Novo tropeço inglês na Copa

Do técnico Rabah Saadane, da Argélia, depois de empatar com a Inglaterra sem gols:

“Pensei que eles fossem melhores. Nós fizemos nosso jogo com passes curtos e habilidade. Ficou claro que eles não estão em seu melhor momento ou não tiveram seu melhor dia”.

Para sorte de Fábio Capello e seus comandados, Eslovênia e EUA empataram também, adiando a definição de classificação para a última rodada do grupo, mas os eslovacos têm dois pontos de vantagem. O English Team terá pela frente a Eslovênia e os americanos terão a Argélia pela frente. Situação complicada para todos.

Alemanha cai e frustra boa impressão inicial

A Alemanha desfez nesta sexta-feira a impressão inicial, deixada com a goleada sobre a Austrália por 4 a 0 na estreia. Perdeu para a Sérvia, agora há pouco, jogando com as mesmas limitações e falta de inspiração das demais 30 equipes da Copa – a exceção, insisto, é a Argentina. Desperdiçou um pênalti com Podolski (nas fotos acima), mas os sérvios podiam ter feito pelo menos mais dois gols em ataques bem tramados.

Conexão África (11)

Será que a Argentina vai salvar a Copa?

A primeira reação à grande exibição de um time de futebol é manifestar simpatia e entusiasmo. Quando essa equipe é a rival Argentina, a empolgação é naturalmente reprimida, mas a verdade dos fatos não pode ser escondida. A seleção de Maradona fez, nesta quinta-feira, no Soccer City, o melhor jogo desta insossa Copa. E ninguém precisou que o adversário, a Coreia do Sul, jogasse alguma coisa. Um time só foi suficiente para fazer o espetáculo. E o encanto vem, obviamente, da quantidade de artistas reunidos por El Pibe. Feliz geração de craques sob o comando de um fora-de-série.
Mesmo não sendo técnico de verdade, Maradona tem a inclinação natural pelos bons de bola. Aí tudo fica mais fácil e simples: Higuaín, Di Maria, Tévez, Aguero (que entrou no final), Mascherano, Maxi Rodriguez e Messi, claro. Nenhuma outra seleção tem tal contingente de jogadores decisivos. Sorte dos argentinos que seu comandante gosta de gols, dribles em velocidade, passes sob medida. Como todo time habilidoso, a Argentina valoriza muito a posse de bola. Faz as jogadas passarem por quatro, cinco jogadores. Ao contrário do Brasil, esses passes são objetivos, não atrasam o jogo.
Contra a Coreia do Sul recuada, formando a mesma dupla linha de marcadores, o sofrimento argentino para abrir o placar durou apenas 17
minutos. E veio pelos pés de Park Chu Young, o craque sul-coreano, titular do Manchester United. Apavorado diante de uma cobrança perfeita de falta, mandou para as próprias redes. Mas não foi um lance casual. A Argentina já buscava o gol decididamente desde que a bola rolou. Criou seis chances claras, mas falhava no disparo final. Depois de 1 a 0, o time se lançou com mais voracidade ainda, tentando aumentar a diferença. Aos 33, em linha de passe na área, a bola sobrou para Higuaín cumprimentar para o barbante, com a colaboração do goleiro Jung Sung Ryong.
Aí, como é normal em times que cultivam a ofensividade, sobreveio um pequeno apagão e a Coreia descontou no derradeiro minuto do primeiro
tempo. O gol deu a impressão de que o jogo podia ficar difícil. E realmente ficou. Os primeiros movimentos da etapa final foram todos sul-coreanos, com boas triangulações e tentativas de chutes a gol.
Surgiam buracos na zaga argentina, De Michelis e Samuel erravam nas antecipações, mas a falta de objetividade do adversário não permitiu que esses vacilos fossem aproveitados. O cavalo passou selado e o empate não veio. Em poucos minutos, tudo mudou. Higuaín assumiu a artilharia do mundial, aproveitando dois contragolpes fulminantes, puxados por Messi e Aguero.
É a prova cabal e definitiva de que, quanto mais craques em campo, mais possibilidades de gol. Maradona sabe disso e está, aos poucos, exercitando essa crença. Depois da conduta errática nas eliminátórias sul-americanas, seu time começa a tomar forma no momento certo e é o primeiro a se classificar para as oitavas-de-final – com um pé nas costas. Pode até não chegar ao título, pois o mata-mata das próximas etapas costuma ser ingrato com favoritos, mas ainda vai nos brindar com grandes atuações de seus craques.

