Champions: tudo sobre a penúltima rodada da fase de grupos

Por Silvio Lancellotti

Foram-se quatro das suas seis rodadas na fase de chaves. E, das 32 agremiações ainda em ação nesta Champions League de 2019/20, apenas três, até aqui, já asseguraram as suas vagas nas oitavas-de-final. No Grupo A, o Paris Saint-Germain, PSG, da França. No Grupo B, o Bayern de Munique, Alemanha. No D, a Juventus da Itália. Agora, terça-feira, 29 de Novembro, e quarta-feira, 30, na quinta jornada da competição, em 16 cotejos, outras sete ou oito equipes poderão se qualificar.

Só dependem dos seus próprios desempenhos o Real Madrid (no A), o Tottenham (no B), o Manchester City (no C), o Atlético de Madrid (no D), ou o Liverpool ou o Napoli (no E), ou Barcelona ou Borussia (no F), o RB Leipzig e o Olympique Lyonnais (no G).

Inaugurada, em 1955/56, com o nome de Champions Cup, atualmente na sua 65ª edição, em 1993 a competição se transformou em Champions League e assumiu uma nova formatação, hoje na sua 28ª temporada. Modernizou-se e incorporou diversos clubes além daqueles ganhadores de seus respectivos certames nacionais. Trata-se de quadros selecionados de acordo com um ranking que considera as performances, nos cinco anos recentes, das 55 afiliadas da UEFA e de suas equipes, e que determina o número de times que cada qual poderá inscrever na temporada subsequente.

Aberta em 25 de junho, esta CL prosseguirá até o dia 20 de Maio de 2020, com a final, em jogo único, no Ataturk Olympic de Istambul, Turquia. Principiou com 79 clubes, 26 pré-qualificados à fase de chaves e 53 envolvidos em uma série de eliminatórias, total de 91 jogos, 240 tentos, média de 2,64. Seis elencos sobreviveram e se agregaram àqueles 26. Ou, os melhores 32, então separados em oito chaves, com desafios de turno e returno, em ida e volta.

Nos 64 combates até aqui, das chaves, houve 207 gols, a média de 3,23. Incluída a fase preliminar, um total de 155 cotejos e de 447 tentos, média de 2,88. Exatas 2.803.630 pessoas testemunharam os 64 prélios da fase de chaves, a média de 43.807. E ainda haverá uma rodada derradeira, em 10 e em 11 de Dezembro, com a definição dos dois melhores de cada grupo. Os times que ficarem no terceiro lugar se consolarão numa repescagem da Europa League. Eis as tabelas de classificação e a síntese da semana.

GRUPO A
Jogos do dia 26/11
Real Madrid X PSG
Santiago Bernabéu, Madrid, 81.044 lugares
Galatasaray X Club Brugge
Turk Telekom Stadium, Istambul, 52.223 lugares

Garantido o PSG, o Real Madrid se promove ao vencer o duelo do Bernabéu. Mas, também segue à frente se empatar e o Galatasaray bater o Brugge.

CLASSIFICAÇÃO
1 – Paris Saint-Germain FC (Fra)

12pts – 4j/3v/0e/0d = 10gp/0gc
2 – Real Madrid (Esp)
7pts – 4j/2v/1e/1d = 9gp/5gc
3 – Club Brugge KV (Bel)
2pts – 4j/0v/2e/2d = 2gp/8gc
4 – Galatasaray SK (Tur)
1pts – 4j/0v/1e/3d = 0gp/8gc

Jogos do dia 11/12
PSG X Galatasaray
Club Brugge X Real Madrid

GRUPO B
Jogos do dia 26/11
Tottenham X Olympíacos
Tottenham Hotspur Stadium, Londres, 62.062 lugares
Estrela Vermelha X Bayern
Rajko Mitic Stadium, Belgrado, 55.538 lugares

Garantido o Bayern, o Tottenham se promove se vencer o Olympíacos. Mas, também segue se empatar e o Estrela Vermelha não superar os tedescos.

CLASSIFICAÇÃO
1 – Bayern Munique (Ale)

12pts – 4j/3v/0e/0d = 15gp/4gc
2 – Tottenham Hotspur FC (Ing)
7pts – 4j/2v/1e/1d = 13gp/9gc
3 – Estrela Vermelha (Ser)
3pts – 4j/1v/0e/3d = 3gp/13gc
4 – Olympíacos FC (Gre)
1pts – 4j/0v/1e/3d = 5gp/10gc

Jogos do dia 11/12
Olympíacos X Estrela Vermelha
Bayern X Tottenham

GRUPO C
Jogos do dia 26/11
Manchester City X Shakhtar Donetsk
Etihad Stadium, Manchester, 53.000 lugares (foto acima)
Atalanta X Dínamo Zagreb
Stadio San Siro, Milão, 80.018 lugares

Ao City basta uma igualdade em seus domínios contra o Shakhtar. O segundo qualificado, todavia, apenas sairá dos combates de 11 de Dezembro.

CLASSIFICAÇÃO
1 – Manchester City FC (Ing)

10pts – 4j/3v/1e/0d = 11gp/2gc
2 – FC Shakhtar Donetsk (Ucr)
5pts – 4j/1v/2e/1d = 7gp/9gc
3 – GNK Dínamo Zagreb (Cro)
5pts – 4j/1v/2e/1d = 9gp/7gc
4 – Atalanta BC (Ita)
1pts – 4j/0v/1e/3d = 3gp/12gc

Jogos do dia 11/12
Dínamo Zagreb X Manchester City
Shakhtar Donetsk X Atalanta

GRUPO D
Jogos do dia 26/11
Juventus X Atlético de Madrid
Allianz Stadium, Turim, 41,507 lugares
Lokomotiv Moscou X Bayer Leverkusen
RZD Arena, Moscou, 27.084 lugares

Garantida a Juventus, o Atlético de Madrid se promove se vencer a “Senhora” em Turim. No caso de empatar, porém, apenas seguirá em frente no caso de ocorrer uma igualdade também entre o Lokomotiv e o Bayer. No caso de perder, qualquer solução ficará para os jogos de 11 de Dezembro.

