POR GERSON NOGUEIRA
A coluna abre espaço para a manifestação oportuna de um craque das letras, fino observador refinado da cena boleira, sobre a Copa do Mundo.
Com vocês, Edyr Augusto Proença:
“Sabe, Gerson,
Depois de ler aquele texto escrito pelo Paulo César Caju, fiquei pensando em qual seria a escola brasileira de futebol, hoje. Não podemos citar quase nenhuma das nossas equipes. Algumas fazem algo interessante como Grêmio, o Corinthians de Tite, e sei lá quem mais. Mas eles atualizaram a forma de jogar a partir da revolução de Guardiola na Espanha. Compactação, jogo no campo do adversário, passes rápidos e curtos, você sabe. E como nossa seleção mostraria esse “futebol brasileiro” que o Caju pede? Todos os jogadores, com uma ou duas exceções jogam na Europa. Enfim. Claro que tenho assistido a todos os jogos. Também acho que Tite foi endeusado, acho que ele cometeu erros. Qual a razão para nossos técnicos levarem sempre jogadores que ‘confiam’, que já passaram por suas mãos, mesmo que sem qualidade suficiente? Tantos corintianos. E os rapazes da Ucrânia, sempre convocados, nunca escalados. Nem quero me meter por esse caminho que é nebuloso. E convocações por merecimento, digamos. Renato Augusto jogou bem em momentos importantes, durante as Eliminatórias. Depois, como todos os que vão para a China, sumiu. Paulinho, que já havia ido para a China, com a seleção foi parar no Barcelona, onde foi pro banco e agora, novamente despachado para a China. Qual a razão de convocar atletas que não estão no seu ápice? Houve outros erros, todos estão comentando. Quem perde, sabe que tudo o que disse será usado contra si. Mas, com tudo isso, tendo em vista o que tenho assistido, acho que tivemos contra a Bélgica, sobretudo, um mau dia. Não deu certo. Sim, Tite bancou Marcelo, o grande craque, sabendo de um espaço às suas costas. Estava sem Casemiro que costuma fazer cobertura no Real. Houve o primeiro gol. Aconteceram outros, iguais, cabeçada no primeiro pau, batendo ou não no braço, cabeça ou qualquer outra parte do defensor. Sim, os brasileiros gelaram, não sei como. Quase todos atuam como destaque em grandes clubes, acostumados a grandes momentos. Sim, o tal Lukaku conseguiu passar em contra-ataque para De Bruyne. Se fosse Neymar, não se contentaria com aquele chute seco e forte que foi gol. Tentaria passar espetacularmente pelos beques e goleiro antes de chutar, com desprezo, para o gol. A partir daí, os belgas fizeram um castelinho à frente da área, que orgulharia Joel Santana. Homens altos, pouca distância entre si, enfim, difícil. Aí vêm os erros. Vejo os croatas com Modric e Rakitic, cada um de um lado, armando, tendo mais atrás um ic qualquer que não lembro o nome. Nós não temos. Coutinho é atacante. Marcelo, ele e Neymar de um lado, fizeram grandes jogadas. A bola não entrou. Mas como voltar para combater, no caso de Coutinho, se tinha de penetrar no castelinho belga? O cara cansou. E então falam que William nem devia estar na seleção. Sim, é verdade que o Douglas entrou com toda a flama. Concordo. Mas a seleção, há muito, é capenga. Se do lado esquerdo temos Marcelo, Neymar e Coutinho, do outro lado, temos apenas William. Fagner não podia subir por conta da velocidade de Hazard, e Paulinho – bem, onde estava Paulinho? Algumas vezes William enveredou pelo meio à procura de uma jogada. Tentou poucas vezes a linha de fundo. Não tinha apoio. Sim, não estava inspirado, mas a seleção é capenga. O pior caso é do Gabriel de Jesus. Coitada, sua mãe e o patrocinador ficaram esperando ele fazer uma ligação e nada. O garoto não estava bem. Firmino, ao contrário, estava na decisão da Champions. Tite bancou Gabriel tipo ele vai deslanchar e eu vou rir da cara de vocês. Será? Foi um risco calculado escalar Marcelo ou foi surpreendido por Lukaku na ponta-direita?
