Dia: 15 de junho de 2010
Encontro com as feras
Sem motivos para foguetório
De saída do estádio Ellis Park, tentando resistir bravamente à temperatura de 2 graus, converso com vários colegas e o sentimento expresso é unânime: o Brasil ficou devendo uma estreia mais condizente com sua história de conquistas e tradição de futebol-arte. Penou para garantir o triunfo, com direito a alguns sustos. O gol da modesta equipe norte-coreana nos instantes finais pôs as coisas em perspectiva: a Seleção passou com dificuldades por seu primeiro desafio na Copa. O dado preocupante é que a Coréia do Norte é o mais fraco de todos os 32 times disputantes – pelo menos, segundo o ranking da Fifa.
Há, portanto, um longo caminho a percorrer, que passa principalmente pela recuperação técnica de Kaká, que demonstrou falta de confiança para comandar as ações criativas do time. Robinho precisa de mais liberdade para ousar e talvez aos poucos ganhe o papel de verdadeiro líder em campo, por mérito. Duro é constatar que os reservas imediatos não têm sequer a confiança do treinador. Júlio Batista seria o substituto natural de Kaká, mas Dunga optou por Nilmar. Kleberson entraria no lugar de Elano, mas o treinador decidiu improvisar Daniel Alves.
A explicação de Dunga, na coletiva pós-jogo, para a dificuldade de enfrentar retrancas não merece ser levada a sério, por óbvia e inconsistente. Afinal, ao longo dos anos, sempre foi assim: o Brasil, temido por todos, obriga qualquer equipe a se acautelar. Já é tempo de arranjar meios de saber atacar em situações assim. Ficar tocando bola e esperando o tempo passar não é estratégia; trata-se apenas de falta de ideias.
Mas muitos vão comemorar os três pontos e ninguém pode dizer que estão errados. Claro que há valor na vitória, mesmo magra. Valeu a liderança provisória do grupo. Os mais observadores, porém, certamente ficaram com a pulga atrás da orelha. O velho temor de que o pragmatismo de Dunga pode nos deixar a pé está mais forte do que nunca. A não ser que ocorra um milagre, torcer pelo escrete será um exercício de sofrimento.
A Copa dos empates, por ora
Portugal fica no empate com a Costa do Marfim, num jogo sem grandes emoções. Cristiano Ronaldo duelou, sem sucesso, com a zaga marfinense e Drogba, ainda em recuperação, entrou nos instantes finais. Para o Brasil, um belíssimo resultado porque permite que, em caso de vitória, assuma a liderança isolada do Grupo G. Foi mais um empate nessa Copa de baixíssimo nível técnico e pouquíssimos gols – média de 1,5 por partida.
Expectativa pela estreia brasileira
Cavalaria afasta vendedores ambulantes
A polícia sul-africana marca em cima a legião de vendedores ambulantes que montaram acampamento nas cercanias do estádio Ellis Park, aqui em Johanesburgo, à espera dos torcedores brasileiros. Mais de 50 deles foram afastados das ruas pelos policiais (da cavalaria). O grupo vendia camisetas, bandeiras, vuvuzelas, gorros e luvas, em atividade considerada ilegal em áreas de jogos da Copa do Mundo.
Zamorano vê Brasil e Espanha como favoritos
Em 17 anos de carreira, Iván Zamorano defendeu clubes de destaque como Real Madrid e Internazionale. Porém, foi na seleção chilena que acabou se imortalizando ao ajudar o país a chegar às oitavas de final da Copa do Mundo da FIFA 1998. A poucas horas da estreia da Roja na África do Sul 2010, o comentarista do canal chileno TVN conversou em exclusividade com o FIFA.com em Johanesburgo.
Iván, quais são as suas expectativas sobre esta seleção chilena?
As mesmas que existem em todo o país: muitas. Hoje, mais do que nunca, temos uma boa seleção, um grande técnico, que conseguiu impor a sua filosofia, e o compromisso total dos jogadores. Essa combinação já funcionou em campo com um bom futebol e bons resultados. Hoje, mais do que nunca, tenho muita fé de que podemos fazer uma grande Copa do Mundo.