CLASSIFICAÇÃO
1 – Juventus FC (Ita)

10pts – 4j/2v/1e/0d = 9gp/4gc
2 – Atlético de Madrid (Esp)
7pts – 4j/2v/1e/1d = 6gp/4gc
3 – FC Lokomotiv (Rus)
3pts – 4j/1v/0e/3d = 4gp/7gc
4 – Bayer Leverkusen FG (Ale)
3pts – 4j/1v/0e/3d = 3gp/7gc

Jogos do dia 11/12
Atlético de Madrid X Lokomotiv Moscou
Bayer Leverkusen X Juventus

GRUPO E
Jogos do dia 27/11
Liverpool X Napoli
Anfield Road, Liverpool, 53.394 lugares (foto acima)
Genk X RB Salzburgo
Luminus Arena, Genk, 23.718 lugares

Ao Liverpool e ao Napoli basta uma igualdade em seus domínios desde que o Salzburgo não sobrepuje o Genk no gramado do adversário. Os austríacos, além da vitória na Bélgica, ainda dependerão de outros resultados.

CLASSIFICAÇÃO
1 – Liverpool FC (Ing)

9pts – 4j/3v/0e/1d = 10gp/7gc
2 – SSC Napoli (Ita)
8pts – 4j/2v/3d/0e = 6gp/3gc
3 – FCRB Salzburgo (Aus)
4pts – 4j/1v/1e/2d = 12gp/10gc
4 – KRC Genk (Bel)
1pts – 4j/0v/1e/3d = 4gp/12gc

Jogos do dia 10/12
Napoli X Genk
RB Salzburgo X Liverpool

GRUPO F
Jogos do dia 27/11
Barcelona X Borussia Dortmund
Camp Nou, Barcelona, 99.354 lugares
Slavia Praga X Internazionale
Sinobo Stadium, Praga-Vrsovice, 19.370 lugares

O Barcelona se garante com um triunfo sobre o Borussia. E os tedescos se asseguram com um triunfo em visita aos catalães. A Internazionale necessita obrigatoriamente de um sucesso na República Tcheca e ainda assim ficará na dependência da jornada derradeira do seu Grupo F. Caso o Barça e o Borussia permaneçam na igualdade, seguirão à frente se o Slavia superar a Inter.

CLASSIFICAÇÃO
1 – FC Barcelona (Esp)

8pts – 4j/2v/2e/0d = 4gp/2gc
2 – BVB Borussia Dortmund (Ale)
7pts – 4j/2v/1e/1d = 5gp/4gc
3 – FC Internazionale (Ita)
4pts – 4j/1v/1e/2d = 6gp/6gc
4 – SC Slavia Praga (Tch)
2pts – 4j/0v/2e/2d = 2gp/5gc

Jogos do dia 10/12
Internazionale X Barcelona
Borussia Dortmund X Slavia Praga

GRUPO G
Jogos do dia 27/11
RB Leipzig X Benfica
Red Bull Arena, Leipzig, 42.959 lugares
Zenit X Lyon
Krestovsky Stadium, São Petersburgo, 56.196 lugares

O Leipzig se promove com um sucesso sobre o Benfica. Mas, lhe basta uma igualdade caso o Lyon não perca em São Petersburgo. O Lyon precisa vencer o Zenit de modo a eliminar o rival da Rússia. Compulsório um sucesso dos portugueses e dos russos para que o Grupo G se embole e a sua decisão se estenda até os dramas simultâneos e inevitáveis de 10 de Dezembro.

CLASSIFICAÇÃO
1 – RB Leipzig (Ale)

9pts – 4j/3v/0e/1d = 6gp/4gc
2 – Olympique Lyonnais (Fra)
7pts – 4j/1v/1e/1d = 7gp/4gc
3 – FC Zenit (Rus)
4pts – 4j/1v/1e/2d = 5gp/6gc
4 – SL Benfica (Por)
3pts – 4j/1v/0e/3d = 5gp/9gc

Jogos do dia 10/12
Lyon X RB Leipzig
Benfica X Zenit

GRUPO H
Jogos do dia 27/11
Valencia X Chelsea
Estádio de Mestalla, Valência, 55.000 lugares
Lille X Ajax
St. Pierre-Mauroy Stade, Villeneuve-D’Ascq/Lille, 50.186 lugares

Única certeza no Grupo H: aguardar 10 de Dezembro. De todo modo, no caso de sobrepujar o Valencia e de haver uma igualdade tríplice na liderança, o Chelsea ficará com ao menos uma das vagas porque, no múltiplo confronto, levará vantagem diante dos espanhóis e também do Ajax. O mesmo raciocínio favorece o Valencia, caso supere os britânicos. Claro, porém, que a igualdade tríplice prevalecerá apenas se acontecer um empate em ambos os prélios.

CLASSIFICAÇÃO
1 – AFC Ajax (Hol)

7pts – 4j/2v/1e/1d = 10gp/5gc
2 – Chelsea FC (Ing)
7pts – 4j/2v/1e/1d = 7gp/6gc
3 – Valencia CF (Esp)
7pts – 4j/2v/1e/1d = 5gp/5gc
4 – Lille OSC (Fra)
1pts – 4j/0v/1e/3d = 3gp/9gc

Jogos do dia 10/12
Ajax X Valencia
Chelsea X Lille

Em ataques a indígenas no Pará, garimpeiros ilegais movimentam mercado bilionário

Estima-se que garimpos ilegais faturem de R$ 3 a R$ 4 bilhões anuais no país. Em Itaituba, garimpeiros compram cerca de 100 escavadeiras por ano de uma única empresa – cada máquina chega a custar R$ 1 milhão.

