Ingleses e alemães se enfrentam nas oitavas

A vitória da Alemanha por 1 a 0 (gol de Ozil) sobre Gana, no estádio Soccer City, definiu as duas seleções como classificadas para as oitavas no grupo D da Copa. A outra partida, vencida pela Austrália sobre a Sérvia (2 a 1), não influiu no desfecho da chave. Com isso, teremos na próxima etapa o primeiro grande clássico europeu do mundial, entre Alemanha x Inglaterra, dois campeões mundias que têm contas a acertar desde 1966, quando o English Team foi beneficiado por um erro de arbitragem na final. A outra partida das oitavas reunirá EUA x Gana.

Drama britânico, milagre americano

Ingleses e americanos viveram momentos dramáticos nesta quarta-feira na decisão das vagas do grupo C. No caso dos EUA, o suspense durou até o minuto final, depois de mais de 20 chutes a gol e, provavelmente, alguns picos de arritmia cardíaca. Mas, com choro e sufoco, classificaram-se para as oitavas de final da Copa. Durante quase toda a partida desta quarta-feira diante da Argélia em Tshwane/Pretória, os americanos estiveram eliminados. Isso embora tenham tentado de tudo – incluindo aí bola na trave, inúmeras defesas do goleiro adversário Rais M’Bolhi e um interminável abafa na área com cinco atacantes durante boa parte do segundo tempo. Só nos acréscimos da etapa final, quando a partida era uma loucura de ataque de parte a parte, é que o gol saiu para a vitória por 1 a 0. Landon Donovan foi o herói da classificação daquele que, de repente, de eliminado, se tornou o líder do Grupo C com cinco pontos – mesma contagem da Inglaterra, que venceu a Eslovênia por 1 a 0.

Na segunda colocação, também com 5 pontos, classificou-se a Inglaterra de Fabio Capello. Criticada e desacreditada após dois empates nas primeiras rodadas, a equipe entrou sob pressão nesta quarta-feira no duelo contra a Eslovênia. No entanto, com sua atuação mais segura na Copa até agora, a equipe derrotou o rival por 1 a 0 e, de quebra, avançou às oitavas de final com a segunda colocação do Grupo C. Para os eslovenos, porém, a tensão durou um pouco mais. E terminou de maneira decepcionante. Com o gol no final dos EUA sobre a Argélia na outra partida, o menor país classificado para este Mundial viu a vaga escapar entre os dedos. Alheio ao drama do rival, a Inglaterra teve motivos de sobra para comemorar. A seleção teve momentos de grande futebol e viu as mudanças de Capello surtirem efeito. Ele tirou Emile Heskey e Aaron Lennon e colocou em campo Jermain Defoe e James Milner, que foram os protagonistas ao fazerem a jogada do gol, ainda no primeiro tempo.

O engano e a contradição de Kaká

Por Juca Kfouri

Frase de Kaká, em entrevista coletiva, em resposta ao repórter da ESPN-Brasil, André Kfouri, meu filho:

“Há algum tempo os canhões do seu pai  são disparados contra mim. A artilharia dele está voltada contra mim. Eu queria aproveitar a pergunta para responder às críticas que ele vem fazendo, e o que me deixa triste é que o problema dele comigo não é profissional, mas porque ele não aceita minha religião. Porque eu sou uma pessoa que segue Jesus Cristo. Eu o respeito como ateu, e gostaria que ele me respeitasse como [seguidor de] Jesus Cristo, como alguém que professa a fé em Jesus Cristo. Não só a mim, mas a todos os milhões de brasileiros que acreditam em Jesus Cristo”.

Kaká se engana e enfiou Jesus onde Jesus não foi chamado.

Critico sim o merchandising religioso que ele e outros jogadores da Seleção costumam fazer, tentando nos enfiar suas crenças goela abaixo. Um tal exagero que a Fifa tratou de proibir, depois do que houve na comemoração da Copa das Confederações. Mas não abri bateria alguma contra ele, provavelmente mal assessorado, tanto que o considerei o melhor em campo no jogo contra Costa do Marfim.

Apenas noticiei que ele sofre com seu púbis e há quem avalie que isso o levará a encerrar a carreira prematuramente. Ele negou as dores no púbis ao dizer que sente dores como qualquer jogador profissional e que o prazer de jogar pela Seleção o faz superá-las.

Aí caiu na primeira contradição, pois ao atribuir às dores que sentia a sua má atuação na Copa da Alemanha, quatro anos atrás, declarou que não jogaria mais com dores. E hoje (ontem) mesmo, na entrevista coletiva, ao responder sobre se seria operado do púbis depois da Copa respondeu que esta era uma questão delicada e que os médicos divergiam a respeito.