Você está aqui como comentarista de televisão. O que é mais difícil, jogar uma Copa do Mundo ou aparecer diante das câmeras?
Aparecer diante das câmeras! (risos) Pode ter certeza que era mais fácil jogar do que fazer isto, mas gosto de desafios e de responsabilidades, e aqui estamos.
Não tem vontade de entrar em campo?
Isso não se perde nunca. Geralmente, antes de comentar, tenho as mesmas cócegas de quando jogava. Já me vejo na quarta-feira, emocionado por poder estar mais uma vez com o Chile em um Mundial. Imagine então quando tocar o hino!
Que outra seleção você tem vontade de ver?
Vale a pena pagar o ingresso para ver a Holanda jogar. Tem um futebol ofensivo e vistoso, com jogadores de grande qualidade, e pode ser a surpresa desta Copa do Mundo. E depois os favoritos: Brasil e Espanha.
Você jogou muitos anos na Itália. O que acha da seleção que chega à África do Sul para defender o título?
A Itália sempre é protagonista. Nas duas últimas vezes em que foi campeã, tanto em 1982 quanto em 2006, começou fraca. Por isso é sempre necessário ter cuidado com ela. O ponto forte é a experiência dos jogadores e de Marcello Lippi. Além do mais, caiu em um grupo relativamente acessível. Portanto, é bom ficar de olho.
Morumbi e Arena da Baixada fora da Copa
A CBF lançou, na manhã desta terça-feira, a Casa Brasil aqui em Johanesburgo e a grande notícia do evento não foi anunciada oficialmente por nenhuma autoridade. Os estádios do Morumbi (SP) e Arena da Baixada (PR) estão fora da lista prevista para a Copa do Mundo de 2014. Esta era a informação que circulava nos bastidores e chegou aqui ao Centro de Imprensa do estádio Ellis Park. Falta agora a confirmação final por parte de Ricardo Teixeira e do ministro dos Esportes, Orlando Silva.
Como falar direito o nome dos norte-coreanos
Mesmo quem não é locutor esportivo se atrapalha com as pronúncias de nomes de jogadores estrangeiros. Grafias diferentes, diversas línguas. Abaixo, acompanhe a lista com os 23 convocados de Coreia do Norte, que é o adversário de estreia do Brasil na Copa. Na Coreia do Norte, onde o coreano é a língua oficial como na vizinha do Sul, o sobrenome vem primeiro. É assim que os jogadores costumam ser chamados. Curiosamente, há três Kim na lista. Kim é o “Silva” do país, ou seja, o sobrenome mais comum.
Número da camisa – Nome = Como se fala
1 – Ri Myong-Guk = Lí Miôm Gú
2 – Cha Jong-Hyok = Tcha Tchôm Rió
3 – Ri Jun-Il = Li Chum Íl
4 – Pak Nam-Chol = Páq Nam Chól
5 – Ri Kwang-Chon = Li Cuâm Chón
6 – Kim Kum-Il = Quim Cum Íl
7 – An Chol-Hyok = An Chôl Rió
8 – Ji Yun-Nam = Di Ium Nam
9 – Jong Tae-Se = Tchôm Tê Sê
10 – Hong Yong-Jo = Rum Iôm Rô
11 – Mun In-Guk = Mum Im Gú
12 – Choe Kum-Chol = Tchê Cum Chól
13 – Pak Chol-Jin = Páq Chól Dim
14 – Pak Nam-Chol = Páq Nam Chôl
15 – Kim Yong-Jun = Kim Ium Djum
16 – Nam Song-Chol = Nam Rom Chól
17 – An Young-Hak = An Iôm Rá
18 – Kim Myong-Gil = Quim Miôm Guil
19 – Ri Chol-Myong = Li Chól Miôm
20 – Kim Myong-Won = Quim Miôm Uam
21 – Ri Kwang-Hyok = Li Cuam Rió
22 – Kim Kyong-Il = Quim Quiôm Íl
23 – Pak Sung-Hyok = Páq Som Rió
Conexão África (8)
As máximas do “professor” Dunga
O assunto devia ser apenas o jogo, mas a questão da liberdade virou o grande tema da véspera da estreia brasileira na Copa do Mundo da África do Sul. E quem provocou o debate foi Dunga, que encerrou sua aguardada (e curta) entrevista coletiva da noite de ontem, na sala de imprensa do Ellis Park, falando justamente em liberdade, o que não deixa de ser irônico para quem tem exercitado tão pouco o conceito da livre informação. Como de hábito, o treinador distribuiu coices para todo lado, bateu firme nos inimigos ocultos que cultiva há tempos e voltou a dizer que não se pauta pelo noticiário ou opinião dos analistas. Defendeu seu time, esgrimindo os números positivos e as conquistas ao longo dos últimos três anos. Nada de novo no discurso.
