Por Gerson Nogueira
Nem bem o campeonato começou e Paissandu e Remo já se engalfinham na disputa da liderança do primeiro turno. Enfrentam, hoje à tarde, pela terceira rodada, adversários que mostram enfraquecimento em relação à edição do ano passado. Há um ano, tanto Paragominas quanto Santa Cruz tinham postura mais determinada, investimentos de vulto e, principalmente, ambições maiores.
Os dois rivais fazem um campeonato particular, como nos velhos tempos. Apesar de aperreios nos primeiros jogos, estão invictos e isolados na classificação, que o Paissandu lidera por ter marcado um gol a mais que o Remo. Não tiveram até aqui uma grande atuação, daquelas de encher os olhos do torcedor. Mas, num sintoma do baixo poderio técnico dos demais times, ambos não tomaram conhecimento dos adversários.
Na verdade, quase todos os emergentes apresentam times modestos em comparação com anos anteriores. Seria prematuro traçar um cenário desfavorável aos representantes interioranos, mas as duas primeiras rodadas exibiram atuações sofríveis de quase todos. A exceção foi o Cametá, que se mostrou organizado e bem escalado, apesar das limitações do elenco. O campeão estadual de 2012 optou por um técnico nativo e trouxe de volta jogadores conhecidos. Perdeu para o Remo na estreia, mas se redimiu em casa contra o Paragominas.
O time de Cuiarana, treinado por Sinomar Naves, tropeçou em casa contra o São Francisco e perdeu para o Paissandu na Curuzu. Tem alguns bons valores, mas passa longe da política arrojada de contratações do ano de estreia, que incluiu o veterano Fumagalli, trazido por pequena fortuna. O investimento não vingou. Vítima de alguns descaminhos administrativos, foi alijado do torneio e ainda criou uma confusão que quase estragou o campeonato.
Com apenas um ponto ganho, o Paragominas é até o momento a maior decepção entre os clubes medianos. Estreou com empate diante do Independente e perdeu para o Cametá na partida seguinte. Vale lembrar que, no ano passado, cumpriu boa campanha nos dois turnos e terminou como vice-campeão, eliminando o Remo na decisão do returno.
O Independente, campeão paraense de 2011, o primeiro saído do interior, padece neste ano da falta de recursos para maiores investimentos no time e sofre com a não regularização do estádio Navegantão. Por conta disso, se vê obrigado a fazer cinco jogos fora de casa, comprometendo seriamente seus planos no primeiro turno.
Sem maiores pretensões, também mais frágil que no Parazão 2013, o São Francisco surpreende positivamente. Invicto, é o quarto colocado no campeonato. Arrancou empates em Cuiarana e Marabá. O estreante Gavião tem exibido vulnerabilidades de conjunto e limitações individuais. Tem o melhor patrocínio entre os interioranos, mas o time não corresponde às expectativas. Tem apenas um ponto conquistado.
No ritmo atual, a dupla Re-Pa concentra as atenções e deve brigar pela liderança até a rodada final. Ambos não têm esquemas bem definidos ainda, tropeçam em hesitações e permitem espaços para os oponentes. O Paissandu sofre com a ausência de criação no meio-campo. No Remo, o problema se localiza no ataque, que peca demais nas finalizações. Ainda assim, os rivais sobram na turma. (Fotos: MÁRIO QUADROS/Bola)
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O papel da torcida
A carência por títulos costuma ser o combustível para alimentar e reforçar a paixão no futebol. Aconteceu isso com grandes clubes do Brasil e do mundo. O Corinthians talvez seja o melhor exemplo dessa combinação de fatores tão distintos. O Remo, sem conquistar títulos desde 2008, experimenta nos últimos anos uma caminhada de intensa e estreita ligação com seus torcedores, como poucas vezes em sua história.
É fato que a torcida azulina sempre foi presente e participativa, mas parece ter decidido tomar o time nos braços e conduzi-lo a dias melhores. A comovente dedicação ao time sub-20 na Copa Norte e Copa do Brasil retratou exprimiu bem esse sentimento. De tal forma que torna aceitável a imagem de uma torcida que tem um time – e não o contrário, como costuma ser. A presença nos estádios neste Parazão, até agora dentro do previsto, pode confirmar definitivamente a tese.
E com um time recheado de bons jogadores, como há muito não se via no Evandro Almeida, mais do que nunca o Remo dependerá da fidelidade de seu torcedor. Afinal, além da salgada folha de salários, terá que desembolsar uma parcela mensal para cumprir acordos trabalhos.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 19)