Por Patrícia Benvenuti, de Brasil de Fato
O governo tucano de São Paulo fica cada vez mais enredado no caso de cartel das licitações do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Documentos apresentados pela Siemens ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) comprovariam o pagamento de propinas a autoridades envolvidas no esquema que lesou os cofres públicos paulistas em pelo menos R$ 425 milhões. As denúncias de cartel são investigadas pela Operação Linha Cruzada, realizada pelo Cade em conjunto com a Polícia Federal. As suspeitas apontam para o envolvimento de 13 empresas na formação de cartel em seis licitações para aquisição de trens, manutenção e construção de linhas ferroviárias e de Metrô em São Paulo e no Distrito Federal.
As fraudes, ocorridas entre 1998 e 2007, começaram a ser reveladas pela Siemens em julho, depois de um acordo de delação premiada para garantir imunidade para a companhia e seus executivos. Segundo informações divulgadas pela Folha de S.Paulo, o Cade analisa diários da Siemens que contêm registros sobre as reuniões entre representantes da transnacional alemã e o governo de São Paulo. De acordo com os documentos, o cartel, apelidado de a “grande solução”, era o desfecho preferido pela Secretaria de Transportes por garantir “tranquilidade na concorrência”.
O cartel em São Paulo teria sido formado em 2000, no governo de Mário Covas (PSDB), para a construção da linha 5 do Metrô, e continuado durante as gestões de Geraldo Alckmin (2001-2006) e também no primeiro ano do governo de José Serra (2007). A ideia era formar um consórcio único para vencer licitações e depois subcontratar as empresas perdedoras, o que acabou acontecendo.
Apesar da magnitude, o esquema de corrupção começou a ser noticiado de forma tímida na imprensa corporativa. Em sua edição de 14 de julho, a Folha de S.Paulo trouxe o assunto em uma manchete e repercutiu as denúncias no dia seguinte. O jornal só deu visibilidade ao caso novamente em 2 de agosto, com uma matéria sobre os diários da Siemens. Seu concorrente, o Estado de S.Paulo, não aproveitou o hiato da Folha para dar repercussão ao caso – publicou apenas matérias curtas e sem destaque.
Quem deu fôlego às denúncias foi a revista IstoÉ, que apresentou duas reportagens de capa sobre a formação do cartel. As outras semanais não se interessaram muito. Com exceção da Carta Capital, que abordou a denúncia em suas páginas, Veja e Época trataram do caso em poucas linhas – nenhuma das duas cita nomes de autoridades envolvidas. Nos canais de TV, o silêncio é ainda maior. As emissoras repercutiram pouco o caso. O Jornal Nacional, da TV Globo, só trouxe o assunto à tona em 2 de agosto, depois de as denúncias terem sido abordadas em jornais, revistas e, principalmente, nas redes sociais.
Blindagem
A postura dos meios de comunicação corporativos, porém, não surpreende os especialistas. Para o professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) Laurindo Leal Filho, a cobertura atual da mídia se assemelha ao que ocorreu durante as denúncias sobre o chamado “Mensalão Mineiro”, envolvendo lideranças do PSDB naquele estado. “A cobertura é bastante diferenciada quando é em relação ao PSDB. Há uma preocupação em não expor o partido, seus dirigentes e os governantes ligados ao partido envolvidos no caso”, afirma. Cobertura oposta ao que ocorreu quando o alvo das denúncias eram lideranças do PT. O professor lembra que em 2005, durante a CPI do Mensalão, o assunto foi destaque nos noticiários durante meses. A atenção foi tanta que as notícias pipocavam até mesmo fora dos telejornais, durante a grade normal de programações da TV Globo.
Outra peculiaridade é a ênfase no nome das empresas. Em outros casos de corrupção, explica Filho, é comum que os nomes das companhias sejam preservados, deixando o peso sobre os “corrompidos”. Agora, porém, os governos do PSDB são citados – quando o são – de forma discreta nas matérias. “Isso prova mais uma vez que essa mídia tem um lado bastante definido. E quando esse lado está sob algum tipo de ataque, ela faz todo o possível para minimizar o fato”, analisa.
O presidente do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé, Altamiro Borges, critica a “blindagem” dos veículos em relação às denúncias de corrupção. Para ele, o caso ilustra a seletividade da imprensa, que trabalha as informações de acordo com seus interesses. “O que não interessa para a mídia ela esconde e omite. O que interessa ela dá destaque, realça, dá manchete, faz várias matérias. O que a gente está vendo nesse caso é a confirmação da tese do professor Perseu Abramo”, afirma, referindo-se aos estudos do jornalista Perseu Abramo (1929-1996) sobre a mídia. Em seu livro Padrões de Manipulação na Grande Imprensa, Abramo defendeu que a manipulação não consiste em apresentar inverdades, e sim em criar realidades distorcidas a respeitos dos fatos.
