Nova Previdência: bancos vão lucrar R$ 480 bilhões em 10 anos

Uma estimativa da consultoria Mercer, com base em estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI), calcula que os bancos privados devem lucrar cerca de R$ 480 bilhões em 10 anos com a reforma da Previdência de Paulo Guedes e Jair Bolsonaro, que vai diminuir os valores das aposentadorias pagos pelo Estado e obrigar os brasileiros a pouparem por conta própria.

O estudo do FMI concluiu que reformas similares no sistema de aposentadorias em outros países resultou na transferência de 60% para bancos privados do valor do dinheiro que foi reduzido nos pagamentos feitos pelo Estado. As informações foram divulgadas em reportagem de Antonio Temóteo, no Portal Uol neste sábado (16).

Em entrevista ao portal, Guilherme Gazzoni, líder de Desenvolvimento de Produtos da Mercer Brasil, afirmou que com a reforma da Previdência, os brasileiros serão obrigados a poupar para a velhice.

“Sistemas de previdência pública mais generosos não incentivam a formação de poupança privada. No Brasil, muitas pessoas continuam cobertas pela Previdência Social após a reforma, mas outro grupo significativo terá benefícios com valores menores a partir de regras de acesso mais rígidas”, declarou.

Ele lembrou, no entanto, que os mais pobres não terão “incentivos” para poupar, pois gastam todo o orçamento com a sobrevivência.

Caso Marielle: juntando as peças do dia 14/03/2018 na vida de ‘Seu Jair’

Do Jornal GGN

Em jornalismo, usamos uma técnica para coberturas complexas. Consiste em juntar todos os elementos concretos e, assim que possível, montar uma narrativa plausível que os encaixe. A partir daí, a cobertura vai filtrando as informações, para focar naquelas essenciais para comprovação ou correção da narrativa em curso.

Anos atrás o Ministério Público Federal descobriu essa técnica e a batizou de “teoria dos fatos” (não confundir com a teoria do domínio do fato), mas com algumas jabuticabas bem brasileiras, características típicas desses tempos de Lava Jato: desprezo a todos os fatos que desmentirem a narrativa original. 

Os burocratas esconderão os fatos que comprometam a narrativa porque cada operação demanda recursos e um tiro errado significaria desperdício. Os marqueteiros desprezarão porque a narrativa foi vazada para jornalistas amigos, e ficaria chato admitir o erro. A Lava Jato desprezará porque sua intenção é política.

Entendido isso, vamos a uma teoria do fato sobre como foi o dia 14 de março de 2018, dia do assassinato de Marielle, na vida de Jair Bolsonaro.

Primeiro, vamos aos fatos objetivos:

  1. Um twitter de uma jornalista respeitável, Thais Bilenky, no dia 14 de março, informando que Bolsonaro seguiria para o Rio por estar com problemas de intoxicação.
  2. O depoimento do porteiro do Condomínio Vivendas da Barra, dizendo ligou para Bolsonaro para obter autorização para a entrada de Elcio Queiroz no condomínio. E a anotação no papel indicando a casa de Bolsonaro como destino.
  3. A sessão da Câmara mostrando que, naquele dia, Bolsonaro estava lá, participando das sessões.
  4. O sistema de telefonia do condomínio, que permite transferir ligações para celulares.
  5. Posteriormente, vazamentos aos Bolsonaro de trechos da investigação de interesse deles, mais  a identificação de dois promotores como bolsonaristas ativos, mostrando acesso da família às investigações.

Em cima desses dados, vamos formular uma hipótese – repito, hipótese – sobre o que teria ocorrido naquele dia.