Por Daniel Camargos, de Itaituba e Altamira – Repóter Brasil

A imagem do empresário Roberto Katsuda (foto) em Itaituba, principal cidade garimpeira da bacia do Rio Tapajós, no Pará, é de um benfeitor, que distribui picolés e brinquedos para crianças e presenteia com uma moto a vencedora de concurso de miss. Há seis anos na cidade do sudoeste paraense, Katsuda deixou o interior de São Paulo para se tornar o maior revendedor de escavadeiras para os garimpos da região.

“Já vendemos 600 escavadeiras para os garimpeiros”, celebrou durante audiência realizada na Câmara Municipal de Itaituba para discutir a legalização da atividade garimpeira e acompanhada pela Repórter Brasil. As máquinas, que custam entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão cada, são usadas para cavar buracos profundos nas margens dos rios em busca de ouro. 

Pelos dados do empresário, os donos de garimpos de Itaituba investiram entre R$ 300 milhões e R$ 600 milhões apenas em maquinário nos últimos seis anos, uma evidência da força econômica da atividade. Estima-se que o faturamento dos garimpos ilegais no Brasil varie de R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões anuais, segundo dados do Ministério de Minas e Energia revelados durante audiência pública na Câmara dos Deputados

O empresário, que representa a multinacional sul-coreana Hyundai – uma das principais vendedoras de escavadeiras do mundo –, calcula que somente as máquinas vendidas por ele consomem R$ 288 milhões de combustível por ano na cidade. “Agradeço à classe garimpeira, pois são vocês que colocam comida na mesa da minha família”, disse o empresário ao salão lotado. Muitos dos presentes na audiência realizada em 27 de setembro usavam camisetas com os dizeres “Garimpeiro não é bandido. É trabalhador”. Na estampa, a frase é ladeada pelo desenho de duas PCs, como as escavadeiras são chamadas. 

Além de ter encontrado um filão de mercado em Itaituba, cujo apelido é “cidade pepita” (em referência ao ouro abundante), Katsuda conquista projeção política na região. Ele participa das comitivas da cidade, formada por políticos e garimpeiros, que visitam frequentemente Brasília para pleitear mudança na legislação e legalizar a atividade – o que inclui o garimpo em terras indígenas. Em outubro, chegou a ser recebido pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. 

Por conta de seu bom trânsito no mundo político, Katsuda participou de uma entrevista coletiva sentado ao lado do prefeito de Itaituba, Valmir Clímaco, dois dias antes da audiência. Clímaco teve o afastamento do cargo pedido pelo Ministério Público Federal por ter dito, em junho, que receberia “à bala” servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) designados para fiscalizar sua fazenda. A propriedade, reivindicada por indígenas da etnia Munduruku, foi a mesma onde a Polícia Federal encontrou 583 quilos de cocaína em julho deste ano. O prefeito nega envolvimento com a droga.  

Além do prefeito de Itaituba, outros políticos estiveram presentes na audiência, como os deputados federais do Pará que fazem parte da Comissão de Minas e Energia, Airton Faleiro (PT) e Joaquim Passarinho (PSD). O prefeito de Novo Progresso, Ubiraci Soares Silva (PSC), que governa a cidade onde ocorreu o “Dia do Fogo”, também marcou presença.

“Essa pressão toda que está acontecendo dessas ONGs é porque já desmataram o mundo inteiro e querem jogar a conta em cima de nós brasileiros”, disse Katsuda durante a audiência, em discurso sintonizado com representantes do governo que chegaram a atribuir o desmatamento à ação de organizações não governamentais. 

Katsuda disse, em entrevista à Repórter Brasil, que a ilegalidade se deve em grande parte a lentidão do governo para autorizar a abertura de garimpos. Ele contou que esteve em Brasília diversas vezes para se reunir com ministros e que acredita no empenho do governo para simplificar o processo de legalização.  “Tenho gostado bastante do posicionamento do governo Bolsonaro”, afirma.  

O garimpo, juntamente com a extração ilegal de madeira e a pecuária, é um dos responsáveis pelo desmatamento da Amazônia, que cresceu 29,5% nos últimos doze meses – a maior alta em 22 anos, de acordo com dados divulgados nesta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). 

Diante da impossibilidade conseguir licença ambiental para atividades tão predatórias, a maior parte dos garimpos na Amazônia está na ilegalidade. Além do desmatamento clandestino, garimpeiros submetem seus trabalhadores a condições degradantes – por vezes consideradas análogas à escravidão. No ano passado, a Repórter Brasil acompanhou o resgate de 38 homens e mulheres encontrados em situação análoga à escravidão em um garimpo dentro da Floresta Nacional do Amana, em Itaituba. 

Resistência indígena

Antes da audiência, que estava prevista para acontecer em um local de eventos, os Munduruku fecharam a entrada de acesso ao encontro. Com arcos, flechas, bordunas e com os corpos pintados, tentaram impedir a articulação entre representantes do governo e garimpeiros. 

“O garimpo está dividindo nosso povo, trazendo novas doenças, contaminando nossos rios com mercúrio, trazendo drogas, bebidas, armas e prostituição. E ganância”, afirma a carta lida pelos indígenas e entregue aos deputados federais. “O desgoverno do Brasil não fala pelo povo Munduruku”, reitera o documento assinado por 10 associações e que nomeia sua terra como Mundurukânia – como era chamada a região pelos portugueses até o século 19.

Durante o protesto, houve momentos de tensão – indígenas enfrentaram garimpeiros que há décadas invadem seus territórios nas margens dos rios Tapajós e Teles Pires. Na tensa conversa entre os dois lados, Marilu de Lourdes Vobelo, que se identificou como advogada dos indígenas favoráveis ao garimpo, tentou convencer os Munduruku sobre os benefícios da atividade.

“Essas ONGs fazem a cabeça de vocês, mas não dão [faz sinal de contar dinheiro com os dedos] para vocês sobreviverem”, disse. Ela foi contestada por Maria Leusa Munduruku: “Eu tenho certeza que a senhora não é daqui. A senhora está vindo para explorar o nosso território!” 