Maradona, sempre uma atração

Como na estreia diante da Nigeria, Diego Maradona voltou a brilhar, mesmo restrito àquele curto espaço ao lado do campo. Ao substituir Higuaín, quase ao final, recebeu seu atacante com os punhos cerrados, vibrando muito. Em seguida, deu-lhe um forte e demorado abraço. Antes, já havia arrancado aplausos ao dominar com elegância um bola que escapou pela linha de lado – e, obviamente, ofereceu-se em sua direção. Depois do jogo, na entrevista coletiva, esbanjou bom humor e agudeza de raciocínio. Bem articulado, evitou pedir desculpas ao Rei Pelé pelas farpas lançadas recentemente, mas sem mágoa, ira ou ressentimento. Coisa de eterno craque.

Palpite fora da realidade

Na burocrática entrevista de todo dia, Nilmar arriscou dizer que, caso se cruzem nas oitavas, Brasil e Espanha irão realizar uma espécie de “final antecipada”. Nada mais fora da realidade desta Copa. Nem o Brasil, nem a Espanha mostraram credenciais para serem finalistas. O futebol de resultados de Dunga diante da Coreia do Norte e o amarelão espanhol contra a Suíça permitem dizer que as duas esquadras precisam melhorar muito para começarem a sonhar com a final do torneio.

Câmera Big Brother vigia a todos

Na Copa da Alemanha, em 2006, a Fifa estreou o sistema de telão nos estádios, exibindo imagens ao vivo dos jogos. Surgiram questionamentos, mas com o tempo o futebol assimilou a nova prática, que veio em socorro do espectador presente ao jogo. Lances confusos, marcação de impedimentos e pênaltis passaram a ser mostrados no ato, para desespero dos árbitros. Nesta Copa, um novo passo foi dado. Uma câmera tipo Big Brother, suspensa por fios sobre o gramado, não permite que nenhuma ação dos jogadores ou da arbitragem passe despercebida. Chega a ser uma covardia, mas as deslumbrantes imagens em HD fazem deste o mundial da transparência absoluta.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 18)

José Saramago, *1922 +2010

Morreu nesta sexta-feira (18) em Lanzarote (Ilhas Canárias), o escritor português José Saramago, aos 87 anos. Saramago ganhou o Prêmio Nobel da Literatura em 1998. O escritor nasceu em 1922, em Azinhaga, aldeia ao sul de Portugal, numa família de camponeses. Autodidata, antes de se dedicar exclusivamente à literatura trabalhou como serralheiro, mecânico, desenhista industrial e gerente de produção numa editora. Começou a atividade literária em 1947, com o romance Terra do Pecado. Voltou a publicar livro de poemas em 1966. Atuou como crítico literário em revistas e trabalhou no Diário de Lisboa. Em 1975, tornou-se diretor-adjunto do jornal Diário de Notícias. Acuado pela ditadura de Salazar, a partir de 1976 passou a viver de seus escritos, inicialmente como tradutor, depois como autor.

