POR GERSON NOGUEIRA
O Remo tem sido escalado por Eudes Pedro em jogos e treinos num sistema tático diferente daquele que prevalecia nos tempos de Márcio Fernandes. Ao contrário do 4-4-2 que o antecessor preferia, o novo técnico adota formação de pegada mais agressiva, que na maioria das vezes pode ser definida como um 4-2-1-3.
A goleada de 6 a 1 sobre o Atlético-AC, pela segunda fase da Copa Verde, foi o cartão de visitas dessa estratégia, que visa dar ao Remo uma consistência ofensiva que tanta falta fez na reta final da Série C. É claro que o placar dilatado não pode ser adotado como obsessão, mas como referência para uma nova filosofia de jogo.
Na semana do primeiro Re-Pa da semifinal da Copa Verde, Eudes tem treinado algumas variações. Ensaia utilizar Zotti ou Garré como parceiros de Eduardo Ramos na movimentação criativa do meio-campo.
Zotti, que esteve em campo contra o Atlético-AC, é um jogador ainda em busca de afirmação no time e junto à torcida. De inegável qualidade técnica e boa capacidade de passe, o meia-armador sofre apagões e desperta desconfianças pelo estilo aparentemente lento.
As distrações contra Tombense e Boa Esporte, que resultaram em gols, ainda no começo da Série C, deixaram Zotti sob questionamentos no Evandro Almeida. Aliás, por temer a reação da torcida, Márcio Fernandes erradamente decidiu não colocá-lo em campo diante do mesmo Tombense (em Belém) quando Garré se lesionou.
A história do Remo na competição nacional poderia ter ido outra, caso Zotti tivesse sido lançado para recompor o meio contra a equipe mineira. Garré, cuja última aparição foi justamente naquela partida, espera a vez de mostrar utilidade. Tem em seu favor características que casam melhor com o estilo de Eduardo Ramos.
Garré é um condutor de bola, como Ramos, mas sabe verticalizar o jogo, principalmente quando investe na diagonal em direção à área. Para isso, usa o drible em velocidade como arma, o que pode ser decisivo contra equipes muito fechadas.
Eudes, porém, tem uma outra alternativa para deixar a equipe mais próxima de um 4-3-3: manter Wesley como titular, ao lado de Neto Baiano e Gustavo Ramos. Com o trio em campo, o Remo atropelou o Atlético no Baenão. Gustavo pode ser o jogador da recomposição quando o time for atacado pelas laterais. Wesley pode ser o parceiro de Euardo Ramos quando for necessário povoar o setor criativo.
Há, ainda, chance de aproveitamento do garoto Hélio Borges, que chegou a ser escalado como lateral direito por Fernandes, mas entrou (bem) no ataque na parte final da partida contra os acreanos.
São as possibilidades disponíveis para Eudes, que terá no domingo a grande prova de fogo de sua curtíssima carreira como treinador.
Na coluna de amanhã, alguns pitacos sobre o PSC de Hélio dos Anjos.
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Do esporte nacional de distribuir comendas inúteis
Bem no estilo da Câmara Municipal de Belém, que parece ter como prioridade distribuir uma penca de títulos honoríficos inúteis, a Assembleia Legislativa inventou uma marmota que divide até a torcida do Flamengo.
Decidiu, por iniciativa de três parlamentares ávidos por espaço na mídia, conceder a Medalha Tiradentes ao técnico Jorge Jesus, no dia 7 de agosto. É considerada a principal honraria da Assembleia Legislativa do Rio.
Pai d’égua é a justificativa para concessão da comenda: os deputados citam a carreira do técnico português como técnico e jogador, enaltecendo seus títulos (nem tantos assim) e feitos (modestos).
Curiosamente, não há qualquer menção ao benefício ou contribuição que o homenageado tenha dado à Cidade Maravilhosa. Com salários que giram em torno de R$ 2 milhões, JJ faz bom trabalho no Fla, mas até agora não conquistou nada.
Como acontece com os títulos de Cidadão e Belém, distribuídos a rodo pelos legisladores paraenses e ignorados solenemente pelos homenageados, essa compulsão por puxar saco provavelmente nem será levada em conta pelo próprio Mister, que parece felizmente avesso a esses salamaleques.
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Torcidas (ainda) são a última fronteira do futebol-raiz
Acostumamos a ver o torcedor de futebol como um fanático radical, um talibã das arquibancadas, sempre pronto a guerrear por sua bandeira. É o lado distorcido da paixão que toma a frente da imagem dos adeptos nos estádios. É como se só a agressividade ou a violência fosse um atestado de amor incondicional.
Não é bem assim, felizmente.
O devotamento a uma paixão clubística não se traduz ou explica por gestos bélicos. Anteontem à noite, em Florianópolis, a torcida do Figueirense deu uma demonstração didática e comovente de pertencimento a uma causa esportiva.
Com a ameaça de desistência de competir na Série B, por iniciativa da empresa que administrava o futebol do clube, a torcida foi em peso ao jogo contra o Bragantino para mostrar quem de fato decide as coisas.
Dirigentes e empresário passam, o clube permanece. Este foi o recado da celebração dos torcedores do Figueira mesmo depois que o time foi derrotado por 3 a 0 pelo líder da Segundona. Lembrou as festas quase insanas das torcidas argentinas, que cantam e dançam o amor pelo clube mesmo com a vitória não vem.
(Coluna publicada no Bola desta quinta-feira, 26)