  1. Bolsonaro articulou uma reunião com Ronnie Lessa (do Escritório de Crime) e Elcio Queiroz para o dia 14, no Condomínio Vivendas da Barra.
  2. Preparou um álibi para faltar à sessão daquele dia na Câmara Federal. A jornalista Thais Belinski foi informada de que ele iria voltar para o Rio de Janeiro por um problema de intoxicação alimentar. Era um álibi curioso: viajar intoxicado, podendo descansar e ser tratado em Brasilia.
  3. Naquele dia, trocando ideias com assessores, Bolsonaro se deu conta de que a ida para o Rio de Janeiro poderia expô-lo. Assim, decidiu ficar na sessão da Câmara, onde apareceu sem nenhum sinal de quem estava intoxicado. A reunião no Condomínio foi mantida com os demais participantes.
  4. Ao chegar ao condomínio, Élcio deu o número da casa de Bolsonaro. O porteiro ligou para o celular anexado ao número, Bolsonaro atendeu em Brasília e autorizou a entrada. E Élcio rumou para a casa de Ronnie Lessa, que fica na mesma rua da casa de Bolsonaro, cerca de duas ou três casas depois.
  5. Quando a reunião foi identificada, após perícia no celular de Ronnie Lessa, os Bolsonaro foram informados por aliados infiltrados nas investigações, que atrasaram a perícia a fim de permitir que as provas fossem alteradas.

Repito: é uma hipótese de trabalho. 

Motivação

Conforme já divulgado, Bolsonaro era radicalmente contrário à intercvenção militar no Rio de Janeiro, que considerava uma maneira de fortalecer o governo Temer e preparar a chapa Temer-Rodrigo Maia para as eleições de 2018, reduzindo a possibilidade de uma intervenção militar ampla.

Um dos modos de operação dos porões, quando Silvio Frota foi alijado da disputa pelo poder, era planejar atentados e imputar à oposição.

Apurou-se que, dias antes do assassinato de Marielle, Ronnie Lessa pesquisou no Google figuras críticas à intervenção militar. E fixou-se no nome de Marielle, que havia sido indicada para uma comissão na Câmara de Vereadores, para fiscalizar a intervenção.

As investigações

Desde o início, se afirmava que as investigações esbarravam em “gente poderosa” no Rio, por isso não avançavam. Até agora, oficialmente a “gente poderosa” que apareceu foi um conselheiro do Tribunal de Contas do Município, o tal Brazão. Isso em um estado em que ex-governadores, conselheiros do Tribunal de Contas do Estado, deputados federais e estaduais foram presos. É factível supor que toda a manipulação da Polícia Civil e, especialmente do Ministério Público Estadual, foi por influência de Brazão. A cada dia fica mais nítida a influência do bolsonarismo sobre promotores estaduais.

A elucidação do crime demandaria perícias e investigações isentas. Quem as fará? A cada dia que passa aparecem mais promotores bolsonaristas militantes em funções chave na investigação interminável. 

Há duas maneiras dos promotores atuarem politicamente.

  1. Encontrando um suspeito concreto, que assuma o crime e libere Bolsonaro das suspeitas.
  2. Não encontrando, adiando a investigação indefinidamente.

Qual seria a alternativa? A Polícia Federal de Sérgio Moro.

O porteiro está sendo acusado de obstrução de justiça. Sérgio Moro encaminhou à denúncia à Procuradoria Geral da República. O caso caiu nas mãos do procurador Douglas Araújo, tido como “bolsonarista ferrenho”, segundo o Valor Econômico.

Insisto, é uma teoria do fato, uma narrativa que permite encaixar os principais elementos até agora divulgados. Quem tiver uma hipótese melhor, que as apresente, antes que calem-se para sempre as testemunhas.

Em apoio a protestos, seleção do Chile não entra em campo

O Chile é o Chile.

Há que se compreender suas peculiaridades: Em apoio a protestos, jogadores do Chile se recusam a entrar em campo Seleção chilena decidiu não disputar amistoso contra o Peru, em Lima.

Os jogadores da seleção chilena decidiram não realizar um amistoso com o Peru na próxima semana em meio à onda de mobilizações que sacode o Chile há cerca de um mês e que já deixou ao menos 20 mortos.
“Os jogadores convocados pela Seleção Absoluta do Chile decidiram não disputar a partida amistosa internacional com a seleção do Peru (…) A decisão foi adotada pelo elenco após uma reunião realizada nesta manhã”, informaram os dirigentes do futebol chileno através de um comunicado sobre o confronto programado para 19 de novembro em Lima.
Segundo a imprensa local, a Associação Nacional de Futebol Profissional (ANFP) tentou reverter a decisão da equipe, mas não conseguiu. No início de novembro já havia sido suspenso o amistoso com a Bolívia que seria disputado em Santiago e a final da Copa Libertadores entre o River Plate (ARG) e o Flamengo.

