Dia: 26 de maio de 2013
Um craque na encruzilhada
Por Gerson Nogueira
Diamante em estado bruto, último dos moicanos, raspa de tacho da safra de grandes boleiros brazucas, resposta brasileira a Lionel Messi. Neymar é tudo isso e merece o leilão estabelecido entre dois dos maiores clubes do planeta por seu passe. O Brasil e boa parte do mundo passarão o fim de semana em suspense, tentando saber qual o destino do jovem craque santista e é sempre bom que um assunto tão maravilhosamente desimportante atraia a atenção de tanta gente.
O moleque, com um pé na Espanha, sinalizou que vai tomar a decisão no litoral paulista, depois de conversar com a família. Faz muito bem. Nada ou ninguém é mais próximo de alguém do que pais e irmãos. Neymar tem a chance de dar uma guinada na carreira ainda curta. É a chamada cartada definitiva.
Tem técnica, habilidade e aquele pique natural que dá aos grandes uma condição especial sobre o restante da multidão. Ocorre que o processo evolutivo está seriamente ameaçado por absoluta falta de desafios. Depois de fazer 138 gols, conquistar Libertadores, Recopa, Copa do Brasil e três campeonatos paulistas em cinco anos, Neymar chegou ao topo no país.
O medo de estacionar no nível atual, tornando-se um reles driblador, como Denílson e tantos outros, é o que move o projeto de deixar o país. Ronaldo Fenômeno, há dois anos, disse que o santista devia buscar centros mais competitivos, pelo bem de seu próprio futebol. Muita gente discorda, mas é fato que ninguém se consagra no esporte se não disputar os melhores campeonatos.
Neymar já podia ter despontado para o mundo há três anos na Copa do Mundo disputada na África do Sul. Dunga, comandante do escrete, contrariou o coro da torcida e deixou o moleque no Brasil.
Desgraçadamente, o time nacional sentiria a falta de um atacante driblador e imprevisível naqueles 20 minutos finais contra a Holanda, em Porto Elizabeth. Eu estava lá e presenciei a angústia e a impotência do técnico ao olhar para o banco e contemplar aquela profusão de Grafites à sua disposição.
Desconfiei que Neymar e seu sancho-pança Paulo Henrique Ganso poderiam quedar pelo caminho, antes mesmo de serem testados de verdade. Temia que ambos estivessem atravessando em 2010 aquela fronteira especial que pode determinar se alguém vai ser craque ou simplesmente mais um boleiro qualquer.
Quanto ao paraense, não há mais tanta certeza, mas Neymar é seguramente o melhor jogador surgido no Brasil desde a geração R – Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo. Sua qualidade tem a ver com aquela faísca especial que só o país do futebol é capaz de impregnar em seus craques.
Joga à moda antiga, com a bola colada aos pés e enfileirando marcadores, na melhor tradição de Garrincha e Jairzinho. É a prova viva de que o Brasil não esqueceu seu melhor futebol. Diante da encruzilhada na carreira, que Neymar escolha o rumo certo. Pena que o Barcelona, seu destino mais provável, não tenha mais um técnico capaz de lapidar o talento do menino driblador praieiro.
———————————————————–
Estreia fraca, preocupações futuras
O Paissandu não tem do que se queixar. Sob todos os pontos de vista, a ocasião foi propícia para uma estreia vitoriosa. Afinal, com a expulsão do beque alagoano Jorginho aos 39 do primeiro tempo, o time paraense desfrutou da vantagem numérica por mais de 50 minutos.
Podia sufocar e envolver o aplicado ASA, mas passou os 45 minutos finais pressionando e cercando a área inimiga. No fim, o Paissandu saiu da Arena Verde com um empate frustrante. Para vencer ficou faltando aquele algo mais, a dose combinada de habilidade e iniciativa.
Seus atacantes cruzavam bolas, abandonando as infiltrações na área, ainda o melhor recurso contra defesas altas e lentas. Nenhuma tabelinha, como no primeiro gol (de Rafael Oliveira). Poucos chutes, timidez excessiva. Até Eduardo Ramos, o organizador, se perdeu na marcação. Preocupante verificar que o contestado goleiro Zé Carlos foi a peça mais cintilante da equipe, com pelo menos cinco grandes defesas.
O empate em si não é desastroso, mas as circunstâncias preocupam. Falta alternativa para mudar um cenário desfavorável. Abrir defesas depende de talento e boa dose de audácia. O Paissandu não mostrou essas virtudes. Para o próximo jogo, contra o Ceará em Fortaleza, é bom providenciar tudo isso, sob pena de sérios problemas.
———————————————————–
Dez anos de uma lei menosprezada
Foi Lula que, a 15 de maio de 2003, sancionou a Lei 10.671 e instituiu o Estatuto do Torcedor. Saudado como um avanço nas relações delicadas que sempre envolveram o futebol profissional no Brasil, o instrumento legal chega aos dez anos de idade contabilizando derrotas que comprometem sua aplicação.
Um dos itens mais avacalhados da lei é o artigo 26, que assegura ao torcedor acesso a transporte público seguro e serviços de estacionamento. Impensável para os padrões nacionais, o estatuto prevê a obrigatoriedade de transporte facilitado para idosos, crianças e portadores de deficiência, partindo de pontos previamente determinados. O torcedor já se daria por satisfeito se houvesse transporte bom e barato à disposição.
No artigo 30, pouco mencionado, a pretensão legal é ainda mais ambiciosa. Está escrito lá, com todas as letras: “É direito do torcedor que a arbitragem das competições desportivas seja independente, imparcial, previamente remunerada e isenta de pressões”. Soa, no mínimo, como utopia ante a profusão de arbitragens desastrosas, que deixam o torcedor ressabiado.
Ninguém, em sã consciência, imagina que o estatuto será cumprido à risca. Mas é razoável lutar para que, pelo menos em sua parte mais realista, a lei seja posta em prática.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 26)
Corinthians e Botafogo estreiam com empate
Direto do túnel do tempo: Rocky x Animauro
Capa do Bola, edição de domingo, 26
Rock na madrugada – Pearl Jam, Yellow Ledbetter
Capa da D Semanal, edição de domingo, 26
Ai que saudades do Cachoeira!