Em 1980, alcança notoriedade com o livro Levantado do Chão, visto hoje como seu primeiro grande romance. Memorial do Convento confirmaria esse sucesso dois anos depois. Em 1991, publica O Evangelho Segundo Jesus Cristo, livro censurado pelo governo português – o que leva Saramago a exilar-se em Lanzarote, nas Ilhas Canárias (Espanha), onde vive até hoje. Foi ele o primeiro autor de língua portuguesa a receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1998. Entre seus outros livros estão os romances O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984), A Jangada de Pedra (1986), Ensaio sobre a Cegueira (1995), Todos os Nomes (1997), e O Homem Duplicado (2002); a peça teatral In Nomine Dei (1993) e os dois volumes de diários recolhidos nos Cadernos de Lanzarote (1994-7). (Do Portal UOL)

Encontro com as feras

Valmir Rodrigues e eu encontramos no Centro de Imprensa alguns novos “colegas” de ofício. É o caso de Enzo Francescoli, ídolo da seleção uruguaia e do River Plate nos anos 80/90. Sempre muito educado, Francescoli explicou que é comentarista de TV no Uruguai e mostrou-se animado com a vitória de seu país sobre a África do Sul, prevendo classificação à próxima fase. No outro registro, em frente ao Soccer City, Valmireko aparece ao lado de Carlos “El Pibe” Valderrama, que brilhou na seleção dirigida por Maturana na década de 90. Comentarista da Rede Caracol, uma das mais fortes da Colômbia, Valderrama acha (como todos) que a Copa ainda não engrenou, mas previu boa participação do futebol sul-americano.

Lakers conquista bicampeonato da NBA

Até ontem Magic Johnson e Kareem Abdur Jabaar eram os únicos craques do Lakers de Los Angeles a terem vencido finais contra o Boston Celtics na NBA. Agora, Kobe Bryant e Pau Gasol também ingressam neste seleto clube, depois da empolgante vitória desta quinta-feira à noite, por 83 a 79, no sétimo e decisivo jogo das finais. Bryant, escolhido MVP na decisão, empata em títulos com Johnson. O embate foi difícil e se estendeu por quase três horas. O Lakers chegou a estar perdendo por 36 a 49 a 8:24 do final do terceiro quarto.

Aumenta a cantoria argentina nas ruas

Os argentinos, por justificadas razões, estão fazendo a festa em Johanesburgo, empolgados com a ofensividade e o estilo alegre de sua seleção. Naturalmente já propensos à empolgação, os grupos de torcedores alvicelestes invadem todos os locais sempre cantando ruidosamente aquele hino de guerra que diz “Argentina, vamos vencer…”. Até os sul-africanos, normalmente meio alheios a questões futebolísticas, começam a aderir a essa febre argentina. Aqui, mais alguns registros da presença da torcida em torno do estádio Soccer City.

Pensata: A Seleção a serviço da cerveja

Por Aloísio de Toledo César (*)

É desanimador, profundamente desanimador, assistir na televisão, várias vezes ao dia, às propagandas que mostram craques da Seleção Brasileira de futebol induzindo a população a ingerir bebida alcoólica. Realmente, o técnico Dunga e jogadores que integram ou já integraram a seleção ali estão, presumivelmente por dinheiro, a estimular aqueles que os admiram a esse vício, que representa drama dos mais sérios para milhões de pessoas neste país: o alcoolismo. Subliminarmente, tal propaganda enganosa procura associar o êxito e a vitalidade física ao hábito de tomar uma determinada marca de cerveja. Esse comportamento reprovável já contagiou, irremediavelmente, o jogador Ronaldo e depois, isoladamente, o técnico Dunga. Ambos se prestam docilmente a apontar à juventude que é bom e saudável beber cerveja. Mas, agora, o que aparece nos filmes é muito pior – é a imagem da própria Seleção Brasileira de futebol, com vários de seus integrantes, a pedir aos brasileiros que bebam a referida cerveja. A seleção é assunto nacional e por isso mesmo revolta.
Não se pode imaginar que isso seja feito de graça, e sim por dinheiro, aquilo que o conselheiro Acácio chamava com ironia de vil metal. Enfim, excelentes exemplos de atletas de nosso país, que deveriam servir de modelo para a juventude, corrompem-se dessa forma, projetando uma imagem da qual talvez um dia se arrependam. Os profissionais da área publicitária sempre dizem que a filosofia por trás da propaganda está baseada na velha observação de que todo homem é, na realidade, dois homens: o homem que ele é e o homem que gostaria de ser. Isso parece estar evidente no caso referido, porque é incalculável o número de jovens brasileiros que gostariam de ser iguais a Dunga e aos jogadores da Seleção.