Na terça-feira, ao chegar ao Chile vindo da Alemanha, o meio-campista Charles Aránguiz pediu que, por respeito, o jogo não acontecesse. “Minha opinião é que não deveria ser disputado, respeitando o que o país está passando”, declarou.
O Chile está às voltas com as maiores manifestações sociais desde o retorno da democracia, há quase três décadas. Além dos protestos de rua, também foram registrados numerosos incêndios criminosos e saques.

Festival Lula Livre agita Recife neste domingo

Realizado no Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre como ato cultural e político em defesa da libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o festival Lula Livre agora tem tudo para ser a maior festa de Recife. Com a presença confirmada de Lula e de mais de 40 cantores e grupos musicais e folclóricos, o evento começa ao meio dia na Praça Nossa Senhora do Carmo, no Bairro Santo Antônio, região central da capital pernambucana.

Entre os nomes confirmados estão Otto, Mundo Livre S/A, Marcelo Jeneci, Odair José, Aline Calixto, Francisco El Hombre, Lia de Itamaracá, Digitaldubs, Siba, Johnny Hooker, RAPadura, DJ Patrick Tor4, Devotos, Feiticeiro Julião, Projeto A Dita Curva.

Muitas caravanas já estão a caminho de Recife. São esperados grupos do interior de Pernambuco, da Paraíba, Alagoas, Rio Grande do Norte, do Ceará e mesmo de outras regiões. O festival é organizado pelo Comitê Nacional Lula Livre, que manterá diversas atividades em defesa da democracia.

Os vacilos de Ernesto, o Idiota

Por Luis Nassif

Nos grupos de WhatsApp com especialistas em diplomacia e geopolítica, o chanceler brasileiro é tratado como Ernesto, o Idiota. A reviravolta no quadro político boliviano, com o Congresso assumindo o controle político e propondo novas eleições, tem merecido as seguintes especulações.

Há sinais evidentes de que a chancelaria brasileira participou de articulações que, em um primeiro momento, levaram ao poder evangélicos fundamentalistas. Ernesto, o Idiota, aliás, foi o primeiro a reconhecer os terraplanistas como novo governo boliviano.

Esses especialistas identificam dois movimentos conjuntos da Rússia e da China, visando reequilibrar o jogo de forças no país, aproveitando o encontro dos BRICs no Brasil.

A Rússia foi a primeira a se insurgir contra o golpe. Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, declarou que o reconhecimento de autoridades legítimas na Bolívia só seria possível após eleições livres.

Ao mesmo tempo, o presidente chinês Xi Jinping praticamente comprou o apoio brasileiro, oferecendo investimentos de US$ 100 bilhões. A ponto de Paulo Guedes propor um tratado de livre comércio com a China – a pá de cal final na indústria de baixa tecnologia brasileira.

Donald Trump entra em rota descendente, depois da abertura do julgamento do impeachment. E deixa o governo Bolsonaro em má situação, não dando as contrapartidas ao Brasil pelas concessões feitas aos Estados Unidos. Sequer foram liberadas as exportações de carne fresca do Brasil. Por outro lado, a instabilidade política na América Latina, agravada por Eduardo Bolsonaro e Ernesto, o Idiota, começa a afastar investidores internacionais.

A reviravolta na Bolivia pode significar o enfraquecimento definitivo do trumpismo na América Latina. E a saída de Jair Bolsonaro do PSL, assim como o saída de Carlos Bolsonaro das redes sociais, pode significar um afastamento gradativo do terraplanismo dos filhos, e um banho de realismo político. Resta saber em qual fonte Bolsonaro vai beber daqui para frente. Mesmo porque, o enfraquecimento de sua base política, as investigações sobre os filhos, o tornam cada vez mais vulnerável politicamente.

De qualquer modo, parece que está chegando ao fim o momento de maior vergonha do Itamaraty, sob o comando de Ernesto, o Idiota.

