Quando daqui a alguns anos, um netinho meu, filho de Pedro ou João, perguntar quem foi Ronaldo, terei o orgulho de contar que foi o maior centroavante de todos os tempos. Diga-se: centroavante no sentido pleno do termo. Aquele jogador especializado em fazer gols, atuando no centro do ataque, no olho do furacão.
Ronaldo foi esse cara, e que ninguém me venha com comparações esdrúxulas com Gerd Müller, Just Fontaine, Van Basten ou mesmo Romário. Todos foram excepcionais à sua maneira no ofício de balançar as redes. Mas Ronaldo é um fora-de-série. Teve requintes de classe e surtos de super homem naquele retângulo onde tudo começa e acaba – a grande área.
Romário disse, com argúcia, que a grande área era sua casa. Pode-se afirmar sem temor que aquele território era o mundo de Ronaldo. No apogeu da forma física, ele extrapolou os limites da área. Há registro de gols maravilhosos iniciados em arrancadas do meio-campo.
Desfilou força e habilidade pelos campos, aliando coordenação assombrosa para dribles em velocidade e um perfeito equilíbrio no momento de disparar o chute fatal. Além das virtudes de boleiro, foi também um sobrevivente, renascendo heroicamente de duas lesões gravíssimas.
Todo mundo tem arquivado no coração seu gol preferido de Ronaldo. Por razão sentimental, lembro sempre daquele golaço contra os alemães na final da Copa de 2002. Depois do passe de Kléberson e do corta-luz sensacional de Rivaldo, o Fenômeno surge em cena com a perícia dos especialistas para bater rasteiro, no canto direito de Oliver Kahn, sem qualquer chance de defesa.
Há outro gol inesquecível, testemunhado ao vivo por este escriba baionense, da tribuna de imprensa do Westfalenstadion de Dortmund, na tarde nublada de 26 de junho na Copa de 2006. Foi contra Gana, em lance que começou na zaga brasileira. A bola chegou a Ronaldo em passe preciso de Kaká. Como um raio, ele chegou diante do goleiro, gingou e tocou para o gol vazio. Era seu 15º gol em Copas, recorde não superado até hoje.
O Brasil é uma usina permanente de fabricação de craques. Em cada campinho ou quadra floresce sempre a esperança real do nascimento de um iluminado que há de nos alimentar a imaginação por mais um punhado de anos. Foi assim com Pelé, Garrincha, Romário.
Ronaldo foi um desses heróis do povo, redentores da raça. Menino pobre de subúrbio que virou cidadão do mundo exclusivamente pela força do talento. Todos nós, meninos pobres do Brasil, entendemos e partilhamos suas dores, lágrimas e alegrias. É hora de aplaudi-lo no momento do adeus e agradecer por tudo, sinceramente. Obrigado.
Os tricolores de Belém têm encontro marcado hoje, às 20h, nos salões da Assembléia Paraense (sede da Presidente Vargas), no jantar comemorativo pelo título brasileiro de 2010. Presença do presidente do Fluminense, Peter Siemsen. O sistema é de adesão e os interessados devem contatar um dos coordenadores, Beto Russo, pelo fone 8114-8302.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça-feira, 15)