Com o acesso fechado pelos indígenas, os políticos e garimpeiros mudaram o local da audiência – que aconteceu na Câmara Municipal. Do lado de dentro, a discussão ocorreu em uma sala decorada com um quadro retratando um indígena cercado por  árvores derrubadas já empilhadas em toras e um garimpeiro com sua bateia. Já do lado de fora, o prédio estava cercado por policiais para impedir a entrada dos indígenas. 

Defendida pelo presidente Jair Bolsonaro, a exploração do garimpo em terras indígenas depende da aprovação de uma nova lei pelo Congresso Nacional, como prevê a Constituição. Apesar da pressa por parte do Executivo em legalizar a atividade, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, disse que vai arquivar a proposta que chegar ao Congresso. 

A explosão dos ataques

Com a defesa do garimpo e com o discurso anti-demarcação, a tensão entre indígenas e invasores de seus territórios se agravou desde a posse de Bolsonaro. Foram 160 ataques entre janeiro e setembro deste ano ante 109 ataques em 2018, de acordo com relatório “Violência contra os Povos Indígenas do Brasil”, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Um aumento, até agora, de 47%. 

Em 1º de novembro, o líder indígena Paulo Paulino Guajajara foi assassinado por madeireiros na Terra Indígena Arariboia, no Maranhão. Ele era integrante dos “Guardiões da Floresta”, grupo que faz a defesa do território de invasores interessados em madeira.

No Pará, indígenas Kayapó e Munduruku usam a mesma estratégia de autodefesa: eles criaram grupos responsáveis por fazer rondas nas respectivas terras indígenas. O chefe dos guerreiros Munduruku, Bruno Kaba, reuniu mais de 100 indígenas e, em setembro, depois de uma expedição em busca de novos garimpos em seu território, retiraram 11 escavadeiras usadas para extração de ouro. “Fazemos isso por causa de nossos netos. Tinha muito peixe e está acabando por causa do garimpo”, afirma Kaba. “Eu não vou ficar parado”, completa. 

Já os Kayapó queimaram pontes construídas por madeireiros e garimpeiros e expulsaram os invasores na Terra Indígena Menkragnoty, em Altamira. “Desde o novo governo, convivemos com a preocupação de ter a terra invadida a qualquer momento”, lamenta o cacique Ben Gyraty Kayapó da aldeia Pyngraitire. “Comunicamos pelo rádio e brigamos juntos. Não queremos garimpo, pois nosso rio adoece com o mercúrio”, afirma Bep Té Kayapó.  

Garimpeiros se articulam em grupo de Whatsapp

Enquanto os indígenas organizam estratégias de autodefesa, os garimpeiros de Itaituba se articulam por meio de grupos de Whatsapp, param rodovias e conquistam apoio político.  

Após fiscalização que flagrou um garimpo ilegal dentro da Floresta Nacional dos Tapajós, a advogada Vobelo foi até o local e tentou – sem sucesso – convencer os fiscais a não queimarem as escavadeiras apreendidas. A advogada é a mesma que discutiu com indígenas antes da audiência em Itaituba. 

No garimpo, o discurso da advogada inflamou os garimpeiros contra os fiscais do ICMBio, mas os policiais da Força Nacional agiram para impedir um confronto. Chegaram a disparar um tiro para cima. 

Após a tensão, as máquinas foram queimadas pela fiscalização, com base no artigo 62 do decreto 6.514 de 2008 que diz que, na impossibilidade da apreensão das escavadeiras, deve-se destruir o equipamento como forma de de evitar a continuidade do crime. 

A queima das duas máquinas foi criticada por representantes do governo e levou garimpeiros a fecharem a BR-163 por cinco dias. Nos protestos, eram recorrentes gritos de “Fora ICMBio” e cartazes com imagens das máquinas queimadas. O fechamento da rodovia impactou o escoamento da soja, que sai do Mato Grosso para o porto no rio Tapajós em Itaituba.

A articulação do protesto reuniu mais de 200 garimpeiros em um grupo de Whatsapp, inicialmente batizado de “Interdição BR-163” e, depois, renomeado para “Garimpo a luta continua”. A Repórter Brasil tem acesso ao grupo desde o final de setembro, onde são corriqueiras as ameaças aos fiscais do ICMBio e do Ibama. Os carros das equipes de fiscalização são fotografados, filmados, e as imagens disseminadas entre os membros do grupo. As reações mais comuns são de garimpeiros dizendo que vão revidar, queimando os veículos dos fiscais. 

No grupo, eles também dividiram os custos do protesto e passaram a alinhar o discurso para que os representantes levem as propostas aos encontros em Brasília. 

Três pessoas se destacam na organização do grupo de Whatsapp. Um deles é Vilelu Inácio de Oliveira, que todos chamam de Vilela. Ele acompanhou a advogada na ida ao garimpo flagrado pelo ICMBio para tentar impedir a queima das escavadeiras. Depois de organizar o protesto na rodovia, Vilela foi a Brasília e contou, no aplicativo, que foi recebido pelo ministro Onyx Lorenzoni. 

Vilela disse, em entrevista à Repórter Brasil, que além do grupo de Whastsapp que a reportagem acompanha existem outros 14, todos criados por ele. “A violência parte do ICMBio e do Ibama.  Os garimpeiros gostariam de agir igual esses órgãos fazem com o equipamento deles. É uma forma de desabafo”, afirma. Na análise dele, apesar do discurso de violência, os garimpeiros estão mais calmos. “Cheguei a pegar garimpo que tinha que andar com duas armas na cintura. Sou um sobrevivente. Tenho três balas no corpo e sinal de facão”, complementa.

Vilela troca áudios constantemente com o ex-senador (1995 a 2000) e ex-deputado federal (2007 a 2011) por Rondônia, Ernandes Amorim, que é atualmente vereador em Ariquemes, em Rondônia e um dos mais ativos no grupo de Whatsapp. Amorim foi cassado pelo TSE do cargo de senador, em 2000, por abuso de poder econômico quando foi prefeito de Ariquemes. 

