Um abismo perigoso

Por Gerson Nogueira

COLUNA GERSON_27-05-2013Quis o destino que a final da Liga dos Campeões da Europa coincidisse com o começo do Campeonato Brasileiro, sábado. Quem se deu ao trabalho de ver o clássico alemão e comparou com os jogos de times brasileiros deve ter se espantado principalmente com o nível técnico, o rigor tático e a velocidade. Em todos esses quesitos, uma vantagem abissal dos europeus.

É claro que está se comparando os dois melhores da Europa com uma variedade (nem sempre qualificada) de times brasileiros, todos lentos e taticamente ultrapassados. De qualquer modo, a comparação é válida e oportuna, levando em conta o confronto que o Brasil terá com os europeus daqui a um ano, na Copa do Mundo.

Alguns degraus acima de ingleses e italianos, mas um pouco abaixo dos espanhóis, os alemães demonstraram na sensacional decisão da Liga que estão mesmo na ponta dos cascos. Pelo menos 12 dos atletas em campo integram o escrete germânico. Alguns (Müller, Schweizenteger, Neuer) ainda bem jovens, mas experientes o bastante para enfrentar os desafios de um mundial.

Além da alta qualidade, exposta no baixíssimo índice de passes errados, os times alemães confirmam a excepcional vocação coletiva, alicerçada no esmero com que cumprem as determinações táticas.

Não é um estilo invencível, muito pelo contrário. É perfeitamente possível derrotá-los, desde que se tenha uma equipe preparada para sustentar o mesmo ritmo alucinante e capaz de neutralizar as bem treinadas jogadas ofensivas. É fato que não há um fora-de-série, mas o conjunto é de primeira linha. Mas o futebol é quase sempre dominado por grandes times, não necessariamente cheio de craques.

Os próprios alemães provaram isso ao mundo em 1954 quando, com técnica e disciplina, superaram a infernal Hungria de Puskas e Kocsis. Voltaram a operar igual façanha 20 anos depois, quando eclipsaram a formidável Laranja Mecânica, de Cruyff, Neeskens e Krol. Com organização e método tiraram taças de times que entraram para a história pelo talento de seus craques. Por isso, merecem respeito.

———————————————————–

Dia D para os azulinos

Todas as especulações que foram feitas nas últimas semanas sobre a Série D têm hoje o seu dia de definição. Dirigentes andaram falando muito, prometendo mundos e fundos, mas sem poder garantir que o Remo de fato herdaria uma das vagas do grupo A1 da competição. Nenhuma previsão nesse campo pode ser considerada segura.

As premissas se baseiam nas finanças periclitantes dos representantes de Roraima e Rondônia, equipes semi-amadoras que têm muitas dificuldades para manter elencos competitivos. O complicador é que há o componente regionalista. Nenhum Estado aprecia abrir mão de participar de um torneio nacional.

Muitos esforços têm sido envidados nos bastidores para que o Remo obtenha a vaga e escape de sete meses de jejum futebolístico, com reflexos na autoestima da torcida e na receita financeira do clube. Gestões foram feitas pelo senador Jader Barbalho junto à CBF, calçadas no fato de que o representante paraense é um dos campeões nacionais de público nos estádios, além de ostentar história e tradição.

Por outro lado, o próprio clube e a FPF se movimentam junto às duas federações, tomando desta vez as cautelas devidas para que a iniciativa não seja vista como mero negócio. É claro que se houver a desistência nada impedirá ilações de toda ordem quanto às motivações do desistente.

Ao Remo, porém, cabe lutar – desde que legalmente – pelos seus interesses. Só não pode é, na hipótese de ser indicado para a Série D, repetir o papelão do ano passado. É fundamental que se estruture para disputar o título da competição.

As contratações do técnico Charles Guerreiro e o interesse anunciado por Ratinho, Levy, Mael e André indicam que os dirigentes estão cientes da necessidade de formar um elenco competitivo e que não deixe dúvidas quanto ao mérito da escolha, por mais inusitada que venha a ser.

