Pelé e Garrincha fizeram falta

HISTÓRIA DA COPA DO MUNDO 1958

Por José Inácio Werneck

Odense, Dinamarca – Quem levou Leônidas da Silva a inventar a bicicleta?

Quem ensinou Garrincha a desmontar defesas adversárias?

Quem ensinou Pelé a jogar bola?

Eles aprenderam nas várzeas, nos terrenos baldios, nas infinitas peladas dos “fominhas”.

Para ficar em Garrincha: um dia, quando já tinha 20 anos, alguém o levou a um treino do Botafogo, onde ele prontamente deu um baile em Nílton Santos que, àquela altura, já era jogador da Seleção Brasileira. Nílton Santos, a “Enciclopédia do Fultebol”, foi  à diretoria e  disse: “contratem”.

Em sua estreia, contra o Bonsucesso, Garrincha marcou três gols na vitória de 6 a 3.

Hoje, as crianças não jogam em terrenos baldios, nem em várzeas. Não aprendem com naturalidade, contra outros melhores ou piores de sua idade, superando  seus próprios defeitos. Há sempre uma escolinha e um adulto que lhes diz: chutem assim ou assado, passem, não driblem.

Há uma mesmice mundial. Nos Estados Unidos me pediram durante algum tempo para treinar times de crianças, com seis, sete anos. Vi que era uma máquina: os meninos e as meninas chegam com sacos cheios de bola, os técnicos colocam os cones, dizem para correr entre os cones, chutar com o peito do pé (“the laces”), com o lado de dentro, com o lado de fora. Depois, “ensinam” o “Cruyff move” e outras jogadas.

Quando acaba, as crianças colocam as bolas nos sacos, vão para casa, não pegam em bola outra vez até o próximo treino.

Como o futebol de rua, de várzeas e  de terrenos baldios não existe mais e as seleções europeias estão incorporando representantes de outras etnias, imigrantes ou filhos de imigrantes, nossa capacidade de surpreender acabou.

A vantagem que tínhamos de ser diferentes acabou. Uma seleção belga hoje tem a mesma cara do Brasil.

Com Pelé e Garrincha, o Brasil nunca perdeu uma partida. Neymar joga bem, mas não faz o indispensável contraste e falta a ele o essencial elemento da humildade.

3 comentários em “Pelé e Garrincha fizeram falta

  1. NÃO PERDEMOS PELÉ E GARRINCHA
    Perdemos tudo o mais: a bola de meia, a trave com duas sandálias havaianas, o campo em terreno inclinado, a lama, as pedras, o berro do vizinho aborrecido com a algazarra, a suadeira, a torcida, o perdeu sai, o pega prá capá das porradas, a escolha dos goleiros, o mico quando nosso time perdia, a euforia quando nosso time vencia, os olheiros que “raptavam” os moleques e levavam direto pros clubes grandes, enfim…,
    Tudo faz falta a uma seleção dirigida por um pastor de auto-ajuda e composta por um bando de mininos riquinhos, que não sabem onde fica nem o que é VÁRZEA, mininos oriundos do FUTSAL, essa porcaria de esporte in door, que ensina driblar por driblar.
    FALTA TUDO, DE ÉTICA A UMA BOA PELADA EM FIM DE TARDE NA FRENTE DE CASA!

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  2. Parem com isso, Pelé sim, um exemplo profissional, disse que queria ir pro Santos, mas nao sabia chutar com a esquerda, seu Pai o repreendeu e ele prontamente passou o dia seguinte treinando com a esquerda, era um atleta bem focado, exmplo tambem como profissional, hoje em dia vamos ter cada vez menos Garrinchas ( graças a Deus ) isto é jogadores sem o mínino respeito pela parte física, sem compromisso com treinamento, virando noites enchendo a cara, achando que o talento natural tudo resolverá, vocês jornalistas adoram promover esse tipo de atitude boêmia, espero que nunca mais nenhum jogador desses amantes da vida boêmia torne a ganhar uma bola de ouro, que cada vez mais CR7’s e Messis apareçam, pessoas cujo amor ao que fazem levem a uma prática constante e meticulosa do futebol, outra coisa, perdemos pq outros foram mais aplicados, apenas isso, nem CR7 ou Messi conseguiram carregar os times nas costas até as semi, não acham que é muito exigir isso do Neymar?

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  3. Os esquemas táticos daquela época eram diferentes dos de hoje. Se dava muito espaço, hoje não. Se jogava mais pelo individual. Não acredito que nos dias de hoje renderiam tanto.

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