Em um dos áudios, o ex-senador reclama de duas escavadeiras que foram queimadas. “Pessoas nossas ficaram pagando para ver e duas foram para o pau”, disse Amorim. “Esse pessoal não tem pena de ninguém”, afirmou fazendo referência aos fiscais do ICMBio. Procurado pela reportagem, Amorim não retornou as tentativas de contato.

Outro que participa ativamente do grupo e também se reúne com membros do governo é José Altino Machado, que foi presidente da União Nacional dos Garimpeiros na mesma época em que garimpeiros mataram cerca de 40 indígenas ianomâmis na aldeia Haximu, em Roraima, em 1993. Machado negou durante toda a investigação que os garimpeiros eram os autores do massacre e sustentava que as mortes eram motivadas por brigas entre os indígenas. Depois que a investigação concluiu que foram os garimpeiros os responsáveis pelos assassinatos – o que incluiu mutilação às crianças –, ele renunciou à presidência da união dos garimpeiros.

No grupo, Machado mostrou indignação com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, após a promessa de arquivar projetos de lei sobre mineração em terra indígenas. “Imagina o presidente da Câmara dos Deputados pisar na bola desse jeito? A obrigação dele era somente colocar em votação e deixar os colegas decidirem. E o cara de pau vai lá e faz isso.”

Machado hoje faz parte da Associação dos Mineradores do Alto Tapajós (Amot) e critica a criação de áreas indígenas nas últimas décadas, que, segundo ele, foram baseadas em pareceres antropológicos que não são conferidos. “É um país de fantasia. Não conseguiram integrar a Amazônia até hoje”, afirma em entrevista. Machado também critica a ação de organizações não-governamentais e atribui a elas o desejo de implantar uma “anarquia social na Amazônia”.

Articulados e organizados, a pressão realizada pelos garimpeiros é ouvida pelo governo e encontra eco no discurso do presidente Jair Bolsonaro. No início de novembro, o presidente prometeu a um grupo de garimpeiros do Sul do Pará que a legislação que permite queimar equipamentos não será cumprida. “Quem é o cara do Ibama que está fazendo isso no estado lá?”, perguntou Bolsonaro.

Série C 2020 tem grupos praticamente definidos

Definidas as últimas vagas para a Série C de 2020, os grupos ficaram praticamente esboçados, com a provável presença da dupla Re-Pa no Grupo A, fato determinado pela confirmação dos quatro rebaixamentos na Série B (Londrina, São Bento, Criciúma e Vila Nova) .

O Grupo A é formado pelos times do Nordeste e, dependendo do restante dos participantes, é complementado com times do Norte e Centro-Oeste. Em 2019, com 10 nordestinos formando o Grupo A, os nortistas ficaram no Grupo B, com times do Sul e Sudeste do Brasil.

Se o formato de disputa for mantido para 2020, é grande a possibilidade de formação dos seguintes grupos:

Grupo A

Botafogo-PB

Ferroviário-CE

Imperatriz-MA

Jacuipense-BA

Manaus-AM

Paysandu

Remo

Santa Cruz-PE

Treze-PB

Vila Nova-GO

Grupo B

Boa Esporte-MG

Brusque-SC

Criciúma-SC

Ituano-SP

Londrina-PR

São Bento-SP

São José-RS

Tombense-MG

Volta Redonda-RJ

Ypiranga-RS

No NY Times, Glenn denuncia risco à liberdade de expressão no Brasil

No artigo publicado nesta segunda-feira no jornal, Glenn Greenwald denuncia ao mundo as práticas de Bolsonaro para intimidar jornalistas que denunciam as ações arbitrárias de seu governo. 

“O movimento Bolsonaro, como a maioria das facções autoritárias, favorece a intimidação e a violência sobre o discurso cívico – contra seus adversários em geral, mas principalmente contra jornalistas que eles consideram obstáculos. Previsivelmente, o clima para jornalistas desde as eleições presidenciais de 2018 se tornou muito mais perigoso do que antes”, denuncia. 

“Outros jornalistas sofreram ataques semelhantes. Patrícia Campos Mello, jornalista do maior jornal do país, divulgou uma grande história durante a campanha de 2018 sobre financiamento ilegal  por meio de campanhas de mensagens pelo WhatsApp. Ela passou meses sendo alvo de ameaças, juntamente com uma rede de notícias falsas, altamente organizada e bem financiada, espalhando mentiras horríveis sobre ela”, relata. 

“Em julho, uma das jornalistas mais famosas e influentes do país, Miriam Leitão, da Globo, foi forçada a cancelar uma aparição pública depois de ter sido inundada de ameaças após os ataques do presidente contra ela”. 

“Nesse mesmo mês, fui convidado a falar sobre nossas exposições jornalísticas em um famoso evento literário na cidade de Paraty que normalmente atrai autores e jornalistas internacionais. Os organizadores do evento estavam tão preocupados com o número de ameaças de violência direcionadas a mim que exigiram que eu chegasse de barco pequeno e não por terra”, diz ele. 

“Quando chegamos, tivemos fogos de artifício disparados contra nós horizontalmente pelos apoiadores de Bolsonaro. Ao longo do meu discurso, eles continuaram disparando fogos de artifício para nós, um dos quais pousou na multidão de 3.000 pessoas e acendeu uma bandeira em chamas. Os apoiadores de Bolsonaro, incluindo membros do Congresso de seu partido, comemoraram essa agressão”. 

O jornalista segue com as denúncias: “Depois que uma investigação da Globo no mês passado revelou os vínculos da família Bolsonaro com o assassinato de Marielle Franco em 2018, o presidente cumpriu sua promessa de cortar fundos públicos para a Globo. Há muito que ele ameaça fazer o mesmo com o jornal Folha, e até prometeu no último discurso que fez antes de ser eleito presidente que inauguraria um Brasil sem a ‘Folha de São Paulo'”.

