Por João Lopes Junior (englopesjr@gmail.com)
Adoro futebol. Mesmo sem nem saber direito chutar uma bola, sei direitinho as regras de impedimento, dos cartões, dos goleiros jogarem com as mãos e mais algumas, mas não todas, as regras do esporte que são dezessete. Tenho até um time do coração, o Clube do Remo, uns ídolos inesquecíveis, como Belterra, Agnaldo, Chico Monte Alegre, Artur e Gian. Embora tenha trinta anos de idade, lembro-me ainda de Varela, Alencar, Papelin, Edil e Ageu Sabiá, só pra citar alguns. Ia ao Baenão de vez em quando berrar, esgoelar-me e sair de lá sem voz só pra ter o prazer de assistir uns marmanjos jogarem bola e voltar de lá feliz com a vitória, ou aborrecido com uma derrota ou empate. São atos de torcedor. E como isso tudo significa torcer, eu sou um torcedor. Paraense por ter nascido aqui, e azulino desde antes de nascer. Mas, nem agora que o campeonato paraense tem se mostrado mais competitivo, equilibrado, um claro sinal de evolução, não vejo tantas razões para prestigiar o futebol parauara, sobretudo o dos times da capital. Mas também não tenho vontade de abandonar o time do Evandro Almeida e nem a rivalidade do Re-Pa. Nem o próprio Evandro Almeida. O goleiro confiável, a defesa segura, a criatividade do meio campo, a beleza e a construção das jogadas de ataque são o futebol em si, além da vibração da torcida, é claro. Somos bons, muito bons nisso. As maiores torcidas do Pará são chamadas de fenômeno azul e fiel bicolor não à toa. O esporte bretão é não só um orgulho nacional, como local também. E observando atentamente a linha do tempo da história é possível deduzir, não induzir, o que acontece de errado com esse nosso futebol. Analisando a circunstância financeira de Remo e Paissandu, fica muito claro ou que houve ineficiência na gestão desses clubes, ou corrupção, ou ainda um misto das duas coisas. Não é possível, sob hipótese nenhuma, afirmar que o futebol paraense não gera receitas e lucros. A deficiência real dos clubes é de competência e responsabilidade, não de mercado. E nem de caixa. O futebol é uma forte expressão da cultura popular do Pará. Esporte preferido da grande maioria dos paraenses consolidou-se por aqui como forte segmento econômico e político, sendo escolhido por muitos jovens da periferia que sonham em deixar pra trás a vida difícil da periferia como o meio de realizar desejos e projetos de vida num futuro como atleta profissional. Este caminho trilhado para o sucesso desde a infância e de poucas oportunidades é de alto risco para o investidor porque os atletas nativos não são desprezados somente quando alcançam a idade para debutar no profissional, mas desde quando chegam ao clube. Muitos cartolas ignoram que investir em jovens das categorias de base é uma atitude que traz lucros. Enquanto isso, as oportunidades vão surgindo para atletas oriundos de outras regiões do país, muito mais dispendiosos para o clube. Assim se dá o desperdício do patrimônio dos clubes. Um velho provérbio árabe diz que “quem compra o que não precisa, venderá o que precisa”. O Clube do Remo, que não precisara de tantos gastos para auferir lucros com o futebol, mas gastou mesmo assim, agora terá que vender o ainda tão necessário estádio do Baenão. A paixão do torcedor e a crescente qualidade do futebol paraense, com a tradição Remo e Paissandu, e agora acrescida pela valorosa contribuição de Águia e São Raimundo, torna os dirigentes responsáveis não somente pela qualidade técnica dos jogadores contratados, mas também pela qualidade do serviço de atendimento prestado ao torcedor. Nestes tempos de crescimento, o futebol do Pará deve se agigantar, e não recuar. A decisão de vender ou não o Evandro Almeida para que os sócios não tenham que passar pela vergonhosa situação de ver este patrimônio leiloado por valor irrisório tornou-se meramente uma questão contábil. Não leva em conta o amor e o carinho da torcida e nem o seu valor histórico. A possível venda do Baenão é até simbólica. Ilustra bem o total desprezo pelo trabalho, pelos sonhos e pela responsabilidade.
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