Dedicação ao esporte mais popular do mundo ocupa cinco horas, em média, do tempo da população masculina adulta em todo o mundo. E, mais uma vez, quando o assunto é futebol, tem brasileiro no meio. A Heineken acabou de divulgar o resultado da pesquisa realizada com 5,3 mil pessoas de 15 países sobre a importância do futebol na vida dos homens, e o Brasil aparece em segundo lugar, perdendo apenas para os ingleses. Os homens da terra da rainha são os mais fanáticos quando o assunto é bola na rede: assistem semanalmente cerca de 2 horas e 22 minutos de partidas e passam 3 horas e 21 minutos falando sobre futebol. Os brasileiros vêm em logo seguida. Conversam sobre os últimos resultados, faltas, gols ou rumores de transferências de jogadores com seus amigos, por aproximadamente 3 horas e 20 minutos e ao assistir um total de 2 horas e 10 minutos de partidas a cada semana.
Dia: 21 de junho de 2010
Cenas da jornada esportiva no Soccer City
Imagens do estádio Soccer City, na noite de domingo, por ocasião do jogo Brasil x Costa do Marfim. Nas fotos acima, visão do gramado com as equipes perfiladas, companheiros Geo Araújo e Giuseppe Tomaso na cabine 113 ocupada pela Rádio Clube do Pará e o encontro deste escriba baionense com o narrador Paulo “Amigão” Soares, da ESPN/Rádio Eldorado.
Misses vendem simpatia no Centro de Imprensa
Candidatas ao concurso Miss Mundo visitaram o Centro de Imprensa da Copa do Mundo em Johanesburgo, nesta segunda-feira. Foram recepcionadas por dirigentes do Comitê Organizador do mundial. É óbvio que a presença das moças (entre quais, a representante brasileira) tornou o ambiente ainda mais festivo.
Chile vence e confirma campanha 100%
Com um gol de Mark González, no segundo tempo, o Chile derrotou a Suíça por 1 a 0 nesta segunda-feira, no estádio Nelson Mandela Bay, em Porto Elizabeth. Com 100% de aproveitamento até aqui, o Chile está praticamente classificado para as oitavas-de-final, deixando a briga pela segunda vaga entre Espanha e Suíça. O resultado confirmou a boa performance da equipe, que rendeu melhor no tempo final, com grande atuação de Valdívia. Chile, Argentina e Brasil venceram todos os seus jogos e Paraguai e Uruguai estão invictos, garantindo à América do Sul a melhor presença na Copa até agora. Ásia, África e Europa decepcionam nesta primeira fase.
Aventuras gastronômicas no país da Copa (7)
Prato que une itens da culinária sul-africana com contribuições de um chef afegão. A iguaria servida num dos restaurantes do Centro de Imprensa (IBC), em Johanesburgo, no cardápio desta segunda-feira, traz esfiha de milho e brócolis, almôndegas com molho picante, pastéis crocantes com recheio de legumes e a nossa velha conhecida galinha guisada com batatas. De razoável para bom, não fosse a receita excessivamente apimentada. Nota 6,5.
Tempestade de golos na Cidade do Cabo
A Cidade do Cabo foi palco da maior goleada da Copa até aqui. Portugal surrou impiedosamente a Coreia do Norte por 7 a 0 nesta segunda-feira e ficou em ótima situação para garantir participação nas oitavas-de-final, pelo excelente saldo de gols que passou a ter em relação à Costa do Marfim, seu adversário direto na briga por uma das vagas do Grupo G. No estádio Green Point totalmente lotado (mais de 63 mil pessoas) e sob chuva, Portugal conseguiu estabelecer a sua maior vitória em Copas depois de um primeiro tempo equilibrado e sem superioridade flagrante. Na etapa final, em apenas sete minutos, o ataque lusitano marcou três gols e desnorteou a Coreia do Norte.
Raul Meireles abriu a contagem aos 39 minutos do primeiro tempo. Na etapa final, Simão aos 8 minutos, Hugo Almeida aos 11 e Tiago aos 13 abriram caminho para a goleada, que seria complementada com gols do brasileiro naturalizado Liédson aos 36, Cristiano Ronaldo aos 42 e Tiago aos 44. Cristiano Ronaldo não marcava pela seleção portuguesa desde a Eurocopa de 2008.
Uma noite de felicidade e xingamentos
Dunga saiu do campo chutando a grama e gritando contra o árbitro francês Stephane Lannoy. Não engoliu a expulsão de Kaká nem os pontapés que seus jogadores levaram dos africanos da Costa do Marfim. Desde os primeiros instantes do jogo, ele não conseguiu disfarçar sua irritação com o juiz. Xingou até a quarta geração de Lannoy. Pouco mais de 15 minutos após a partida, aparentemente sereno, o treinador atribuiu a vitória (3 a 1) à maturidade dos jogadores, que não revidaram as pancadas, e ao futebol arte do seu time.
