Lagartear é para os fortes

Num dos livros de Monteiro Lobato, acho que “Reinações de Narizinho”, está impresso o neologismo: lagartear. Algo como espreguiçar, relaxar, horizontalizar. O escritor falava de Pedrinho, recostado ao pé de uma árvore, matando o tempo com um capim no canto da boca e olhos postos no infinito. Li pela primeira vez essa passagem quando tinha mais ou menos 6 ou 7 anos, ainda em Baião, e jamais esqueci. Pesquei o livro na imensa biblioteca de meu tio-avô Enéas. Havia de-um-tudo lá. De Lobato, quase toda a obra, passando por Machado, Dickens, Alencar, Hemingway, Rosa, Dalcídio, Balzac, Drummond, Veríssimo (o pai), irmãos Grimm… Até o “Decameron”, e as sacanagens de Bocaccio, estava lá. Uma literatura generosa, sem restrição de gêneros, mas com acentuada preferência pela prosa. Os livros de então eram mais fortes, vinham com brochuras e capa dura. Também traziam ilustrações, o que me deixou por algum tempo escravo do “livro com figuras”. Só anos depois vim a saber das críticas a José de Alencar, com as quais hoje concordo apenas em parte.  Mas esse papo se destina a falar da velha e boa mania de não fazer nada. Os idiotas da objetividade não entenderiam, mas ficar coçando o saco é altamente terapêutico. Abre janelas da percepção, relaxa o músculo cardíaco, permite dar pause na correria atropelada e insana de todas as horas. Costumo reservar alguns minutinhos todos os dias para esse recolhimento, como quando todas as visitas vão embora e você se flagra sozinho na casa tomada pelo silêncio. É daqueles instantes revigorantes, mais ou menos quando salvamos o pé das amarras do sapato novo. Deve ser justamente o que o Obama fará daqui a pouco quando chegar ao hotel. Refastelado na cama, o cara mais poderoso do planeta vai poder esticar e flexionar os dedos do pé, depois de livre dos compromissos, etiquetas, salamaleques, frescuras e mesuras da agenda diplomática. Cá pra nós, nada mais libertador do que o encontro do homem consigo mesmo. Sem testemunhas.

A frase do dia

“Podem cravar aí: o Adriano é do Flamengo. Ou do Botafogo. E vocês ficam dizendo que ele é do Corinthians…”

De Andrés Sanches, presidente do Corinthians.

Perguntinha do dia (27)

Por que os árbitros da Fifa nunca ganham nos sorteios da Federação Paraense de Futebol, principalmente quando os jogos são no interior do Estado e em gramados impraticáveis, como os de Cametá e Tucuruí?