“Quando fui chamado para testemunhar perante o Congresso em julho sobre as reportagens do The Intercept, vários membros do partido de Bolsonaro exigiram que eu fosse preso antes de deixar o prédio. Desde que começamos a reportar sobre o explosivo arquivo brasileiro do The Intercept, nem eu nem meu marido saímos de casa uma vez sem uma equipe de seguranças armados e um veículo blindado”

“Antes de sua vitória em 2018, Bolsonaro passou quase três décadas como deputado à margem da vida política por causa de seu apoio manifesto à brutal ditadura militar que governou o país até 1985”, relembra

Fla garante milhões extras com vaga em super Mundial de 2021

O título da Libertadores-2019 garantiu duas vagas em Mundiais ao Flamengo, nesta atual temporada e na competição de novo formato na China-2021. Isso representará mais alguns milhões a serem acrescentados ao considerável montante que o clube acumulará no ano em prêmios: um total de R$ 125 milhões a se confirmar o título Brasileiro. Não é possível saber o valor a ser ganho com o Mundial porque as premiações não estão todas definidas. O Mundial de clubes tem sua premiação estagnada há alguns anos porque não é rentável para a Fifa.

O valor deste ano não foi anunciado. Mas não deve mudar em relação ao ano passado: US$ 5 milhões para o campeão (R$ 21 milhões), US$ 4 milhões para vice, e US$ 2,5 milhões para o terceiro colocado, e outros US$ 2 milhões para o quarto.

A maior vantagem financeira para o Flamengo deve vir na vaga do Mundial-2021. Esse torneio com 24 clubes ainda está sendo organizado pela Fifa, não foram definidos todos os critérios de classificação, o formato da competição e o dinheiro disponível para premiações.

Inicialmente, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, pretendia vender várias edições do torneio, assim como um Liga das Nações de seleções, para um grupo empresarial comandado por um banco japonês. Mas o negócio se tornou tão nebuloso que foi barrado no Conselho da Fifa. Neste período, houve promessa de cotas de até US$ 80 milhões para quem jogasse o torneio. Parecia uma quimera.

De qualquer maneira, é intenção da Fifa fechar um pacote bilionário de direitos pela nova competição. Para isso, tem sentado na mesa com superclubes europeus como Real Madrid e Juventus para tentar fechar o apoio deles ao torneio e assim maximizar cotas. Com a adesão desses times, marcas mundiais, dificilmente não haverá bastante dinheiro disponível para comprar e pagar pelo novo campeonato.

Para além dos milhões extras, um outro aspecto é a exposição do Flamengo ao se incluir em competições com participações dos grandes europeus. O clube já sentiu um gostinho com a final única da Libertadores que gerou uma atenção não vista anteriormente ao torneio. Ressalte-se que não é fácil para um time transformar uma participação em um torneio em presença global. (Do UOL)

Bolsonaro insiste com projeto que concede “licença para matar”

Líderes de partidos do centrão e de outras legendas tendem a barrar o projeto de lei enviado pelo presidente Jair Bolsonaro que prevê excludente de ilicitude para operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), comandadas por militares. Eles receiam que texto crie “licença para matar” até na repressão a manifestações, aponta O Globo.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, está preocupado com o cunho autoritário da medida. Caso a lei seja aprovada, militares e agentes de segurança podem ser isentados por lesionar ou até matar alguém em operações de campo.

Deputados veem semelhança do texto com o recente decreto da autoproclamada presidente da Bolívia, Jeanine Áñez. Os parlamentares avaliam que não há qualquer relação da iniciativa com a pauta da segurança pública. A intenção, segundo eles, é dar mais poder ao governo para reprimir protestos políticos.

O líder do DEM, Elmar Nascimento (BA), é um dos mais críticos: “Esse negócio de dar liberdade para matar eu sou contra. Nós vamos criar uma nova categoria de inimputáveis? É complicado”, diz ele.

Centro-direita vai vencendo eleição no Uruguai por pequena margem

Com a apuração da eleição presidencial quase concluída, o candidato da centro-direita, Lacalle Pou, está à frente do rival de centro-esquerda, Daniel Martínez. Porém, a pequena diferença entre ambos fez com que as autoridades adiassem o resultado oficial.

Devido a uma diferença de pouco mais de 30 mil votos entre os candidatos na apuração em andamento, o Tribunal Eleitoral uruguaio decidiu não divulgar o resultado hoje e adiá-lo para o dia 29 de novembro.

Os dados mais recentes publicados dão conta de que 99,31% das urnas foram apuradas no Uruguai. Lacalle Pou, do Partido Nacional, tem 1.160.829 votos. Já seu adversário, Daniel Martínez, da Frente Ampla, tem 1.130.248 votos. A diferença entre os candidatos é de 30.581 votos e ainda pode diminuir.

Pesquisas de boca de urna chegaram a apontar a vitória de Lacalle Pou logo após o final da votação. Dados da companhia Cifra indicavam que o candidato de centro-direita obteve 49,5% dos votos, contra 46,4% de Martinez. O candidato da direita também tinha vantagem nas pesquisas eleitorais, conforme publicou o jornal El País.

Trivial variado de um mundo cada vez menos suportável

“Boataria de bomba de arrasar quarteirão continua forte em Brasília e nas redações. Algo sobre o terceiro assassino de Marielle no carro dos milicianos? Não é o caso de impedir suspeitos de apagar provas? @SF_Moro parcial!”. Rogério Coreia

“Uma passagem por perfis bolsonaristas no Facebook: todos divulgam fake news, todos são evangélicos, todos acreditam em coisas que não existem”. Lula Falcão

“Essa reclamação de Bozo em relação a mídia comercial é falsa. Bozo, como sabe q seu governo vai naufragar, tenta jogar em cima da mídia o seu fracasso.A mídia comercial está fechada com Bozo, principalmente com sua pauta econômica, q está acabando com os direitos dos trabalhadores”. Gilvan Freitas

“Ayer Albertina Martínez, fue brutalmente asesinada en su domicilio.. Tenía 38 años.. Era periodista, denunciaba la violencia de los carabineros en Chile.. En la Prensa Canalla y Cobarde ni una sola línea por una compañera que se dejó la vida por contar la verdad… “. Sayonara Troika

“Você que tá triste: é só um jogo (e nem é do seu time)! Você que tá feliz: esquece o rancor com os adversários, vai comemorar! Vai ser feliz! Sai do Twitter, porra! Vai curtir, zoar, abraçar xs amigxs, beijar geral… E viva o futebol!”. André Fran

Fogão faz sucesso com modelo de uniforme em homenagem ao remo

Vazou, na tarde de sexta-feira, imagem do uniforme número 2 do Botafogo (veja acima). A camisa preta, que faz referência ao remo, foi lançada na partida contra o Corinthians, neste domingo, no Nilton Santos, ganhando de imediato aplausos e aprovação da torcida nas redes sociais. A informação foi dada primeiramente pelo site FogãoNet e confirmada pelo GloboEsporte.com.