Não chegou a ocorrer o esperado duelo entre o técnico e os jornalistas que cobrem a Seleção, mas o clima se manteve pesado o tempo todo. É preciso entender que, para Dunga, jornalistas são todos inimigos, que acompanham seu trabalho com o único fito de apontar coisas negativas, ressaltando defeitos sem reconhecer os méritos. Para justificar esse modo de pensar, o ex-volante cravou uma de suas muitas frases estudadas. Disse que é criticado mais pela sua personalidade do que pelo seu trabalho. Com sorrisinho irônico, recebeu uma pergunta sobre a falta de criatividade do time dizendo que sempre ouviu isso, desde criança. Sem entrar no mérito da coisa, preferiu dizer que a proibição de cobrir os treinos e a falta de abertura para jantares ou entrevistas exclusivas teriam sido os motivos da antipatia que a mídia lhe devota.
Com o ar messiânico dos que marcham sozinhos contra o mundo, explicou didaticamente a natureza dos treinos que faz. Não há proibição, apenas privacidade. Na retórica de Dunga, treinos sem cobertura da imprensa são justificados pela quantidade de jogadas e ensaios táticos que possibilitam. Reafirmou que seus jogadores não reagem bem diante de platéia, o que soa esquisito para uma geração que se acostumou a câmeras e holofotes. Mais que isso: todos os convocados, sem exceção, adoram a atenção midiática – e ganham muito dinheiro com isso. A nova ordem estabelecida por Dunga no futebol brasileiro passa por cima dessas verdades, com a cumplicidade da pequena claque de repórteres que gravita em torno da Seleção e morre de medo de perder o espaço que hoje já nem existe.
Na entrevista, o comandante faz questão de repisar suas crenças, como se tivesse sido treinado naqueles cursos intensivos para executivos que precisam aprender a falar em público. Repete tanto certas opiniões que já deve acreditar piamente em tudo. O impressionante é que, em dado momento, até cedeu às evidências e admitiu broncas antigas com a imprensa, sem especificar se é um segmento específico ou se é todo mundo.
Ah, sobre o jogo contra a Coréia do Norte, deixado em segundo plano na entrevista, alguém perguntou sobre o adversário. Gancho para nova lição do professor Dunga. Futebol não é passado, nem futuro: é presente. Arremata a frase freita com o tradicional gesto respeitoso em direção ao rival, qualificado como um time fechadinho e que sai em alta velocidade para o ataque. O amistoso entre norte-coreanos e nigerianos, na semana passada, mostrou algo diferente: um time atrapalhado, que não sai rápido nem sabe se fechar.
Para fechar a conversa, não podia faltar a velha ladainha inspirada na seleção campeã de 1994. À pergunta de um repórter americano sobre
futebol-arte, Dunga resumiu tudo como uma questão de gosto – e o dele é no sentido de vencer sempre. Que assim seja.
