Por Gerson Nogueira
O Remo começa a se especializar não apenas em perder turnos de campeonato, mas também na fina arte de produzir lambanças. Poucas contribuições de impacto foram dadas até hoje pela atual diretoria, mas, sem dúvida, o anedotário do futebol paraense ficou mais rico graças a ela. É uma presepada atrás da outra.
A última trapalhada envolveu a contratação do técnico Charles Guerreiro. Dada como certa na terça, caiu por terra na quarta pela manhã depois que o treinador se acertou com os dirigentes do Paragominas. Ontem, finalmente, ficou tudo esclarecido. Charles fica mesmo no PFC e a cartolagem do Remo contabiliza mais um mico.
As circunstâncias da trepidante negociação envolvendo Charles e dirigentes do Remo é algo digno de livreto de piada. O técnico contou que foi procurado, recebeu uma proposta e ficou tentado a aceitar, até para atender um apelo da família para voltar a morar em Belém. Pediu, porém, um tempo para comunicar sua decisão aos diretores do PFC.
No meio do caminho, o mais afoito dos cartolas remistas apressou-se em anunciar a transação como definida e sacramentada. Esqueceu apenas que um profissional só pode ser considerado contratado depois que põe o jamegão na folha de papel. O treinador admitiu, ontem, que a algazarra dos azulinos pesou na sua desistência, pois temia ficar marcado junto à torcida de Paragominas.
O comportamento destrambelhado tem sido a marca dos gestores do futebol do Remo. E a balbúrdia parece definitivamente instalada. Nem bem baixou a poeira do caso Charles, em meio a especulações sobre Maurílio, eis que surge a notícia de que Cacaio será o técnico. De novo, a informação saiu antes que o técnico assinasse contrato com o clube. Não será surpresa se hoje surgir novo desmentido.
Depois da eliminação do Campeonato Paraense, o Remo voltou à mesma situação do final do ano passado. Parece uma nau à deriva, sem rumo ou comandante. Sem competições previstas no restante da temporada, a pressa em contratar um treinador transmite insegurança e desespero.
O insucesso na busca por um técnico vem se juntar à infeliz ideia de recorrer ao STJD pleiteando a vaga paraense na Série D. O clube tem todo direito de resguardar seus direitos, mas não pode se expor a situações vexatórias. Depois que o mais falastrão de seus gestores garantiu em entrevista que o Remo iria disputar “de qualquer maneira” a competição, a sensação é de que tudo será feito para confirmar a tal previsão.
Como era fácil de prever, depois de notificada pelo tribunal sobre a reclamação, a FPF respondeu que o representante do Pará é o Paragominas. Nem podia dizer outra coisa, pois o campeonato foi disputado sob um regulamento aprovado pelo conselho técnico dos clubes. Se há algo dúbio ou mal explicado, a responsabilidade é também dos remistas, que ajudaram a formatar o regulamento.
Do lado prático das coisas, causa espanto que o Remo tenha se dado conta da imperfeição do regulamento somente agora, depois do término do campeonato. Se não concordava, deveria ter esperneado antes do torneio. Como aceitou disputar, só resta submeter-se às regras do jogo. Reclamar agora, tardiamente, mesmo que os argumentos sejam consistentes, soa como coisa de mau perdedor.
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Uma estreia longe de casa
Longe da torcida e ainda sob os efeitos da derrota no tapetão, que fulminou as esperanças de permanência na Copa do Brasil, o Paissandu inicia hoje a esperada campanha de retorno à Série B, depois de seis anos de ausência. Não é a estreia dos sonhos. Apesar de utilizar o time-base do Parazão, o técnico Lecheva tem vários problemas.
Além da forçada mudança na lateral-esquerda, com a possível entrada do novato Janilson em substituição a Rodrigo Alvim (contundido), há dúvidas quanto ao meio-de-campo. Vânderson, Capanema e Djalma não treinaram por diferentes razões. Eduardo Ramos, cérebro do time, é o único do setor que está em plenas condições.
Por sorte, o ataque não sofreu alterações. Setor fundamental pela necessidade de uma vitória logo de cara, tem Rafael e João Neto bem entrosados e voltando a jogar como no primeiro turno do certame estadual. O adversário é pouco conhecido dos paraenses, mas constrói uma imagem vencedora com o vice-campeonato da Copa do Nordeste e as boas participações na Segunda Divisão, onde está há três anos.
O ponto forte do ASA é a capacidade de marcação, que se concentra no trio de volantes (Rudiero, Milton e Pedro Silva). Na frente, Léo Gamalho, que andou na mira de vários clubes da Série B e até da primeira divisão, é o homem a ser vigiado pelos bicolores.
Toda estreia é difícil, mas os desafios do Paissandu aumentam na medida em que o ASA é um adversário mais habituado à Série B. Além disso, é um time bem arrumado e perigoso como visitante, explorando bem os contra-ataques.
O segredo, para o Paissandu, pode estar na participação da torcida de Paragominas, que já deu um tremendo empurrão (reforçada por torcedores que viajaram de Belém) na Série C contra o Macaé. Na parte técnica, depois do apagão contra o Naviraiense, o rendimento parece ter voltado ao normal na boa atuação diante do PFC, domingo.
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O velho Naça renasce das cinzas
Quem diria… Impulsionado por fortes investimentos, o Nacional de Manaus dá pinta de que está mesmo de volta à cena. Depois de golear o Coritiba em Manaus, foi ao Paraná e arrancou a classificação à terceira fase da Copa do Brasil. No placar agregado, triunfou com sobras – 4 a 2. Na primeira fase, o Naça de Aderbal Lana eliminou o Águia de Marabá. Rafael Mourisco, ex-Remo, é o xerifão da zaga.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 24)
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