Mas para isso será que é necessário beber cerveja? Sobretudo para os adolescentes, essa propaganda infeliz se mostra danosa, porque associa
vitalidade e sucesso ao gesto nada recomendável de beber cerveja, em vez de simplesmente praticar esporte e tornar-se saudável. No momento em que esse engodo se processa pelas televisões brasileiras, é curioso observar que o mais expressivo jogador de futebol de todos os tempos – o incomparável Pelé – nunca apareceu em anúncios associando sua imagem a bebida. Essa conduta, sem nenhuma dúvida, serviu para que Pelé sempre seja visto com respeito.

Também nunca se viu o cantor Roberto Carlos, tão em voga nestes dias, prestar-se a esse comportamento abominável. Décadas atrás, quando uma
frase de sua autoria era repetida por todo o Brasil – “É uma brasa, mora?” -, conta-se que lhe ofereceram uma fortuna para que dissesse: “É uma (marca de cerveja), mora?” Mas ele se recusou e, assim, o seu exemplo se manteve íntegro. Os criadores de propaganda não se incomodam com os efeitos danosos de algum veneno embutido nos produtos que conseguem enfiar goela abaixo dos consumidores. Para eles, o essencial é vender, o que se
compreende, porque são pagos para isso.Mas é evidente que, ao ver o filho adolescente bebendo cerveja, porque, afinal, o Ronaldo toma, o Dunga toma, talvez eles se perguntem, ao olhar no espelho, se estarão fazendo a coisa certa.

Do ângulo dos produtores de cerveja, emerge um gesto de hipocrisia ainda pior, porque, ao final de cada propaganda veiculada, acrescentam o pedido de que se beba como moderação, como se isso os absolvesse de qualquer censura. Os romanos, ao longo do domínio secular que exerceram sobre a Europa, a África e a Ásia, sempre repetiram uma frase de extraordinário significado: “Corruptio optimi pessima”, que significa a corrupção do melhor é a pior. Pessoas que se destacam e se tornam públicas, como é o caso de atletas, jogadores e artistas, estão permanentemente sob a luz dos holofotes e deveriam ter um mínimo de respeito ético em relação ao país que lhes permitiu a consagração. Enfim, deveriam devotar amor ao Brasil e aos brasileiros, e não ao dinheiro.

Mas, infelizmente, vê-se que o amor ao dinheiro cresce tanto quanto o próprio dinheiro. Isso é especialmente grave quando os beneficiários dessa conduta usam o próprio país, ou seja, se prevalecem de estar na Seleção Brasileira de futebol, sonho tão grandioso, para fazer propaganda de cerveja. Como se a seleção brasileira fosse deles. É difícil acreditar que exista algum patriotismo nesse comportamento, além da avidez por uma gorda conta bancária. Não se pode dizer que haja crime nessa conduta, mas, sem dúvida alguma, trata-se de comportamento reprovável que alcança, por omissão e cumplicidade, as autoridades responsáveis pela Seleção Brasileira.

Não se haverá de exigir que jogadores de futebol não se deixem levar, uma vez ou outra, pelo prazer de tomar um gole de cerveja. Será natural que isso ocorra. Mas não é natural, nem desejável, que assumam uma conduta pública que atua em desfavor deles próprios. É possível que a questão divida as opiniões e sem nenhuma dúvida haverá os que considerem natural um craque da Seleção induzir os jovens ao hábito da bebida. Mas sempre haverá também alguns, como eu, que jamais aceitarão esse comportamento e estarão na expectativa de que a omissão dos superiores desses atletas não seja
tão vergonhosa como a conduta deles. A propaganda individual, feita apenas por um dos integrantes da Seleção, sem o uniforme oficial, por si só, já se mostra chocante. Mas quando ocorre coletivamente, associando a luta da esquadra canarinho ao consumo de bebidas, no mínimo, contribui para virar o estômago.

Aloísio de Toledo César é desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo. O email dele é aloisio.parana@gmail.com