Responsabilidade com a história
Ao ver Dunga vociferando suas verdades, fico cada vez mais com a certeza de que os técnicos da Seleção perdem em algum momento a noção de realidade. Mais que isso: desprezam a história. E o que se sabe é que o Brasil pentacampeão do mundo nunca se deu bem quando fechou as portas à informação. Talvez por castigo, afinal futebol tão vitorioso não combina com ódios e malquerenças. E sem esquecer que, daqui a quatro anos, a bola estará conosco.
Holanda: pouco esforço e quase nenhum talento
Fui ao estádio Soccer City com a esperança de ver a primeira grande exibição de duas boas escolas, normalmente associadas à alegria de jogar. Para tamanha expectativa, o resultado final foi frustrante. O melhor espetáculo ficou mesmo para a empolgada torcida nederlandesa, que não economizou alegria e incentivo. A Holanda, que junta grande quantidade de talentos, não parecia muito disposta a correr em campo nos primeiros minutos. Travado, o time buscava os passes laterais e as tentativas de lances agudos em direção à área dinamarquesa. Nunca dava certo. Às vezes, os passes saíam curtos demais. Noutras, os lançamentos se perdiam pela linha de fundo. Com o passar do tempo, a coisa foi ficando monótona e a Dinamarca sentiu-se animada a contra-atacar. No começo, discretamente. Depois, com mais insistência e até algum perigo, tanto que os dois lances mais agudos do primeiro tempo pertenceram aos atacantes Jorgensen e Bendtner. Só não houve vaia quando os times desceram para os vestiários porque
esta é, indiscutivelmente, a Copa das torcidas civilizadas. Os sul-africanos torcem comedidamente porque ainda estão se acostumando ao futebol. Os torcedores visitantes geralmente são mais contidos por estarem em terra estranha. Em situação normal, holandeses e dinamarqueses mereciam bons apupos por tudo que não fizeram. No segundo tempo, logo a um minuto, veio o gol que salvou a estreia holandesa. Van Persie, até então pouco notado, cruzou na direção da área e o zagueiro Poulsen desviou de cabeça para as próprias redes.
A trapalhada acendeu os brios dinamarqueses. No afã de empatar, passou a abrir espaços na defesa, permitindo triangulações entre De Jong, Sneijder, Persie e Van der Vaart. Jogadores habilidosos, não tiveram dificuldades em envolver o lado direito da zaga dinamarquesa. Dos 35 minutos em diante, brotou o futebol de toques e velocidade que fizeram da Holanda uma das candidatas ao título. Menos de 15 minutos de bom futebol renderam um gol (Kuyt) e dois lances de grande perigo, que poderiam ter estabelecido uma injustíssima goleada.
No final, duas certezas: a Holanda deixou a impressão de que pode jogar muito mais que isso e a Dinamarca confirmou a imagem de time em formação, mas sem craques que permitam algum otimismo.
Beleza fora dos gramados
Em torno do suntuoso Soccer City, um espetáculo multicolorido patrocinado pelos holandeses, cuja torcida compareceu em massa e com grande contingente feminino. Até nesse aspecto, a Dinamarca foi mais tímida. Torcedor tem faro para essas coisas, sabe quando o time dá ou não pro gasto. A festança em torno do estádio, que incluiu até escolha de Miss Orange, não deixava dúvidas sobre a esquadra mais confiante. Depois do que vi antes e depois do jogo, custo a crer que surja nesta Copa uma torcida mais bonita que a holandesa.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça-feira, 15)
Rádio Clube na TV da Indonésia
A quem interessar possa…
Agenda do presidente Lula nesta terça-feira, 15:
9h Carlos Eduardo Gabas, ministro da Previdência Social, no Centro Cultural Banco do Brasil
10h João Reis Santana Filho, ministro da Integração Nacional
11h30 Roberto Monteiro Gurgel Santos, procurador-geral da República
12h José Artur Filardi Leite, ministro das Comunicações
15h30 Assiste à transmissão de Brasil x Coreia do Norte, no Palácio da Alvorada
(Fonte: Secretaria de Imprensa da Presidência)