Mas, para quem não tem nada no púbis, como alegou, por que cogitar de tal hipótese? Talvez só Deus saiba.

Como não acredito nele…

Em tempo: em tudo isso, além das inegáveis qualidades técnicas de Kaká, resta-lhe um mérito: diferentemente do que frequentemente fazem tantos, Dunga e Jorginho entre eles, Kaká não generalizou e deu nome aos bois, no caso, ao boi.

É muito melhor assim.

Venda do Baenão: transação gera dúvidas

Apesar da pressa do presidente Amaro Klautau em sacramentar logo a venda do estádio Evandro Almeida, a transação entre o Remo e as construtoras Agra e Leal Moreira continua emperrada. A situação se agravou na última segunda-feira à noite, na reunião do Conselho Deliberativo, quando os conselheiros cobraram explicações da diretoria quanto à natureza do negócio.  Na verdade, a alegação de que a transação dará a tão sonhada independência financeira ao clube, através da quitação dos débitos trabalhistas, além de garantir um estádio novo, em Marituba, ainda geram muitos questionamentos e dúvidas. A princípio, a intenção dos conselheiros e beneméritos era pedir explicações e até forçar a saída de Licínio Carvalho do quadro do Condel devido ao pedido de tombamento do Baenão, feito pelo ex-presidente do Remo – numa estratégia para impedir a negociação. Como Licínio não foi à reunião, os rumos da assembléia foram modificados. As discussões esquentaram durante o discurso de membros da atual diretoria do Conselho Diretor e do Condel, que revelaram uma dívida (até então desconhecida) de R$ 400 mil, referente à gestão de Raimundo Ribeiro. Há, ainda, a pendência com o jogador Magrão, no valor de R$ 340 mil. Esses débitos, segundo a diretoria, põem em risco a posse da área do Carrossel, que pode ir à leilão.

Para piorar, os conselheiros manifestam desconfiança quanto ao valor de R$ 18 milhões destinado à construção da Arena do Leão, considerado insuficiente para erguer um estádio moderno, como apregoa Amaro Klautau. O presidente argumentou que o acordo será firmado em contrato e fiscalizado pelo TRT (Tribunal Regional do Trabalho). Foi aí que o tempo fechou, segundo a reportagem do Bola. Ronaldo Passarinho, grande benemérito, que desconhecia os novos débitos,  acusou AK de omitir verdades quanto ao negócio com as construtoras e manifestou séria preocupação com o futuro do clube. Ainda houve um desentendimento entre os conselheiros Djalma Chaves e Felício Pontes, que é ardoroso defensor da venda do Baenão.

O ponto divergente entre conselheiros e diretoria surgiu com a notícia de que os compradores já teriam definido que gastarão os R4 18 milhões na construção da Arena do Leão e, caso falte dinheiro para completar a obra, o problema será de exclusiva responsabilidade do clube, que arcará com as despesas extras. Essa informação, omitida pelo presidente, deixou o Condel inteiramente dividido em relação ao negócio. Novos desdobramentos devem surgir até sexta-feira, mas é cada vez mais improvável que o negócio saia ainda neste ano, como tanto deseja AK.

Mexicano vai apitar Brasil x Portugal

O experiente árbitro mexicano Benito Archundia será o responsável por apitar o último jogo do Brasil no Grupo G da Copa do Mundo. A Fifa designou o árbitro para o confronto com Portugal, na sexta-feira (25), em Durban. Archundia será auxiliado pelo compatriota Marvin Torrentera e pelo canadense Hector Vergada. O neozelandês Peter O’Leary atuará como quarto árbitro. O mexicano trabalhará pela segunda vez no Mundial da África do Sul.

Conexão África (16)