———————————————————–

A escolha natural

A opção de Neymar pelo Barcelona, desenhada há pelo menos dois anos, acaba por confirmar a maturidade do jogador e de seu staff pessoal. Entre encarar um Real Madri desesperado por títulos, depois de uma temporada completamente em branco, e abraçar um projeto vitorioso e respeitado mundialmente, o jovem craque acabou escolhendo o caminho mais sensato e lógico.

Além do elenco e da companhia do melhor jogador do mundo, Lionel Messi, Neymar terá a oportunidade de aprimorar seu estilo ofensivo e único na verdadeira escola de passes e jogo coletivo que é o Barcelona. A lamentar apenas a ausência de um grande técnico para dar ao brasileiro o lustro que lhe falta.

No fim das contas, Neymar vai fazer o pé-de-meia definitivo e garantir a Felipão uma dor de cabeça a menos. Afinal, a experiência europeia deve complementar no melhor jogador brasileiro o que a vocação natural nem sempre garante: noção tática e capacidade de encarar zagas de alto calibre.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 27)

10 comentários em “Um abismo perigoso

  1. Segundo Nelson de Torres, as contratações que o Remo fará serão mínimas e, em sua maioria, de jogadores já identificados com o clube ou regionais.

    Podem esperar Landu, Ratinho, Mael e André. Mas minha preocupação é o meio! Pelo menos dois meias precisam vir para o Remo…

    Curtir

  2. Perfeito Gerson.Alemanha maior favorita pra Copa a meu ver. Às vezes dão uma amarelada, principalmente contra o Brasil, de quem são fregueses históricos. Acrescento ainda obediência, disciplina e coletividade fora do campo. Franceses e Holandeses, por exemplo, são donos de se rebarbar contra técnicos e de fazerem panelinhas no elenco.

    Curtir

    1. Muito bem lembrado. França e Holanda vivem se atrapalhando em querelas internas, disputa de egos. Alemães e italianos são centrados e normalmente se dão bem.

      Curtir

  3. O futebol germânico realmente se reinventou. Isso não aconteceu do nada. Vi em um programa especial (acho que na ESPN) que os alemães não abriram mão de certas características de sua velha escola, dentre as quais o vigor físico nas disputas pela bola e a obediência tática espartana. Contudo, temperaram aquilo que seria importante para a manutenção da identidade do futebol alemão com a necessidade de um jogo mais fluente, técnico, ofensivo e com recursos como o drible e os lançamentos em profundidade para dar dinâmica a essa combinação. O que fizeram os alemães? Intercâmbio! Importaram jogadores da América do Sul (antes os reduto do drible, da visão de jogo e do futebol jogado pra frente) e grandes jogadores de outros países como França, Holanda, Itália, Espanha, Inglaterra, Portugal, além de jogadores acima da média oriundos da África e da Ásia. Além disso, investiram pesado na formação de jovens atletas, uma vez que velocidade e vigor físico são cada vez mais urgentes num futebol agora reinscrito sob as premissas legadas pelos holandeses: o futebol total. Deu-se a química. Não à toa a seleção germânica tem uma das médias de idade mais baixas entre as grandes seleções do mundo. E com detalhe: é uma seleção ainda assim experiente. Merecem a torcida dos apreciadores do bom futebol.

    Curtir

  4. Maurício, Brasil e Alemanha (exceto a extinta Alemanha Oriental em 1974) se enfrentaram apenas uma vez em copas do mundo e foi naquela final de 2002 em que o Brasil era favoritíssimo e os germânicos tinham um time sofrível que chegou a final sabe-se lá como (na verdade, graças ao goleiro Kahn). O grande algoz dos alemães costuma ser a Itália e não o Brasil, portanto, não há retrospecto favorável aos brasileiros.O que pode pesar contra os Alemães é a juventude do time, mas lembremos que a Espanha estreou sua fase vitoriosa conquistando a Euro em 2008 com um time jovem e sem medalhões.

    Curtir

Deixar mensagem para Daniel Malcher Cancelar resposta