O clube divulgou um vídeo em suas redes sociais para lançar oficialmente o novo uniforme, fabricado pela Kappa. A partir deste sábado, o produto estará à venda nas lojas do clube. O torcedor poderá comprar também na loja do Estádio Nilton Santos, antes da partida de domingo.

O uniforme é uma homenagem ao remo e tem o escudo do Club de Regatas Botafogo, com referências ao primeiro título carioca do esporte, em 1899, quando o Botafogo venceu todas as provas na Baía de Guanabara.

A nova linha de uniformes do Botafogo caiu nas graças dos torcedores, que compraram mais de 2.500 camisas em dois dias de vendas. Os números equivalem a cerca de 90% do estoque das cinco lojas oficiais onde os produtos foram distribuídos no Rio de Janeiro, ainda em outubro.

O início animador das vendas é atribuído à qualidade do material, ao sucesso do evento de lançamento e ao investimento na campanha de divulgação digital. O vídeo postado nas redes sociais do clube teve alcance significativo. Os objetivos comerciais e de marketing iniciais foram atingidos.

Com as graças de Jesus

POR GERSON NOGUEIRA

Jorge Jesus é o grande campeão do continente. A façanha de sábado à tarde, indo do inferno ao paraíso em três minutos, entra definitivamente para a galeria de grandes feitos de um técnico no Brasil. O seu Flamengo precisou de três minutos para virar um jogo que parecia perdido, após quase 90 minutos de vitória e controle do River de Gallardo.

Até a imprensa europeia – como os jornais espanhóis Marca e As –, normalmente comedida em relação à América do Sul, rendeu-se ao espetacular desfecho da decisão e destacou como épica a reviravolta no placar obtida pelo time rubro-negro.

Nunca na história da Libertadores uma decisão mobilizou tanta atenção no Brasil e no reto do mundo. Nas ruas e praças embandeiradas de todas as cidades, o jogo foi esperado com ansiedade e clima de Copa do Mundo.

O Flamengo, impulsionado por uma formidável cobertura midiática, encarnou a mística do Brasil bom de bola. E não há injustiça nisso, afinal fazia muito tempo que um time não jogava tão à moda brasileira.

Curiosamente, quando a bola rolou no Monumental de Lima, aquele espírito de futebol moleque e desassombrado não deu as caras. Tímido e acuado, aceitando passivamente a marcação imposta pelo River, o Fla se apequenou a ponto de fazer esquecer o estilo avassalador de outros jogos.

Tudo piorou aos 14 minutos, quando o colombiano Borré abriu o placar aproveitando cochilo de William Arão, Gerson e toda a zaga rubro-negra.

O tempo foi passando, o River perdendo chances e controlando o jogo com muita tranquilidade. Bruno Henrique e Rafinha ainda tentavam alguma coisa, mas Everton, Arrascaeta e Gabigol seguiam fora de jogo.

Por sorte, o Flamengo saiu do 1º tempo sem tomar mais gols. No intervalo, pelo que se tem notícia, Jesus chamou o time às falas. Deve ter apontado os muitos erros de posicionamento e a baixa intensidade demonstrada.

O reinício da partida mostrou um Flamengo melhor, correndo mais, porém ainda sob domínio argentino. Palácios, Enzo Perez, Borré e Pinola jogavam com absoluta facilidade. No gol, Armani não era incomodado.

Houve o lance agudo com Bruno Henrique e Everton, no qual a bola se apresentou para o arremate, mas o meia bateu justamente no canto onde Armani estava. O goleiro não teve nem trabalho para agarrar a bola.

O tempo ia passando e nada de uma reação, embora a torcida se comportasse como normalmente a argentina faça: cantando o tempo todo, como se não houvesse amanhã.

Já passava da metade da etapa final quando Jesus resolveu partir para o tudo ou nada, com Diego no lugar de Gerson e Vitinho no de Arão. Acabou dando certo, embora seja patente que o desgaste físico do River contribuiu para a ascensão rubro-negra.

Foi então que apareceram as ações ofensivas, com Diego mais próximo a Arrascaeta e Everton, Bruno Henrique e Gabigol. Como não havia ocorrido por 80 minutos, a partir dos 35 minutos o Flamengo ousado e destemido irrompeu em campo, como se tivesse finalmente sido ligado na tomada.

Aí Gabigol entrou em cena. O primeiro gol veio de um erro inicial de Pratto na defesa do Flamengo. O bom Bruno Henrique, que escapou à ruindade geral na primeira parte do jogo, foi decisivo no lance. Três minutos depois, em falha de Pinola e finalização inspirada de Gabigol, veio a vitória inacreditável àquela altura do confronto.

O resto é festa rubro-negra, complementada pelo título brasileiro ganho antecipadamente ontem. E ainda falta o Mundial Interclubes.

Sobre Jesus, impossível não reconhecer a força de suas orientações ao time, que prevaleceram na reta final, jogando mais ou menos por 12 minutos de um futebol à altura do Flamengo atual. Teve a sorte que não pode faltar aos grandes campeões. Levava um nó tático de Gallardo e conseguiu a virada improvável, com gols que caíram do céu. Tite que se cuide.

