Por José Roberto Torero
10 x 0! Sim, 10 x 0! Vou escrever com letras para que não fiquem dúvidas: dez a zero!
Que placar de sonhos! De um lado, o zero representando a soberania da defesa, um escudo inquebrantável. De outro, o dez, o número perfeito, que precisa de dois algarismos para ser escrito. Se fosse onze não seria tão equilibrado. Dez é melhor. É o número de dedos da mão (não, não pense em fazer piadas com o Lula). Se um menino foi à Vila ontem e começou a contar os gols em seus pequenos dedos, ficou maravilhado. Ele abriu as duas mãos, uma em frente a outra, e depois bateu palmas.
É como se o Santos saísse do mundo normal e fosse para o virtual, para a linguagem binária. Um e zero, a reta e o círculo, a síntese de tudo. E o dez é, como se pode esquecer, o número de Pelé. É um placar para jamais ser esquecido. Eu, por exemplo, só tinha visto isso uma vez na vida, no jogo entre Venezuela e Iugoslávia, um jogo em Curitiba pelo Torneio Independência do Brasil, em 1972. Eu tinha nove anos, não torcia para nenhum dos times, mas nunca esqueci aquele placar. Ontem, quem esteve na Vila Belmiro terá uma lembrança ainda melhor.
Foram 11 mil pessoas, mas daqui a cinqüenta anos serão centenas de milhares. Assim como todo mundo diz que viu o gol de Pelé na Rua Javari ou suas defesas contra o Grêmio, muitos dirão que estiveram no estádio na noite de ontem. Alguns até acreditarão nisso.
Os invejosos vão dizer que o Naviraiense é um time ruim. Mas ninguém falou isso depois do magro 1 a 0 lá em Campo Grande. E, no ano passado, o Santos foi desclassificado pelo modesto CSA de Alagoas. Ah, os invejosos esquecerão daquele discurso do “não tem mais bobo no futebol” e dirão que trata-se de um time quase amador. Não importa, foi dez a zero. Dez a zero! E que gols!
Houve o primeiro, de Ganso, depois de uma pedalada de Robinho dentro da área.
O segundo, com o oportunismo de André.
O terceiro, de Neymar, com dribles em velocidade.
O quarto, de Robinho, por cobertura, um golaço.
O quinto, de André, depois de uma falta que Ganso mandou no travessão.
O sexto, de Marquinhos, chutando de fora da área.
O sétimo, de Neymar, que driblou três, depois o goleiro, e mandou para as redes.
O oitavo, de André, depois de uma deixada de Neymar.
O nono, de Madson, tabelando em velocidade.
E o décimo, outra vez de Madson, desta vez de falta.
Foram gols de todos os tipos e para todos os gostos. Aliás, de todos os tipos, não, que não houve nenhum de cabeça. A bola do Santos rola de pé em pé. E as comemorações? Criativas e felizes. Teve imitação de um videogame de luta, Robinho subiu nos ombros de um companheiro e fingiu estar dirigindo, houve língua de fora e soco no ar. Os garotos estão felizes.
A melhor definição do time veio de um jogador do Naviraiense. Ao fim da partida, ele se confundiu e disse “O Santos é um time fora do sério”, em vez de fora de série. Ele errou mas acertou em cheio. O Santos é um time fora do sério.