Caso Marielle: réu só teria visitado casa de ‘Seu Jair” no dia do crime

O ex-policial militar Élcio Queiroz, acusado de participação no assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, entrou ao menos 12 vezes no condomínio Vivendas da Barra de janeiro a outubro do ano passado —a vereadora do PSOL foi morta em março. Apreendidas pela Polícia Civil e analisadas pela Folha, as planilhas de controle de acesso indicam que, em 11 dessas visitas, Élcio sempre teve como destino a casa 65, de Ronnie Lessa, policial militar aposentado também acusado e preso pelo crime”, aponta reportagem de ítalo Nogueira e Marina Lang, na Folha de S. Paulo.

“A única exceção é a entrada no dia do crime, 14 de março, quando a planilha manuscrita indica que a autorização de acesso na portaria foi dada por alguém da casa 58, onde vivia o atual presidente Jair Bolsonaro, então deputado federal. Essa menção ao imóvel do presidente passou a ser alvo de averiguação no mês passado, quando um dos porteiros declarou à polícia que o ex-PM Élcio entrou no condomínio naquele dia após autorização do “seu Jair”, da casa 58”, aponta o texto.

A Seleção que não se reinventa

POR GERSON NOGUEIRA

É curiosa a gestão de Tite à frente da Seleção Brasileira. Depois do início fulgurante nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018, o time patinou nos campos da Rússia e se reabilitou parcialmente ao ganhar a Copa América aos trancos e barrancos. Uma gangorra que parece não levar a nada, tomando por base os maus resultados da atual temporada de amistosos – cinco tropeços seguidos.   

Na sexta-feira, o amistoso com a Argentina em Riad mostrou uma seleção sem proposta definida, distribuída de maneira absolutamente previsível. Sem Neymar, o time alinhou Artur, Militão, Danilo e Gabriel Jesus, que jogam na Europa, mas são reservas em seus times.

No meio-campo, Casemiro segue intocável, embora atravesse fase ruim no Real Madrid. Símbolo de renovação, Paquetá não é unanimidade na Itália. Coutinho é apenas mais um no Bayern. A rigor, o escrete não conta com nenhum protagonista de clube, o que é sempre um mau sinal.

Em campo, o jovem e realmente renovado time argentino de Scaloni encurralou um Brasil acomodado e sem alternativas de jogadas ofensivas. Tite concedeu espaço excessivo à transição rápida da Argentina, permitindo que a bola chegasse com facilidade a Lautaro e Messi.

O jogo começou de forma enganosa. Gabriel Jesus perdeu pênalti logo aos 9 minutos, chutando para fora. Gabriel, aliás, é um caso emblemático dos critérios usados na Seleção. O atacante não consegue barrar Aguero no Manchester City, mas é titular na Seleção porque integra o seleto grupo de jogadores “de confiança” de Tite.

Minutos depois, Messi foi atingido por Alex Sandro e bateu o pênalti. Alisson pegou parcialmente e La Pulga não desperdiçou o rebote.

Incomoda o fato de a Seleção não contar com recursos para reagir ante um resultado adverso, exatamente como ocorreu na derrota para a Bélgica na Copa. O time parece muitas vezes desligado, quase desinteressado. O discurso de Tite é até modernoso, mas sem amparo na realidade.

O retrospecto é constrangedor pela quantidade de tropeços contra forças inferiores. Empatou com a  Colômbia (2 a 2), perdeu para o Peru (1 a 0), empatou de novo com Senegal e Nigéria (1 a 1).

Tite vinha falando em reinvenção, prometendo mudanças, mas poucas vezes nos últimos anos o Brasil deu tanta liberdade para o maior rival, que poderia ter goleado. Chances preciosas foram desperdiçadas pelos atacantes ou defendidas por Alisson.

Até o sistema utilizado é envelhecido. Na recente Copa América, o Brasil já jogava no 4-3-3, com jogadores mal posicionados. Gabriel, símbolo da mesmice ofensiva, correndo na mesma faixa de Firmino. Willian deslocado para correr pela esquerda, ao contrário do que faz no Chelsea de Lampard.

O que preocupa não é a má performance nos amistosos. O incômodo vem da falta de ideias do comandante. Mais desalentador ainda é o falatório empolado que Tite usa para tentar explicar as atuações pífias.

