POR GERSON NOGUEIRA
Os jogos da dupla Re-Pa na primeira fase da Copa Verde serviram para reapresentar às torcidas jogadores que estavam sem jogar na Série C, por uma ou outra razão. É verdade que poucos aproveitaram bem a chance oferecida pelos técnicos, forçados a poupar titulares que disputam o Campeonato Brasileiro.
Dos que entraram no PSC nas partidas contra o Nacional-AM, Vinícius Leite foi o que mais chamou atenção e ganhou pontos. Atuou com desenvoltura, principalmente no jogo de volta, na Curuzu. Apesar do placar em branco, ele foi o atacante mais participativo, chutando da entrada da área com perigo e participação das articulações.
Habilidoso e rápido, Vinícius não é titular na Série C por opção do técnico Hélio dos Anjos, que tem optado por um trio ofensivo com Higor, Nicolas e Wesley Pacheco. Como a formação encaixou, garantindo a excepcional marca de oito gols em três jogos (São José, Atlético-AC e Luverdense), dificilmente haverá modificação de planos até o fim da competição.
Ocorre que alguns suplentes são mais utilizados que outros, no decorrer dos jogos ou substituindo titulares suspensos, e é importante que estejam em condições plenas de suprir as necessidades do time.
Vinícius, Elielton e Jheimy estão nesse pequeno grupo de atletas a que Hélio dos Anjos costuma recorrer quando um dos titulares do ataque fica impossibilitado de jogar.
Na contramão do bom papel exercido por Vinícius Leite, alguns jogadores frustraram expectativas. É o caso de Jheimy, que foi escalado e não tirou a má impressão deixada ainda no período de Léo Condé no comando técnico. Bruno Oliveira reapareceu na terça-feira, na partida realizada na Curuzu, e também não teve boa atuação.
Do lado azulino, Mimica foi quem mais se sobressaiu nos jogos da Copa Verde. Não que isso seja exatamente uma novidade. Em condições normais seria titular absoluto do Remo na Série C, mas vem de longa inatividade. Precisou passar por um período de transição após a séria contusão sofrida no primeiro Re-Pa do campeonato estadual.
Nos confrontos com o Sobradinho, ricos em falhas coletivas e individuais, as atuações seguras de Mimica talvez tenham sido a melhor notícia para a torcida azulina, juntamente com a aparição do jovem Hélio Borges. Firme no jogo aéreo, forte nos desarmes e combate à entrada da área, o zagueiro provou que está pronto para voltar ao time titular caso surja uma oportunidade na fase decisiva da Série C.
É indiscutível que Mimica recuperou a confiança e o tempo de jogo, deixando claro que está inteiramente pronto para ser escalado por Márcio Fernandes. Quanto a Hélio, ganhou destaque pela desinibição desde que foi lançado no 2º tempo da partida realizada em Ceilândia.
Anteontem, no Mangueirão, em meio à pífia atuação da equipe, teve participação decisiva construindo e executando a jogada do segundo gol. Ao contrário de Pingo, excessivamente nervoso, o atacante aproveitou bem a oportunidade que lhe foi concedida.
O fato é que a utilização de reservas na Copa Verde confirma a impressão de que os elencos montados por PSC e Remo para a Terceira Divisão estão abaixo das expectativas, levando-se em conta os gastos e a quantidade de jogadores contratados. O nível técnico insatisfatório fica ainda mais evidenciado quando os reservas entram em campo.
Pelo que foi mostrado na primeira fase da Copa Verde, tanto Hélio dos Anjos quanto Márcio Fernandes terão que operar pequenos milagres sempre que precisarem lançar mão de times mesclados – e torcer para que na Série C os titulares não precisem ser substituídos.
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Efeitos e importância da greve do Figueirense
O time sub-23 do Figueirense imitou a atitude da equipe profissional e não entrou em campo para enfrentar o Santos, ontem, pelo Brasileiro de Aspirantes. Com pendências salariais e dívidas de direito de imagem, o Figueirense já havia perdido por W.O. para o Cuiabá, anteontem, na Série B.
Os atletas sub-23 do Figueirense foram ao estádio da Portuguesa Santista, onde o Santos manda seus jogos das categorias de base, mas nem saíram do vestiário. Na hora do hino nacional, apenas os atletas do Santos compareceram.
A arbitragem esperou os 30 minutos protocolares e aplicou o W.O. Com isso, o Peixe venceu por 3 a 0, chegou a sete pontos no grupo D da competição e deixou o Figueirense na lanterna com três.
A principal contribuição que os jogadores do Figueirensse estão dando ao futebol profissional no Brasil é desnudar uma estrutura viciosa, na qual diretorias de clubes ainda abusam da irresponsabilidade e se beneficiam da impunidade que reina nessa área.
É uma espécie de caixa-preta, que nem mesmo instrumentos modernos de controle fiscal e financeiro, como as normas que previam perda dos direitos econômicos de um atleta quando os clubes atrasam o pagamento de salários, conseguiram sanear e impor controles.
Sempre há uma brecha jurídica a facilitar a movimentação da banda podre da cartolagem, que age livremente, deixando rombos nas contas e envergonhando instituições centenárias, como é o caso do Figueirense.
Situações desse tipo se repetem por todo o Brasil, mas a CBF finge não ver e os sindicatos de atletas raramente têm força política para adotar medidas que protejam os interesses de seus filiados. A coisa acaba se perpetuando, muitas vezes estourando apenas na Justiça Trabalhista.
Algo precisa mudar. Os atletas do Figueirense estão mostrando o caminho.
(Coluna publicada no Bola desta sexta-feira, 23)