A própria nomenclatura escolhida para os “mensalões”, de acordo com Altamiro Borges, é um exemplo do tratamento diferenciado. “O caso do chamado Mensalão envolvendo o [José] Dirceu e o [José] Genoino é o Mensalão do PT; o Mensalão envolvendo Eduardo Azeredo e Aécio Neves em Minas não é o Mensalão Tucano, é o Mensalão Mineiro”, observa. Se a cobertura como um todo gera críticas, as mais fortes vão para os canais de televisão. “É uma obrigação, principalmente nas concessões públicas, o respeito mínimo à diversidade e à pluralidade informativas, mas isso não existe na mídia brasileira”, dispara o presidente do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé.
Até tu, Covas? Dá até vontade de baldiar…
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Esse é o verdadeiro trem da “Zorra total”. Só mudam os maquinistas.
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ME PARECE QUE A MAIORIA QUE ENTRA PRA POLÍTICA, ENTRA PRA ROUBAR LITERALMENTE, NÃO TEM JEITO, COMO DIZ O DITADO; QUEM NUNCA VIU MEL, QUANDO VÊ SE LAMBUZA, UMA PENA QUE TEMOS ESSA POLÍTICA AQUI NO BRASIL!
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Não assisto mais JN.
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Não seria também o pessoal do “Metrôduto” do PSDB uma “corja de bandoleiros de beira de estrada”? Com a palavra os doutos, magistrados e demais togados… rsrs.
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Olha amigos isso e uma denuncia de uma empresa com renome internacional alema, imaginem na epoca da privataria do FHC, como sempre digo: O mensalao do PT e gorjeta perto desse corja da direita do PSDB. Te dizer!
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Este tipo de liderança é coisa mais comum no futebol. Pra ficar no topo, de dizer que o Zico exercia uma semelhante no Flamengo.
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Ops, comentário em postagem errada. Já, já, corrijo.
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Ainda bem que a mídia é partidadrizada… Eis que se a malfeitoria é do pt, e aliados, a midia tradicional divulga; e se a malfeitoria é do psdb, e afins, a mídia alternativa não deixa passar em branco. Quer dizer, mesmo que uma queira blindar a outra divulga. E uma e outra sempre querem blindar.
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Mas o saldo é muito desigual, amigo Oliveira. O caso do mensalão é bem exemplar. Como diz a matéria, no caso do PT é mensalão petista; no do PSDB, é mensalão mineiro. Óbvio demais o processo de despiste.
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Respeito sua opinião, mas não me parece que seja assim amigo Gerson. Creio que a paridade é prevalescente. A mídia do psdb e afins blinda os seus e carrega nas tintas do adversário, assim como a midia petista, e dos aliados, também faz exatamente o mesmo.
Exemplo disso é o próprio mensalão já julgado, o qual se a mídia tradicional chamava de petista, a midia petista chamava de AP 470.
Hoje, nem mesmo o alcance da midia tradicional já é mais vantajoso. Afinal, a mídia alternativa já é tanto ou mais difundida, inclusive com subsídio estatal.
Talvez no que a mídia alternativa ainda perca é nos termos em que se dirige ao seu imenso público. E o texto da postagem acima que serve de mote para os nossos comentários aqui é a prova rematada desta verdade.
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A demais caro Gerson, vejo o JN só pra ter a certeza de que não estou ficando louco rsrsrsr, ao final de cada reportagem colocam o atual governador de São Paulo falando assim “Vamos apurar tudo e vamos punir exemplarmente os envolvidos neste caso, o governo de São paulo não pode ser prejudicado” kkkkk só se ele colocar algemas nele próprio, te dizer!!!!!
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Antonio, não entendo em como a mídia dita alternativa tem apoio estatal. Acredito que há um problema semântico nisto. Não seria esta mídia “alinhada com o governo ou com o PT” a forma mais correta de se dizer? Ademais, não é este nicho da mídia que recebe os mais polpudos e vantajosos recursos das verbas publicitárias provenientes da propaganda estatal, por incrível que pareça e muito pelo contrário.
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Bom, Malcher, de repente você até pode ter razão quanto ao aspecto terminológico, mas lhe digo que falei nestes termos, os quais você acha questionáveis, na esteira do que resta escrito no próprio post.
Quanto às verbas publicitárias governamentais, eu arrisco dizer que realmente não seja a midia alternativa a destinatária da fatia mais polpuda. mas, só me arrisco, eis que não dá pra falar com certeza, eis que, salvo engano decorrente d’algum elemento mais recente, da última vez que houve a divulgação a respeito, deliberadamente registrou-se apenas os valores, e se omitiu os destinatários.
A propósito, não me parece assim muito incrível e nem muito pelo contrário, que a Globo, por exemplo, seja uma das que é muito bem aquinhoada pelo governo atual. Tal, dentre outras significâncias, tem aquela antiga, que você até cita às vezes, segundo a qual, há uma distância muito grande entre o discurso e a prática.
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