Espada copeira pode atingir mais pescoços
Virou motivo de gozação a sequência de contusões envolvendo astros da Copa, alguns adversários diretos do Brasil. No começo era apenas mais um jeito de zoar o carrancudo técnico brasileiro, mas aos poucos está adquirindo seriedade pelas vantagens concretas que o escrete passou a ter com as contusões de Drogba (presença ainda incerta na primeira fase do mundial) e Nani, atacante português cortado ontem pelo técnico Carlos Queiroz. E a lista se estende por outros atletas que poderiam criar problemas ao time de Dunga no desdobramento da competição.
Ballack, por exemplo, era o principal articulador da meia-cancha alemã e acabou saindo de cena na fase de preparação. Logo depois, surgiu a contusão de Wayne Rooney, que vai disputar a Copa, mas certamente não em condições ideais. Depois, já na África do Sul, o endiabrado ponta holandês Arjen Robben tem sua estreia ameaçada no torneio. Outra baixa definitiva foi o zagueiro britânico Rio Ferdinand. A bruxa anda tão solta que até o melhor do mundo correu riscos num treino de dois toques da Argentina: Lionel Messi saiu puxando a perna, mas o susto parou por aí.
Que Dunga é predestinado ninguém duvida. Como naquela canção de Frejat, o cara foi ao inferno e voltou. Depois de ser estigmatizado pelo papelão do time de Sebastião Lazaroni em 1990, na Itália, ressuscitou em grande estilo na Copa de 1994, como capitão e referência de raça naquela seleção operária que Parreira montou – e triunfou. A dúvida é: até quando as más notícias rondarão apenas o terreiro da vizinhança? Na Copa passada, 15 jogadores foram cortados, o que demonstra, estatisticamente, que ainda pode dançar mais gente desse safári. E, como se sabe, desta vez há muita gente torcendo (a sério) para que alguém possa ser substituído nessa lista sem muito encanto de 23 anões.
Não é nada, não é nada…
A seleção da Costa do Marfim empatou em 1 a 1 com o Lausanne, da segunda divisão suíça, país onde a primeira divisão já é um atoleiro. No jogo-treino, o técnico sueco Sven Goran Eriksson aproveitou para testar opções para a vaga justamente do ídolo Drogba, visando a estreia contra Portugal no dia 15.
A andorinha dos Bafana-Bafana
Qualquer um percebe que a população não liga muito para a festa boleira, mas os jornais, as emissoras de TV e algumas emissoras de rádio sul-africanas estão trombeteando informações sobre a Copa e seus principais jogadores a todo instante. Se o mundial tiver estádios sem lotação máxima, não será por falta de badalação interna. Talvez mais que os preços salgados dos ingressos, o torcedor comum esteja sentindo falta de ídolos a quem se agarrar na hora de balançar as bandeiras sul-africanas ou buzinar as insuportáveis vuvuzelas.
Futebol, como qualquer esporte, precisa de referências. Na África do Sul, o grande nome – se é que pode se dizer isso – é Steven Pienaar. Ele é, de longe, o jogador mais habilidoso dos Bafana-Bafana, uma espécie de Ronaldinho Gaúcho deles, até na fisionomia e nos cabelos cheios de bossa. Joga no meio-campo do Everton, time do escalão secundário na Inglaterra. Quando a bola chega até ele, o time de Carlos Alberto Parreira ganha mobilidade e algum talento.
Ocorre que isso é pouco para agitar a massa. Até mesmo os jornalistas locais, que demonstram um certo otimismo quanto às chances sul-africanas, levam pouca fé em Pienaar, que tem suas fotos distribuídas por todos os cantos – embora não possa exatamente ser chamado de ídolo popular. Sob o comando de Parreira, ele começou a adquirir status de líder da equipe, função que não era muito clara quando o comandante era Joel Santana. Aliás, sobre Joel, os africanos têm opiniões bem definidas, mas é assunto para os próximos dias.
Marketing da Copa Verde pode funcionar
Fico sabendo que o Sindicato da Arquitetura e da Engenharia lança uma proposta que seria interessante se todos apoiassem de verdade. É possível bancar uma Copa sustentável em 2014? Para responder ao questionamento, a entidade está promovendo, a partir de hoje, o encontro “2010-2014: Quatro anos para uma Copa Verde no Brasil”, em São Paulo. Participam especialistas do Brasil e do exterior. O diretor da empresa britânica Mace, Jon Pettifer, faz palestra sobre regeneração de áreas degradadas em cidades que recebem megaeventos esportivos, com a engenharia e a arquitetura contribuindo para uma vitrine urbana. A Mace assina grandes projetos de arquitetura como o London Eye, o British Museum e o City Hall, e foi responsável pelo gerenciamento do Parque Olímpico de Londres.
Ao ficar sabendo dessa história, além de estranhar que um europeu venha ensinar tais lições contra a devastação, é de surpreender também que não tenham pensado nisso em relação a esta Copa sul-africana, combatida por muitos estudiosos daqui. Aliás, Soccer City, o principal estádio de Johanesburgo, fica em meio a um descampado, à saída da cidade. Os críticos locais, principalmente do jornal The Times, dizem que o faraônico projeto fica em meio ao nada e seu futuro deverá ser branco como o dos velhos elefantes. A não ser que se transforme em estádio de críquete ou rúgbi, que atraem multidões no país.
Discursos contraditórios de Sua Majestade
Como já havia feito na visita a Belém há duas semanas, Pelé voltou a surpreender o mundo. Palpitou que Brasil e Espanha são favoritos ao título e, mudando o discurso pós-convocação, passou a reclamar a presença dos santistas Neymar e Paulo Henrique Ganso no escrete. Às vezes, passa a impressão que o Rei está meio fora de sintonia. Quando todo mundo defendia que Dunga chamasse os moleques da Vila, ele botou o pé no freio, dizendo que ambos precisariam de mais experiência e desfazendo até a comparação com sua própria história na Copa de 1958 – disse que, ao contrário de Neymar, ele já havia sido testado no escrete em jogos importantes antes de virar aquele fenômeno em gramados suecos. Agora, quando o clamor popular cessou, eis que o Atleta do Século reaparece com a história. Há uma questão de ajustes a ser resolvida na cabeça de sua majestade.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quarta-feira, 9)
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