Por Gerson Nogueira
Em meio ao treino do Paissandu, o técnico Mazola Junior resolveu ontem mostrar como os jogadores deveriam fazer desarmes e se posicionar em campo. Gosto quando um treinador se mostra didático o suficiente para dedicar atenção a pormenores do jogo. Num tempo em que a maioria segue a filosofia de Vanderlei Luxemburgo, que delega a auxiliares as tarefas de campo, é saudável observar que ainda há profissional preocupado com os detalhes que quase sempre decidem as coisas.
Quando o elenco de atletas é heterogêneo, recheado de jovens oriundos da base e boleiros experientes, essa necessidade se torna ainda mais gritante. Não apenas em relação aos novatos, mas também quanto a vícios acumulados ao longo da carreira pelos jogadores mais rodados. São célebres as histórias sobre atletas consagrados que não aprenderam a cabecear corretamente ou ignoram a maneira certa de dominar a bola.
Mestre Telê gastou um tempo precioso no São Paulo ensinando Cafu a fazer cruzamentos. Este defeito de origem o lateral-direito trouxe da base e evidenciou nas primeiras convocações para a Seleção Brasileira, ainda sob o comando de Paulo Roberto Falcão. Ourives da bola, Telê transmitiu dicas com tanta sabedoria e esmero que Cafu se transformou num lateral moderno e vibrante, embora tecnicamente fosse apenas um jogador mediano.
No elenco em formação que o Paissandu apresenta, Mazola terá que exercitar sempre essa prática se quiser colher bons resultados a curto prazo. Para o confronto desta noite com o Cametá, viu-se obrigado a usar três volantes – Capena, Vânderson e Zé Antonio. A razão é óbvia. Nas duas últimas partidas, contra Santa Cruz e Paragominas, o time se mostrou perigosamente frágil no setor de marcação.
Em Paragominas, domingo, a defesa claudicou em momentos decisivos da partida. Desatenta, levou um gol aos 45 minutos do primeiro tempo, quando o Paissandu vencia com tranquilidade. Antes de disparar o chute, o meia Lourinho teve tempo para se aproximar da área e ajeitar a bola sem receber combate direto.
Nem bem o jogo reiniciou, o time cedeu o empate, em jogada que lembrou bastante a desarrumação da defesa no primeiro gol. Aleílson recebeu a bola pelo lado direito do ataque, girou sobre dois marcadores, entrou na área e arrematou, novamente sem sofrer qualquer tentativa de bloqueio.
Como o Cametá mostrou-se até aqui o time interiorano mais ajustado, as preocupações de Mazola são inteiramente procedentes. Resta saber apenas se seus cuidados defensivos não irão afetar a mobilidade do ataque.
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Sobre as incoerências de Charles
O amigo Sérgio Cordovil faz algumas considerações sobre o Remo atual. Lamenta que, apesar das boas contratações feitas pela diretoria, o técnico Charles Guerreiro prefira improvisar o lateral-esquerdo Rodrigo Fernandes no meio-de-campo sempre que um titular precisa ser substituído? “Chega a ser uma falta de bom senso, já que ele tem tantas opções em mãos. E se ele não confia em quem é da posição que peça o desligamento para não encarecer a folha. Sem falar que ele treinou muito tempo um time e está jogando com outro totalmente diferente”, questiona Sérgio.
Um exemplo dessa incoerência, acrescenta, é o meia-armador Athos, “que apesar de ser bom jogador está visivelmente fora de forma e não acompanha o ritmo dos demais”. Sérgio também tem restrições ao posicionamento da defesa. A marcação é deficiente porque os zagueiros jogam em linha, tanto os cabeças-de-área quanto os zagueiros. “E depois, se o treinador for demitido, ainda vai sair falando que foi injustiçado, mesmo com o bom time que deram pra ele treinar”, conclui.
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Gareth Bale é o mais caro
O leitor Tomaz Brandão aponta uma incorreção contida na coluna de ontem: “Você disse que o Neymar seria o jogador mais caro da história do futebol, quando na verdade o jogador mais caro é o Gareth Bale, transferido do Tottenham para o Real Madrid no valor de 100 milhões de euros. Caso a denúncia do jornal El Mundo se confirme, o Neymar será o segundo jogador mais caro da história do futebol, no valor de 95 milhões de euros”. Perfeita observação. A transação envolvendo Bale é, de fato, a mais cara de todos os tempos.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quarta-feira, 22)