Diretoria do Remo confirma Jaques no comando

O técnico Rafael Jaques se despediu do São José, ontem à tarde, recebendo homenagens pelo trabalho desenvolvido no clube gaúcho. Seu destino é o Remo, onde se apresentará no dia 1º de dezembro. Logo depois de anunciado o desligamento, a diretoria azulina pôs fim ao mistério e confirmou nas redes sociais a contratação do treinador.

Vem cercado de expectativas e também de desconfianças. É o maior desafio da carreira de Jaques. Afinal, vai trabalhar pela primeira vez em um clube de massa, com as pressões normais de uma torcida extremamente exigente. Seu primeiro teste será o Parazão. A conferir.

Mérito a quem tem

Guilherme Barra, jornalista dos bons, que comandou a redação do Diário do Pará na transição para a modernidade, é um dos grandes responsáveis pela elaboração do projeto do Bola, tabloide lançado em junho de 1998 no dia da abertura da Copa do Mundo da França.

Na coluna de domingo, dedicada ao companheiro Atorres, mencionei o Bola e citei alguns nomes. Acabei esquecendo o amigo Barra, que foi um dos valorosos profissionais que discutiram o formato e o nome do caderno. Faço aqui a devida e justa reparação.  

O injusto ataque da torcida rubro-negra à Globo

Poucas forças se colocaram tão a serviço do crescimento popular do Flamengo quanto a Rede Globo. Isso acontece há anos através das coberturas, algumas visivelmente parciais, e também pela influência como grande parceira da CBF desde os tempos de Havelange.

Um exemplo dessa íntima ligação entre a emissora e o clube é a cinematográfica cobertura em torno da final da Libertadores e os festejos pós-conquista. Por isso, a hostilidade às equipes da Globo ontem no Rio soa como ingratidão a quem sempre tratou o Flamengo tão bem.

(Coluna publicada no Bola desta segunda-feira, 25)

A evolução natural dos jornais

Por Eduardo Tessler

Se alguém por acaso ainda não se deu conta, os meios impressos foram os mais impactados — por tabela — pela revolução digital das comunicações. O motivo é simples de se entender: por que alguém vai querer pagar por um produto fechado (não interativo), cujo fechamento ocorreu pelo menos 8 horas antes da chegada na casa do assinante, quando outros meios são mais ágeis, mais atualizados e até grátis? Difícil competir, se jornais e revistas seguirem considerando-se os donos da notícia.

Ou mudam, ou morrem.

As fórmulas de sobrevivência são muitas, bem como as explicações para os passos a seguir. Em 99,9% dos casos de quem mudou a forma (e a frequência) de editar um jornal ou uma revista, a causa da “inovação” é puramente econômica — ainda que se tente vender o peixe da modernidade, da evolução natural.

A primeira marca relevante do Brasil a abrir mão da edição diária em papel e apostar em um semanal impresso, com forte operação digital durante a semana, foi a Gazeta do Povo, de Curitiba (PR), em 2017. Verdade que antes, em 2010, o histórico Jornal do Brasil (Rio de Janeiro, RJ) abandonou o papel e adotou o 100% digital. Mas não houve qualquer preocupação com a linguagem digital, era o papel sem papel (PDF).

Sim, a Gazeta do Povo inovou. Mas calma: a Gazeta vinha em queda livre de receitas, circulação pífia e Ebitda negativo desde alguns anos. Tentou a fórmula mágica da economia de papel com um desastrado projeto de redução de formato (standard a berliner), no final de 2015. Fracassou. Até que abandonou o papel de segundas a sextas, criou uma edição robusta de fim de semana e apostou em bom jornalismo digital. O resultado econômico ainda não veio, mas os indicadores prometem que se pense em azul a partir de 2021.

Sem dúvidas a pressa nas mudanças e a falta de planejamento comprometeu o sucesso da Gazeta. Com um pouco mais de estudos e movimentos responsáveis, talvez essa conta já teria sido paga. Foi a mesma falta de planejamento – e movimentos acelerados – que prejudicou grupos outrora fortes como A Cidade, de Ribeirão Preto (SP). Um movimento de troca de modelo de negócios não pode, definitivamente, ser feita sem que os clientes saibam e concordem. Ou não funcionará.

Um bom exemplo de como fazer a transição papel-digital com inteligência e planejamento vem do Grupo Gazeta, de Vitória (ES). Durante mais de um ano se trabalhou internamente para que o conteúdo digital tivesse a mesma (ou maior) relevância do que o impresso. Investimento, análise de performance, ferramentas de dados, jornalismo de primeira. Depois o plano, ainda secreto, começou a ser dividido com os maiores anunciantes. Por fim o anúncio público, com prazo de 40 dias até descontinuar o impresso diário e vitaminar a edição semanal.

Um mau exemplo dessa mesma transição chega agora do Grupo NSC, de Florianópolis (SC), que acaba de interromper a circulação diária de Diário Catarinense, A Notícia (Joinville) e Jornal de Santa Catarina (Blumenau), todos líderes em suas regiões. Antigo braço catarinense da gaúcha RBS, a NSC não soube fazer dos impressos um bom negócio. E, de repente, com um olho no balanço e outro no precipício, anunciou o fim das edições diárias de suas três marcas. Dois anos antes havia feito um carnaval para lançar uma edição conjunta das três marcas aos fins de semana, hoje sepultada. Sobrevive uma edição arrevistada de cada marca aos fins de semana. Parece um filme com final (infeliz) anunciado.

Enfim, as transformações das empresas de comunicação acontecem, acompanhando o comportamento da sociedade. Não está escrito em nenhuma parte que os impressos vão morrer. Mas quem não entender o comportamento de sua audiência precisará acender uma vela antes do tempo. Diversos exemplos apareceram no evento WAN-Ifra Digital Latam, semana passada no Rio.

Analisar, estudar, arriscar e tomar decisões na hora certa. Trata-se da evolução natural dessa indústria. Mas correr para apenas fechar a torneira do custo-papel, sem planejamento, é suicídio.

*Crédito da foto no topo: Paket/istock