da porta do estádio, porque a diretoria não disponibilizou ingressos!).
Em casa, dependendo exclusivamente de suas forças e com o apoio da apaixonada torcida, o Remo cumpriu um roteiro inteiramente equivocado para quem buscava uma classificação. Em diversos momentos do jogo, o Vila Aurora inverteu as condições, postando-se como o dono da casa, tal a tranquilidade que exalava, com passes certos e bom posicionamento de suas linhas. A superioridade do visitante, porém, deveu-se mais à incompetência tática do Remo. A verdade é que Giba passou os 45 minutos iniciais assistindo a banda passar, dominado placidamente pelo esquema de Carlos Rufino.
Giba, entre outros cochilos e teimosias, não viu que seus laterais estavam impedidos de jogar pelo bloqueio de meio-campo do Vila Aurora. Não viu, também, que Gian estava muito longe dos atacantes e Vélber corria feito um desesperado, mas não achava espaço para criar jogadas. Esqueceu que Landu voltava de contusão e, sem velocidade, não ganhava uma disputa com os zagueiros. E ainda ignorou que os cruzamentos para a área adversária sempre passavam longe de Frontini, o atacante de referência. Pior do que isso foi deixar de corrigir esses problemas para o segundo tempo.
O Remo achou um gol aos 12 minutos do tempo final, num lance fortuito de Landu para Vélber. Empolgada, a torcida vibrou e acreditou na classificação, mas o técnico não tinha o direito de se iludir. Com a vantagem, esqueceu de melhorar o bloqueio à frente da atrapalhada zaga remista. Danilo até estava bem, mas Júlio Bastos errava passes em excesso. Como preferiu levar Canindé no banco de reservas, Giba não contava com Samir para substituir Gian, que jogava mal. Diante disso, botou Zé Carlos em campo, afunilando o jogo na área, mas sem jogada ensaiada para explorar dois jogadores altos.
O Remo, só no segundo tempo, cruzou 14 bolas e só duas chegaram à cabeça de Zé Carlos. Além das deficiências de criação, o time de Giba demonstrou novamente falta de agressividade, pois os dois centroavantes que o técnico indicou não marcaram nenhum gol na competição. Héliton entrou sempre nos instantes finais, novamente na podre, quando não havia muito mais a fazer. Na verdade, era um filme de final desenhado desde a primeira fase da Série D, só não viu quem não quis.
Resumo da ópera: depois de fracassar no campeonato paraense, Giba teve quase dois meses e meio para montar um bom time para a Série D. Trouxe vários reforços, mas nenhum demonstrou talento para justificar escalação. Um deles, Márcio Loyola, nem estreou. Canindé estreou, mas não jogou nada. Pode-se dizer o mesmo de Frontini e Zé Carlos. Em movimento oposto, deixou de lado Samir, um dos melhores do time no Paraense, e Héliton, lembrado apenas nos momentos de desespero. Pelas mãos de Giba, o futebol do Remo cumpre a sina de seu projeto administrativo, baseado no quanto pior, melhor. A partir de hoje, dedica-se a férias prolongadas de quatro meses. Sem divisão, sem estádio e sem fibra para tomar providências contra os que avacalham com sua história de glórias. (Fotos: MÁRIO QUADROS/Bola)
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 13)


