O que seria do esporte sem as emoções verdadeiras?

Do Blog do Menon

Não sei se sou só eu, mas estou um pouco cansado dos rumos do esporte de hoje. É muita coisa que não me dá o menor prazer: torcedor discutindo com torcedor sobre qual time tem melhor departamento de marketing, quem vai conseguir mais com naming rights, Fifa dando direito a jogador escolher qual seleção vai lhe dar mais visibilidade, a Fiba vendendo vaga no Mundial de Basket etc e tal. Me sinto um dinossauro.

Para mim, esporte é emoção, é superação. Se pudesse, assistiria seguidamente por horas a filmes em que um time de desajustados se une sob a orientação de um treinador que tem um segredo na vida e consegue sair de uma situção dramática para ganhar o campeonato com um gol, cesta, ponto, tiro, arremesso, no último segundo da última partida.

Nos últimos dias, duas estórias do esporte me emocionaram.

O jogo não foi bom, eu até me admirei com o grande número de “andadas” dos jogadores de Franca e São José, que disputavam a quinta partida da série que definiria quem passaria às semifinais. Franca venceu por dois pontos e a comemoração veio com muito choro. Do treinador Lula Ferreira, muito experiente, do pivô Paulão, também com muitos anos de estrada, de todos os outros jogadores.

A vitória foi dedicada ao pivô Lucas Mariano, de 19 anos. Ele sempre teve o sonho de jogar profissionalmente com os irmãos Leonardo, de 14 anos, e Natan, de dez anos. Não será possível. Leonardo, jogador da base de Franca foi participar de uma partida em Limeira e morreu afogado na piscina do alojamento em que estavam alojados os garotos.

O choro de Lula foi emocionante. O velho comandante sofria a dor de seu mais promissor comandado. Sofria a dor dos pais, presentes em todos os jogos de Franca, de todas as categorias, sempre ao lado dos três filhos. É um choro de companheirismo, de união entre pessoas, que é o que importa no esporte.

No Recife, havia 60 mil pessoas em comunhão, comemorando o amor ao futebol. Eram torcedores do Santa Cruz, que chegava à Série B após uma vitória sobre o Betim, com gol de Flávio Caça Rato no final da partida. O Santa, time de massa, vivia em um perrengue danado há tempos. Em 2006, estava na A. Foi descendo, descendo até chegar na D. Ali, mofou por dois anos. Chegou na C, também não subiu de primeira e agora está lá, entre os 40 maiores do Brasil.

Foi bonito ver, uma vez mais, que o verdadeiro amor não tem divisão (ô frasesinha marqueteira). Mas é verdade. De um lado estava o Santa, que sempre foi ali de Recife. Do outro, o Betim, que foi Ipatinga. Uma dessas excrecências do futebol moderno.

E o legal foi ver que não sou tão dinossauro assim. Como eu, milhões engrossaram a torcida pelo Santa Cruz. Não tem vacilo na hora de escolher. O Santa representa o velho e bom futebol brasileiro, aquele que emociona, que faz rir, chorar, aquele que une as pessoas, apesar da ação contínua de tantos delinquentes por aí.

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