Mas a bola não entrou. Perdemos chances. Eles perderam menos. Num dia melhor passaríamos. Se você lembra, Gerson, nossas seleções costumam melhorar durante a Copa, como se a primeira fase servisse para entrosamento. Não falo de Neymar? Acho que foi um dos momentos mais ridículos que o mundo já viu sua entrada em campo com aquele topete louro. Pô, ninguém avisa? Aí, irmão, estás ridículo, para com isso. Queria ser o rei do mundo e agora é ridicularizado. Mas diga-se, passou três meses parado, com fratura, pino colocado. Ninguém volta inteiro. Nos outros jogos, veio de cabelo normal e até passou a bola. Estava subindo de produção. Agora, fica mais uma temporada se enganando e ficando milionário no PSG e aquele campeonato francês, fraquinho. E a idade, ih, acho que passou a hora. Foi um dia ruim. A bola podia ter entrado, mesmo com aqueles gigantes, até Lukaku dando bicão pra longe. Depois, a Bélgica foi se queixar que a França ficou na retranca, Giroud dando bico dentro da área.
Não vi nas outras seleções tanta coisa melhor que a nossa. Acho que perdemos no meio campo. Em Paulinho e em empurrar Coutinho para dentro da área. A seleção belga tem dois beques ruins, que, nervosos, chutam para qualquer lado. Os laterais não são superiores aos nossos. E olha que era o carniceiro Fagner. Na frente, o trio Hazard, De Bruyne e Lukaku funcionou. Hazard, no mínimo é igual a Neymar. DeBruyne, no mínimo é igual a Coutinho. Quanto a Lukaku, bem, Gabriel nem existiu, mas é um rompedor com alguma categoria. Me chamou a atenção desses times todos mantendo um centroavante poste. Lembrei até do Henrique Dourado do Flamengo vendo o Giroud da França. O Kane é bom, mas não deu. O Mandzukic é bom e na hora do vamos ver funcionou. E o Brasil com o Gabrielzinho… Está bem, era a proposta de um jogo rápido, mas não rolou. A passagem de bola foi lenta. Até chegar à intermediária, todos os belgas já estavam lá. Foi um bate e volta sem parar. A bola podia ter entrado, mesmo assim. Paciência. Não foi dia.
A Croácia é melhor que o Brasil? Não. Modric e Rakitic realmente são ótimos. Para mim, Modric é o melhor da Copa. Mas, um por um, entre os outros jogadores, sou mais Brasil. A zaga da França é tão boa quanto a do Brasil. Kanté é tão bom quanto Casemiro. O Mbappe é muito bom, mas ainda precisa comer muita farinha. Pogba é excelente. Mais um meio de campo que nos supera em qualidade. O Brasil, com todos os seus erros, podia estar lá. Podia, sim. Jogando da maneira europeizada, como quase todos, mas podia. Acho que faltou dizer isso, sabe, Gerson.
Mandzukic jogou mal o jogo inteiro contra os ingleses, mas fez aquele gol. A bola entrou. Não há no Brasil um técnico melhor que Tite, no momento, mas volto ao Caju. Haveria uma maneira brasileira de jogar? Com todos os jogadores estando fora e a situação local tão ruim? A gente podia estar na decisão. É o que acho.”
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Belgas e ingleses no jogo menos charmoso da Copa
Por tradição, a disputa de terceiro lugar é quase que uma tortura para os envolvidos. São aqueles enjeitados no bale principal, que ficaram a um passo do Olimpo e acabaram deixando escapar a chance.
Quis o destino que os preliantes sejam duas seleções que tiveram brilho fugaz na Copa. Os belgas, um pouco mais. Os ingleses impressionaram contra times menos e sucumbiram ante os heroicos croatas.
Por ironia, na primeira fase, as seleções se enfrentaram numa espécie de pelada com grife. Classificadas, fizeram um jogo opaco, que valia apenas pelo primeiro lugar da chave. Têm a chance de fazer hoje o que não fizeram naquele dia.
(Coluna publicada no Bola deste sábado, 14)