Não haverá Re-Pa até o fim de fevereiro, talvez nem em março. É provável, também, que não haja mais campeonato com a presença dos grandes clubes do futebol paraense, cujos estádios também devem ser interditados a partir de hoje. Essas são as conseqüências imediatas da situação criada pela interdição do Mangueirão. A decisão do Ministério Público Estadual quebra ao meio uma competição que já estava fragilizada pela ameaça de paralisação, em função do convite ao Cametá ainda na primeira etapa.
Mais que os prejuízos imediatos, os dois mais tradicionais clubes paraenses revelaram sua insignificância política. Em termos institucionais provaram ser bem menores do que faz supor a paixão que o povo exprime nas arquibancadas.
Unidos pela frustração e o infortúnio, remistas e bicolores expuseram ontem toda a sua impotência através do papel tosco desempenhado por seus representantes. Pior: mostraram isso em público, à vista de todos, pateticamente. Bradaram suas mágoas no deserto. O MPE, fiscal inclemente da lei, nem ao menos se abalou com a pressão esboçada pelos dois clubes, que ostentam 200 anos de história e paixão.
Ao lado do presidente da Federação Paraense de Futebol, manda-chuva oficial do Parazinho 2010, os clubes não sabiam sequer a quem apelar. Desarvorados ante o fato consumado, só fizeram espernear, em vão. A gritaria inútil dos cartolas de Remo e Paissandu, nanicos nas arengas de bastidores, ajuda a explicar a penúria atual das duas agremiações. São gigantes enfraquecidos pelo desconhecimento das próprias forças.
Quem chegou mais perto de uma avaliação realista foi, para variar, o distinto público, sempre arguto e pronto a tirar suas próprias conclusões diante de temas nebulosos. Em meio ao amplo debate instaurado nas ruas e nos meios de comunicação, certas perguntas (im)pertinentes surgiram de imediato, permanecendo sem resposta:
Por exemplo, a preocupação com a integridade física do torcedor foi olimpicamente ignorada pelo MPE quando o Mangueirão sediou, nos últimos meses, shows de música gospel, como o do cantor Lázaro, reunindo até 60 mil (40 mil nas arquibancadas) pessoas?
Por que o Re-Pa caça-níquel de 13 de dezembro foi permitido, quando, em tese, as reformas estavam mais incompletas e o estádio mais inseguro?
Onde se enfiou o presidente da FPF, que até três dias atrás vivia apregoando que a competição é sucesso de público e organização?
Que certezas estimularam o funcionário responsável pelas obras no estádio a antecipar, ainda na semana passada, que o jogo não seria realizado?
Por que o governo do Estado (Seel) não aproveitou a longa paralisação – nove meses – do futebol em Belém para cumprir os tais itens do TAC?
Por fim, a interrogação mais candente: a quem, de fato, interessa parar o campeonato?
Mistérios.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quinta-feira, 4)