Quando entrou na sala de entrevistas do Soccer City, diante de cerca de 200 jornalistas brasileiros e estrangeiros, Dunga tinha um sorriso sarcástico. Ele acabava de classificar o Brasil às oitavas de final da Copa. Não havia motivos para ser bombardeado. E mesmo assim se irritou com alguns jornalistas. Antes da entrevista, deu uma abraço em Cafu, capitão do penta, que passou pela sala só para dar parabéns ao treinador e a Luís Fabiano. Antes de se indispor com um repórter da TV Globo, Dunga disse que a partida foi muito difícil, não só pelo estilo do adversário, mas também pela complacência do árbitro aos pontapés dos marfinenses.
“O jogo foi muito complicado, atlético, de muita força física, de muitas faltas. Todos nós que gostamos do futebol não podemos aceitar o que aconteceu hoje (domingo). Pessoas que têm a missão controlar espetáculo tem de saber o que é futebol e o que não é. Difícil jogar futebol arte como pedem, se o árbitro deixar passar o que deixou passar hoje.” Após a resposta, Dunga olhou para Alex Escobar, da Globo, que estava na sala e disse assim: “Algum problema?” Escobar respondeu: “Nenhum, Dunga. Eu nem estava olhando para você.”
Em seguida, um jornalista brasileiro pediu a avaliação do treinador sobre o desempenho de Luís Fabiano. Antes de responder, Dunga continuou olhando para Escobar e murmurando palavrões. Depois falou do artilheiro da noite. “Todos os jogadores da seleção confiam no Luís. E ele sempre deu a resposta aqui na seleção. Vinha de uma lesão, cinco jogos sem marcar um gol. Havia muita cobrança dele próprio e de vocês (imprensa). Os gols foram importantes para acabar com essa ansiedade. A gente sabia que o seu momento ia chegar”, respondeu e voltou a olhar para Escobar. De novo murmurando para sua fala não sair no microfone, xingou o repórter da Globo.
Então perguntaram sobre Kaká, se ele concordava com a expulsão. Mais um bom momento para espetar Lannoy, o juiz francês. “A expulsão do Kaká foi totalmente injusta. O cara sofre a falta e ainda é punido. Essa arbitragem seria boa para mim quando jogava, ia fazer faltas à vontade e não ia levar o cartão. Fizemos três gols e levamos mais cartões que o adversário. Fica a dúvida: o que temos de fazer para jogar futebol?”. E o Kaká? “Ele vinha bem, faltava ganhar confiança. Essa parada (pela expulsão), que vai ser curta entre um jogo (Portugal) e o outro (pelas oitavas de final), vai acabar ficando boa para o Kaká se recuperar ainda mais.”
Quase ao final entrevista perguntaram ao treinador se daria folga aos jogadores hoje. “Não adianta dar tempo livre aos jogadores porque vocês (jornalistas) vão atrás deles. Então é melhor ficar relaxado lá no hotel. Assim teremos mais tempo lapidar o que cada um precisa”. Antes de deixar a sala, o técnico disse assim a um funcionário da Globo: “É preciso ser homem, olho no olho e não m… nas calças.”. Dunga estava feliz.
(Do Estadão)
Azzurra só encanta nas arquibancadas
A Azzurra vai mal das pernas na Copa. Dois jogos, dois empates sem a menor graça. Há risco de eliminação precoce para os comandados de Marcelo Lippi, que decepcionam com o futebol apresentado neste começo de mundial. Por enquanto, salva a participação italiana o charme de suas torcedoras. Sem elas, os jogos da tetracampeã Itália aqui na África do Sul estariam ainda mais sonolentos.
Conexão África (14)
Dois golaços e alguns momentos inspirados
Quando insisto que passe e velocidade são itens indispensáveis no futebol atual é porque não há defesa ou esquema defensivo que resista a essa combinação. Alguns confundem com afobação, mas o conceito é simples e dispensa a correria desenfreada. É consenso que o Brasil não fez um bom primeiro tempo, pois reincidiu no pecado da lentidão na saída para o ataque e na ausência de agressividade. Mas venceu ao construir a única grande jogada desse período: uma tabelinha perfeita envolvendo Robinho, Luís Fabiano e Kaká, com direito a um toque de calcanhar e um passe sutil para o centroavante estufar as redes marfinenses. Foi o solitário sopro de talento da seleção, mas abriu esperanças quanto ao desenvolvimento da partida.