América do Sul avança, mas é só o começo

Para surpresa de muitos, o combalido futebol sul-americano está dando um passeio aqui na África do Sul. É cedo para fazer rufar os tambores, mas é fato que a campanha dos cinco representantes desmente todas as previsões de uma Copa dominada pelos europeus e com forte participação dos times africanos. No fechamento da primeira fase, a América do Sul está na lideranças de seus respectivos grupos e três seleções, justamente as mais tradicionais, Argentina, Brasil e Uruguai, já se classificaram antecipadamente às oitavas de final. O Chile, que caiu no grupo da favoritíssima Espanha, depende de um empate apenas para seguir em frente.
Além disso, as cinco seleções estão sobrando nos confrontos dentro dos grupos, conservando-se invictas até o momento. Em doze confrontos, são dez vitórias, três empates, o que perfaz um total de 33 pontos ganhos em 36 disputados. Aproveitamento excelente, marca acachapante. Claro que é apenas a primeira fase, convém manter certa prudência, mas essa performance sinaliza para um domínio sul-americano nas fases seguintes.
Diego Maradona, em entrevista, anteontem, avaliou que o segredo das cinco seleções do continente está na forma de disputa das eliminatórias, por pontos corridos. O sistema privilegia o mérito técnico e a regularidade, ao contrário da divisão por grupos que vigora na Europa, criando situações absurdas, como Portugal obrigado a se classificar na repescagem. Concordo com a tese, pois a América do Sul escolhe de fato suas melhores seleções. Maradona chegou a citar o Equador, sexto colocado nas eliminatórias, como um time capaz de fazer boa figura na Copa.
Outra possível explicação para o êxito inicial das “cinco irmãs” pode ser o calendário praticado nesses países, onde os campeonatos (com exceção da Argentina) não se baseiam no modelo europeu, que divide o ano em duas temporadas, exigindo de seus clubes e jogadores esforço total nos meses que antecedem a Copa. Um outro fator muito temido no mundial sul-africano era o climático, mas sua influência até o momento tem sido mínima, com evidentes benefícios para as equipes da América do Sul, ao contrário do que se imaginava antes. Por fim, é preciso considerar a forma física e técnica de alguns dos grandes jogadores do planeta. Os ingleses, muito cotados antes do torneio, tinham em Rooney, Lampard e Gherrard suas grandes esperanças, mas nenhum deles se sobressaiu até aqui. A Alemanha trouxe Podolski, Klose e Ozil, mas também não se consolidou na disputa, apesar da boa estreia. A Itália veio desprovida de grandes nomes e a Holanda, também apontada como favorita, tem vários astros (Sneijder, Van Persie), mas seu principal regente, Robben, ainda não jogou. Há, por fim, a decepção proporcionada pela França, eliminada ontem com apenas um ponto assinalado na disputa.
É grande, portanto, a possibilidade de um renascimento sul-mericano para o mundo do futebol. Afinal, na Copa da Alemanha, em 2006, nenhum de seus representantes conseguiu atingir as semifinais do torneio.

Bafanas inocentes, Parreira aliviado

Quem acompanhou a decisão do grupo A pode perceber a preocupação dos organizadores com a eliminação precoce da África do Sul, que depois se
confirmaria. No primeiro tempo, com 2 a 0 no placar e um francês expulso, ficou a impressão de que a seleção conseguiria o milagre da classificação, contando com a categórica e honrosa colaboração uruguaia, que fazia sua parte frente ao México. Bastou, porém, começar o tempo final para perceber que aos Bafanas falta ainda aquele instinto matador que caracteriza os times vencedores. Desperdiçou boas chances de fazer o terceiro e permitiu que o fraquíssimo esquadrão francês descontasse, o que redobrou o grau de dificuldades matemáticas para obter a vaga. Parreira, muito questionado através da imprensa nos últimos dias, sai pelo menos com um troféu pessoal: ganhou sua primeira partida em Copas treinando outra seleção que não a
brasileira.

Uruguai em vantagem no mata-mata

Os dois primeiros confrontos de mata-mata já definidos incluem duas seleções sul-americanas. A Argentina terá um osso duro de roer contra o México, domingo à tarde. Toda a estratégia ofensiva do time de Maradona será posto à prova pela aguerrida seleção mexicana. No outro duelo, entre Uruguai e Coréia do Sul, vejo amplas vantagens para a Celeste Olímpica, que tem aliado à tradicional garra com alguns momentos de bom futebol, pelos pés de Forlán e Suárez.

Briga de cachorro grande

Circulou com insistência a informação de que a Globo resolveu amaciar discurso em relação a Dunga, temendo a pecha de vilã caso algo de errado aconteça com a Seleção nas fases de mata-mata. Apesar dos evidentes exageros do treinador no treinador com os jornalistas, há prudência no gesto da emissora, pois nas derrotas a torcida costuma carimbar quem esteja pelo caminho. Foi assim com a Nike em 1998 e com Roberto Carlos e seus meiões em 2006. A dúvida é saber para que lado pende, a essa altura, o todo-poderoso presidente da CBF. Já há quem jure que, por trás da truculência verbal de Dunga, está a cabeça grisalha de Ricardo Teixeira. O tempo se encarregará de clarear as coisas nesta batalha que promete ter desdobramentos depois do dia 11 de julho, qualquer que seja o resultado.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quarta-feira, 23)