Aniversário de um disco revolucionário

Por Jamari França

Revolver foi lançado em 6 de agosto de 1966 na Grã-Bretanha como o manifesto revolucionário de uma banda já consagrada como a maior do mundo. O LP não tinha precedentes na carreira do Fab Four e muito menos no panorama rock da época. Os Beatles exploravam conceitos sonoros mais surpreendentes ainda por saírem de um estúdio de quatro canais aquém dos recursos disponíveis na América. Os créditos são da equipe técnica da EMI sob o engenheiro Geoff Emerick e do produtor George Martin. Grandes talentos colocados a serviço da insaciável fome de buscar o novo demonstrada por John, Paul, George e Ringo.
A era psicodélica encontrou m Revolver algumas de suas principais manifestações. Sob a égide do LSD nasceram canções como Tomorrow Never Knows, um assalto aos sentidos com efeitos, vozes fantasmagóricas, batida trovejante e um convite para o ouvinte relaxar e se deixar levar pela corrente.
O clima viajandão se estendia ainda por She Said She Said, inspirada numa viagem de ácido, e Got To Get You Into My LIfe, uma ode à maconha. Taxman protestava contra os altos impostos da Inglaterra, Yellow Submarine era uma canção infantil com viés psicodélico. O radiante verão de 1966 era saudado em Good Day Sunshine e a música pop ocidental deu seu primeiro passo significativo para a música e filosofia oriental em Love You To.
Revolver se refere à imagem do disco revolver (rodar) no pickup, mas carrega inevitavelmente uma semelhança com a arma. Teve vários possíveis nomes antes. Ia ser Abracadabra, mas uma outra banda já usara o título. Daí John sugeriu Four Sides of the Eternal Triangle e Ringo After Geography, uma zoação com o LP dos Rolling Stones Aftermath (math=matemática). Outras sugestões foram Magical Circles, Beatles on Safari e Pendulum.

Com 14 faixas em 35 minutos, Revolver saiu nos Estados Unidos no dia 8 de agosto. A versão americana tinha apenas 11 faixas. I’m Only Sleeping, Doctor Roberts e And Your Bird Can Sing, antecipadas para a Capitol americana, saíram na compilação Yesterday and Today, lançada em 20 de junho. A capa é do artistas plástico alemão Klaus Voorman, conhecido dos primeiros dias da banda, que optou por contrastar o psicodelismo do conteúdo com quatro cabeças desenhadas em preto e branco, desenhos e colagens de fotos. Klaus mais tarde viraria baixista e tocaria com John Lennon solo. O álbum ficou sete semanas em primeiro lugar na Grã-Bretanha e seis semanas na América. Com o passar do tempo ganhou estatura e disputa com Sergeant Pepper’s Lonely Hearts Club Band pelo título de melhor disco de rock de todos os tempos. Em 2002, por exemplo, os leitores da Rolling Stone americana o elegeram o melhor álbum de todos os tempos, opinião compartilhada por ninguém menos que o L’Osservatore Romano, o jornal oficial do Vaticano. Já numa outra eleição da Rolling Stone em 2003 ficou em terceiro na lista de 500 maiores álbuns de todos os tempos, depois de Sgt. Pepper’s e de Pet Sounds, dos Beach Boys.

A gravação foi de seis de abril a 21 de junho. Já no dia 24 os Beatles começaram sua última turnê na Alemanha, um périplo que os levaria ao Japão, Filipinas e Estados Unidos. Dia 29 de agosto realizaram sua última apresentação ao vivo no Candlestick Park, de San Francisco. Nenhuma música de Revolver foi tocada na turnê por considerarem difícil simplificar as canções para o palco. Dali em diante seriam apenas músicos de estúdio e já em novembro de 1966 estariam de volta a Abbey Road para começar as gravações da próxima revolução, Sergeant Pepper’s Lonely Hearts Club Band, lançado em 1º de junho de 1967.

4 comentários em “Aniversário de um disco revolucionário

  1. Difícil imaginar como foi possível colocar tanta criatividade num único álbum.
    Revolver é simplesmente o ápice do grupo que foi o ápice.

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  2. Digo, não raro com orgulho e garbo, que possuo este disco em vinil, com prensagem de 1966, ou seja, é relíquia mesmo!
    Quanto às canções, Jamari França não cita duas delas que também acho fantásticas e emblemáticas. Tratam-se das melodiosas (no bom sentido, é claro) “For No One” e “Here, There And Everywhere”. “She Said She Said” é, digamos, o peso-mor do disco e é sensacional também, como todas as demais músicas. Minha mãe só falta chorar ao ouvir “Here, There And Everywhere”, pois lhe traz boas lembranças de sua juventude e de um tempo que, segundo ela, apesar dos percalços, vivia-se a crença em vários sonhos e “ouvía-se coisas boas e novas nos discos e nas estações de rádio”. Digo a ela que foi uma privilegiada e, depois, ficamos a nos questionar se daqui há trinta anos ouviremos músicas que nos lembrem os dias atuais. A pergunta fica solta no ar e, perante o cenário atual (de terra arrasada), ainda sem respostas.

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    1. Caro Daniel, sem dúvida um dos maiores discos pop de todos os tempos. For No One é uma de minhas favoritas de Revolver e de toda a discografia da banda. Acho que realmente o grande Jama vacilou ao não mencioná-la.

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  3. Realmente um disco, digo, mais um disco fantástico do Fab Four.

    Amigo Gerson, vais para o Show do Paul?
    Eu vou no Show do dia 22.
    Ass. Valter Jr.

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