Por Gerson Nogueira
A apresentação das contas do primeiro mês da nova gestão foi a melhor notícia deste segundo semestre no Remo. Os números mostrados na terça-feira à noite são até negativos, mas a atitude é bastante positiva. Representa um excepcional reforço no principal ativo de uma administração: a confiança de associados e torcedores.
Reconquistar o apoio da comunidade azulina deve ser prioridade máxima para os novos gestores. Assumiram missão de alto risco em momento particularmente ingrato, com o futebol em baixa e as contas em alta. É, porém, uma oportunidade única para que os dirigentes mostrem criatividade e comprometimento.
Os projetos anunciados, que a essa altura podem até parecer fantasiosos e frutos da empolgação, têm boas chances de êxito. A reativação da vida social, através de eventos na sede do clube, pode contribuir para a reaproximação dos sócios e ao mesmo ajudar a combater a inadimplência.
Outra boa ideia é a série de eventos anunciados para o estádio, acrescentando atrações aos jogos amistosos programados para o semestre. É uma maneira modesta, mas eficiente, de turbinar os ganhos do clube na única atividade que pode envolver a massa torcedora.
A realização dos jogos da Copa Norte Sub-20 funcionará como teste para essa proposta da diretoria. A abertura, amanhã à noite no Baenão, já está cercada de expectativa. O torcedor foi convocado a prestigiar pagando ingresso (R$ 5,00) e o clube fez sua parte. Contratou jogadores (Kenia e Jader, ex-São Francisco) para reforçar o time. É a primeira medida no sentido de resgar o interesse do torcedor.
A presença de remanescentes do time que disputou o Parazão também deve contribuir para a campanha remista na Copinha. Alex Ruan, melhor lateral-esquerdo do campeonato, o atacante Jaime e os zagueiros Ian e Gabriel são peças conhecidas, fazendo do torneio um evento interessante para uma torcida que vivia saudosa de seu time.
São providências modestas e de alcance limitado, mas deixam a impressão de que o clube está de fato sob nova administração. Para que essa percepção chegue ao torcedor e convença os associados será necessário que a diretoria não se perca pelo caminho. A transparência da prestação de contas é item fundamental a essa altura, bem como a preocupação em sanar débitos com os funcionários. No futebol, o caminho da redenção em campo começa pelos ajustes administrativos.
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Em busca de um resgate histórico
Outra frente, não menos importante, começa a ser contemplada pela diretoria do Remo: a valorização da história do clube. Isto pode ser observada na decisão de reivindicar junto à Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) o reconhecimento pela conquista do Mundialito de Clubes da Venezuela de 1950.
A competição foi disputada em Caracas e, à época, tinha a importância e o destaque de um torneio continental. A própria Taça Libertadores da América se originou do Mundialito, oficialmente denominado de Taça Ministério de Obras Públicas da Venezuela.
O esforço pelo resgate da conquista é do benemérito Orlando Ruffeil, encarregado de juntar documentos que comprovem a façanha azulina em gramados venezuelanos. Na parte prática, o clube vai solicitar à Federação Paraense de Futebol (FPF) e à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) apoio para que a Conmebol reconheça oficialmente o título.
Além das questões de mérito, os azulinos vislumbram a chance de vir a ser o único clube do Norte a ostentar de um título reconhecido pela Conmebol. Seria, sem dúvida, uma tremenda injeção de autoestima procedente do passado para um clube que não tem conquistas recentes.
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Um líder dentro e fora de campo
Clarence Seedorf, um dos destaques do atual Campeonato Brasileiro e comandante do líder Botafogo, deu ontem à noite no Maracanã novo exemplo de sua incontestável capacidade de orientar seus companheiros. Voz ouvida com respeito e admiração no clube, o holandês não descuida de detalhes que possam comprometer a imagem do elenco, principalmente dos atletas mais jovens.
Ao marcar o primeiro gol botafoguense contra o Vitória, em tabelinha com o próprio Seedorf, o atacante Vitinho foi festejado pelos companheiros, mas não comemorou o gol com a torcida, agastado com algumas vaias recentes. O gesto foi notado pelos repórteres, que procuraram Vitinho no final do primeiro tempo.
Antes que pudesse abrir a boca e falar algo que pudesse lhe indispor com os torcedores, o jovem boleiro foi abraçado por Seedorf, que o puxou para os vestiários. A imagem, que vale por mil palavras, reflete em parte a importância que um craque de verdade pode ter para um time.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 02)