Longa invencibilidade é trunfo para o jogo final

O triunfo na Arena Pantanal deu ao Papão condição excepcional para conquistar a Copa Verde, na próxima quarta-feira (20), no Mangueirão. O duelo de 180 minutos está no intervalo e os bicolores vencem por 1 a 0. Precisa basicamente não sofrer gols nos próximos 90 minutos.

A longa invencibilidade (24 jogos) é um dos trunfos do Papão, pela confiança que transmite a todos. O ponto alto do time é a defesa, que passou incólume no jogo de ida, mesmo sem brilhar.

Ao mesmo tempo, o Papão precisa que seu principal jogador, Nicolas, esteja em noite inspirada. Ponto de equilíbrio da equipe, o atacante costuma marcar sempre em confronto decisivos.

Foi dele o gol salvador que permitiu ao PSC levar o duelo com o Bragantino para a cobrança de penalidades. Marcou também contra o Remo na semifinal e agora, de novo, na primeira batalha da decisão.

Bola na Torre

Giuseppe Tommaso comanda o programa, que começa logo depois do jogo da NBA, na RBA TV. Valmir Rodrigues e este escriba de Baião participam dos debates. Em pauta, a Copa Verde e a Segundinha do Parazão.

Remo engole desaforo e negocia com técnico gaúcho

O orgulho foi deixado de lado e a diretoria do Remo encaminha a contratação de Rafael Jaques, técnico do São José, conhecido muito mais pelas juras de vingança feitas ao clube paraense na Série C e menos pelas suas conquistas como treinador.

Quando o nome de Jaques passou a ser cogitado logo vieram à baila as ameaças proferidas por ele, após o jogo Remo 2 x 1 São José, no Mangueirão, pela fase de classificação da Série C.

Naquela noite, chateado com a derrota e com o que considerou um desrespeito por parte de jogadores reservas do Remo, Jaques disse na entrevista coletiva: “Não tiveram uma postura bacana e isso pode custar caro no domingo que vem. Pode custar caro”.

A frase seria associada ao jogo de compadres da rodada final, entre os gaúchos Juventude e Ypiranga. Ao ameaçar os azulinos, Jaques parecia antever o que ocorreria em Caxias: com vitória em gol de pênalti suspeitíssimo, nos acréscimos, o Ypiranga se classificou alijando os remistas da briga pelo acesso.

É louvável que os dirigentes azulinos tenham passado por cima do episódio, relevando o desaforo de Jaques e demonstrando um nível de educação acima do demonstrado pelo então treinador do São José.

De qualquer forma, Jaques já sabe qual será a primeira pergunta a responder quando for anunciado como técnico do clube.

(Coluna publicada no Bola deste domingo, 17)

Dois Brasis

Por André Forastieri

“Mas tu só fala de gringo nessa newsletter, rapaz, tu não presta atenção em nada made in Brasil?” Olha, difícil. Difícil eu ver filme nacional, ouvir música brasileira, ler romance daqui. Não vou ao teatro há uns trinta anos. Acompanho HQ nacional, que tal? 

Fato da vida: meus baratos são em outras línguas, principalmente inglês. Inclusive prefiro ler Montaigne e Italo Calvino em inglês que em português. 

Esnobismo zero. Sou 100% tupinambá, caipira de Piracicaba, e escolhi São Paulo pra viver, desde 1983. Não tenho a menor ilusão de viver em outro lugar que não este bananão maldito. 

Ou melhor: estes bananões.

O Brasil é engraçado. Melhor dizendo: esses dois Brasis são engraçados. Tem essa turmona que canta junto com a Marília Mendonça, assiste Sílvio Santos e compra produtos anunciados pela Grazi. E tem uma microturma, mais ou menos a minha, que vive com a cabeça em outras latitudes.

Uns mais indies, outros supergeeks, outros definitivamente cabeções, juntando tudo dá o quê, uns 5% dos brasileiros? Acho que menos. A primeira turma não sabe que a segunda existe.

A segunda turma preferia que a primeira não existisse. Ou faz de conta que não existe e pronto. 

Isso fica muito explícito quando você lê nossa imprensa, e nossa imprensa cultural. É esquizofrênico como uma parte da imprensa ignora e outra incensa o que é popular. Uma, a título de “jornalismo de verdade”, que valoriza “qualidade”, versus jornalismo de celebridades.

