Quatro décadas de um disco marcante

Por André Barcinski

Um disco marcante do pop-rock brasileiro está fazendo 40 anos: “Secos e Molhados”, o primeiro LP da banda que lançou Ney Matogrosso. Foi em agosto de 1973 que o LP chegou às lojas, com uma capa mórbida, em que a cabeça de quatro hippies, pintados como personagens do kabuki, o antigo teatro japonês, repousavam numa mesa.

Na verdade, o sucesso dos Secos e Molhados se deve a uma conjunção de fatores. Em primeiro lugar, o disco era sensacional, com uma mistura rara de rock, psicodelia, MPB, música folclórica portuguesa e violões “folk”. Mas o LP bem que poderia ter passado batido pelo público, não fosse a enorme sorte de ter atraído a atenção dos produtores do “Fantástico”, que estreava naquela mesma semana. O programa da Globo colocou uma imagem do Secos e Molhados em sua abertura, o que garantiu enorme visibilidade ao grupo.

secosemolhados-1016x1024A gravadora Continental não acreditava no disco e só topou lançá-lo porque o jornalista Moracy do Val, que havia visto um show do Secos e Molhados e ficara empolgado, insistiu muito.

Inicialmente, a Continental produziu apenas 1500 cópias do disco. No fim do ano, “Secos e Molhados” vendia tanto que a gravadora precisou derreter outros discos encalhados para suprir a demanda de vinil (a crise do petróleo dificultava a importação de matéria-prima). O disco foi um choque, assim como as apresentações ao vivo, com a presença cênica libidinosa e desafiadora de Ney Matogrosso.

Nem os próprios integrantes do grupo acreditaram no sucesso que obtiveram. “Foi uma explosão totalmente imprevista, até para nós”, me disse Gerson Conrad. “Claro que o disco era muito bom, com uma forte carga poética, músicas muito boas e a voz incrível do Ney, mas ninguém poderia prever que venderia tanto.”

É uma pena que a carreira do Secos e Molhados – pelo menos da formação original, com Ney Matogrosso, João Ricardo e Gerson Conrad – tenha sido tão breve, encurtada por brigas pessoais. O grupo lançaria só mais um LP com os três músicos, em 1974.

2 comentários em “Quatro décadas de um disco marcante

  1. De fato, um disco antológico! Tenho essa preciosidade em vinil. E sobre a música brasileira, ao olhar para o passado e ver como hoje estamos, Ana Maria Bahiana vaticinou: nada será como antes!

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    1. Concordo por inteiro, camarada Daniel. Nossa música hoje se resume a pastiches das cantoras do passado, com repertório fragilíssimo, e nem mesmo o pop-rock consegue se manter de pé decentemente, engolido pela mediocridade generalizada de breganejos, axés e outros engodos.

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