No segundo tempo, tudo se modificou – e sem que fosse necessária a troca de jogadores. Apenas com o novo posicionamento do meio-campo, o
Brasil adquiriu outra feição em campo e desfez a apatia predominante nos 45 minutos iniciais. Do 4-2-3-1 que se arrastava sem grande inspiração, o time evoluiu para um 4-4-2 clássico, que em certos momentos se transformava em 4-2-4, pois Kaká e Elano passaram a atuar praticamente como extremas. Os resultados práticos dessa iniciativa não tardaram a aparecer, com a providencial interferência de Luís Fabiano, que aproveitou um chutão para fazer o segundo gol brasileiro, depois de aplicar dois dribles sensacionais (incluindo um chapéu) sobre os zagueiros.
A inspiração pelo golaço de Luís Fabiano parece ter contagiado o restante do time, que por cerca de 20 minutos realizou sua melhor atuação nesta Copa, coroada pelo gol de Elano em lance inteiramente executado por Kaká em incursão pela extrema esquerda. Dali veio não um lançamento, mas um passe perfeito para a finalização do volante. A partir daí, com rapidez na reposição de bola e fluidez na troca de passes, a Seleção ainda teve duas ou três chances de disparar uma goleada. A partir dos 35 minutos, a partida acabou apresentando uma sequencia de faltas duras cometidas pelos marfinenses, sem que o árbitro coibisse o jogo violento. Para surpresa geral, Kaká acabou se envolvendo na escaramuça e foi expulso, desfalcando o time, que já havia perdido Elano, também atingido asperamente por um zagueiro adversário. Sem seus dois homens mais dinâmicos na armação, Dunga lançou Daniel Alves, sem conseguir porém o mesmo rendimento da formação anterior. Um cochilo de marcação permitiu que Drogba descontasse, de cabeça.
O saldo final do confronto, contudo, é bem positivo para a Seleção. Sem ser brilhante nem regular, o time mostrou competência para aproveitar os espaços no segundo tempo, usando velocidade e habilidade na dose certa e beneficiando-se do talento individual de seus atacantes. A dúvida é como o time irá se comportar no clássico com Portugal, com a saída de Elano (contundido) e Kaká justo quando o bom futebol começava a aparecer.
Castigo para quem mais sofreu faltas
Kaká, bom moço e rapaz de família, não pode entrar na malandragem de jogadores acostumados a usar a catimba como arma. Depois de ter sofrido uma falta dura, Kaká levou injustamente um cartão amarelo. Abalado, continuou a aceitar as provocações e acabou dando um esbarrão, punido severamente pelo confuso árbitro da partida. A repetição das imagens de todos os lances de tumulto indicam que Kaká fez por onde ser advertido, mas a expulsão foi um exagero, típico de árbitros que não conseguem fazer cumprir as determinações da Fifa quanto ao antijogo. Afinal, quem estava travando o jogo com faltas seguidas era justamente a equipe da Costa do Marfim, mas o castigo foi aplicado na vítima maior de faltas violentas durante o jogo. Para sorte do Brasil, o placar já estava construído quando perdeu seu camisa 10, mas fica a lição para as próximas jornadas. Quando a confusão se apresentar, garotos bem educados devem se manter longe e deixar a coisa com os malandros passados na casca do alho.
Luís Fabiano, Kaká, Elano e Felipe em destaque
A atuação não foi exuberante, mas a vitória garantiu a classificação antecipada às oitavas, o que não é pouca coisa numa Copa marcada pelo equilíbrio. Os melhores da Seleção aqui no Soccer City nesta noite fria de domingo foram, pela ordem: Luís Fabiano, Elano, Kaká e Felipe Melo. Luís Fabiano pelos dois golaços e a luta incessante de em busca do gol, aproveitando todas as brechas que apareciam. Elano foi discreto, mas muito eficiente, como prega Dunga. Kaká deu sinais de que recuperou a confiança e pela primeira vez tentou os lances individuais, participando da construção de dois gols. Felipe Melo fez uma boa apresentação, sem errar tantos passes e cobrindo muito bem a saída dos meias e laterais pelo lado direito. No outro extremo,
Robinho foi discretíssimo, apesar do esforço. Juan e Lúcio andaram muito hesitantes nas antecipações e falharam na marcação a Drogba no lance do gol marfinense. E os dois laterais, Maicon e Michel Bastos, estiveram abaixo de sua produção habitual.
Farpas desnecessárias e fora de lugar
Para não perder o hábito, Dunga usou a entrevista coletiva para atirar farpas contra os jornalistas, perdendo uma excelente oportunidade de valorizar o trabalho da Seleção, principalmente no segundo tempo. As ironias demonstram que será difícil o técnico assimilar que saber vencer é uma grande virtude. Se o comportamento já é assim hoje, quando o Brasil ainda não ganhou nada, fico a imaginar o que o nosso Capitão do Mato poderá fazer se o hexa for conquistado.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 21)