Outra, porque “é isso que o povo quer”, e tome fofoca sobre os famosos pra dar clique. Jornalista é classe média, ou média para alta, metido a besta profissional, e quando é jornalista cultural, mais ainda. 

Estudamos e moramos em cidades grandes, e se não somos nativos, viemos fugidos do interior. São Paulo tem gente à beça com a cabeça em Londres, Nova York, Barcelona, sei lá. Jornalistas, marketeiros, culturetes. Como dizia o Alex Antunes, “São Paulo não fica no Brasil, fica no mundo.”

Mas o mundo inclui o Brasilzão popularzão, o que a microturma frequentemente não enxerga, ou reconhece. Não é só questão de classe social. Jornalista é sempre elite, mesmo vendendo o almoço pra pagar a janta. E os nossos ricos são tosquésimos. 

Trilha sonora de Bar Mitzvah agora é funk putaria, me informam informantes infiltrados na adolescência atual. Jornalista Cultural muitas vezes escreve para seus amigos, sua panela. Que muitas vezes inclui artistas, o que é péssimo.

Nunca entendi ou curti esse lance de jornalista frequentar seus assuntos. Distância facilita independência e honestidade. Donde sempre há espaço e proteção para artistas do circuito alternativo. Se for minoritário / progressista, mais ainda. Sempre foi assim, agora é mais que nunca. 

Há grande leniência com música “de pobre”, contanto que “raiz”, da “comunidade”, empoderadora etc. Não vou te entediar com minha opinião sobre Ludmilla e Nego do Borel. Só observo que, tirando esta exceção, a distância entre a “alta” e “baixa” culturas. 

Aconteceu em algum momento uma bifurcação? É geracional? É política, porque os sertanejos são bolso? É a internet, que estimula viver em bolhas? 

Passei infância e juventude no universo do Chacrinha / Bolinha / Raul Gil / Barros de Alencar. Não porque era exótico, mas por afeto e afinidade. Sei cantar uns 90% das músicas que tocaram nesses programas entre 1975 e, sei lá, 1988.

Barcinski e eu fomos naquele show “O Cassino do Chacrinha”, uns anos atrás. Pedimos autógrafo para Lilian, “Eu Sou Rebelde”, e tietamos Jane e Herondi… 

Durante esse mesmo período “de formação” em que eu babava pelas pernas da Fernanda Terremoto, ouvia música gringa, pop e obscura. E entre bacalhaus e bundas, lia um monte de coisas gringas, pop e obscuras. 

Eu não via e não vejo contradição entre curtir coisas extremamente populares e extremamente impopulares. Tenho um punhado de amigos iguais, da mesma geração. 

Uso igualmente meus judiados neurônios para fazer sentido de Anitta ou do queridinho das artes plásticas desta semana. De Joseph Conrad ou do Picapau. Não aprecio nada por ser brasileiro ou gringo. Nem por ser famoso ou desconhecido, milionário ou maldito, abençoado ou rejeitado pela crítica.

Não sei pensar a não ser desse jeito bem aberto e bem fechado, bem rampeiro e bem arisco. Essa visão, digamos, democrática, determina minha visão do que deve ser política cultural neste país. Tudo que o mercado tem condições de bancar sozinho, não deve ter grana de dinheiro público. Como essas comédias da Globo Filmes e show do Luan Santana. 

Mas deveria ter dinheiro público para bancar essas exatas coisas pro povão. Que adoraria curtir isso tudo e não tem como pagar entrada. Foi a melhor ideia da Marta Suplicy como ministra, Vale-Cultura, e deveria ter ido pra frente. Well, agora Cultura virou um puxadinho no ministério do Turismo… 

E precisa ter dinheiro público para sustentar a produção e distribuição da arte mais impopular, experimental e herética. Que o mercado não valoriza, a crítica não aplaude, o padre condena, e a mocinha politicamente correta abomina. E, sim tem que dar treta. 

Arte, política, ideologia, tecnologia, economia, da classe A à classe E, e do inescapavelmente popular ao eternamente obscuro – é tudo cultura.