Por J.R. Rodrigues (Bola)
Em meados dos anos 1990, o repórter setorista Paulo Caxiado, da Rádio Clube do Pará, “imortalizou” um grupo de cerca de 15 apaixonados azulinos que, como a Liga da Justiça, a famosa reunião de super-heróis, entrava em ação para salvar o clube dos maiores apertos. Apelidado de “Cinturão de Aço”, esses remistas, que hoje são menos de dez os mais “efetivos”, tiveram participação decisiva em alguns dos principais momentos de glória do Leão.
Foi assim em 1993, quando serviu de suporte para compor o timaço com estrelas como Alberto, Cacaio e João Santos, cuja aquisição custou nada menos que 3 mil dólares, um pedido bem particular do técnico pernambucano Givanildo Oliveira para conquistar o título estadual daquele ano. O êxito se repetiu em 2000 na Copa João Havelange, quando o Mais Querido, ficou atrás apenas do Paraná e São Caetano para subir para a Primeira Divisão – só faltou força política para o acesso. E com a ajuda do “Cinturão”, o Remo conquistou de forma heroica o seu primeiro e único título nacional, o da Série C em 2005, contra o Novo Hamburgo, dentro do Rio Grande do Sul.
Ocorre que na visão de alguns de seus membros, o histórico destes e outros sucessos parece não ter convencido a atual diretoria da agremiação, que mantém distância e pior: ignorou sugestões que, por exemplo, poderiam ter tirado o São Raimundo do páreo pela Série D da temporada, que acabou sendo conquistada pelo representante de Santarém.
Mas nada parece tirar mais do sério os componentes do Cinturão de Aço que acusações que teriam sido feitas pelo presidente do Remo, Amaro Klautau, segundo as quais eles estariam interessados, sobretudo, em ganhar muito dinheiro no Baenão. “Nunca tivemos essa intenção, pelo contrário, já ajudamos muito e desejamos apenas o bem do clube”, garante o advogado e benemérito Antonio Carlos Pinheiro Teixeira, o Tonhão, 50, que não descarta levar o dirigente à Justiça para provar as acusações que teria feito num alerta indevido direcionado à torcida.
Tonhão diz que o grupo teve destacada participação em outras diretorias, como de Roberto Porto, Raphael Levy e Ubirajara Salgado, mas sem jamais ofuscar a imagem dos referidos presidentes. “Não é nossa intenção ser mais que a autoridade máxima do clube”, assegura ele.
PROJETO
O advogado disse que o Cinturão de Aço foi procurado pelo vice-presidente Orlando Frade para ser ouvido sobre o planejamento para 2010. Frade ficou sabendo de um projeto para recuperar a hegemonia do Estado e porventura formar um time único para inclusive fazer grande campanha na Copa do Brasil, tudo dentro de orçamento pré-estabelecido na ordem de R$ 230 mil a R$ 250 mil.
A ideia era trazer um treinador de fora com bom histórico e executar entre seis e sete criteriosas “importações” de jogadores para fazer uma mescla. Antes, o clube contrataria Armando Bracalli, antigo goleiro azulino e que tem bom trânsito principalmente por São Paulo, o principal mercado da bola do País. Bracalli ocuparia o cargo de supervisor de futebol. Nada disso foi levado em conta.
Tudo por ambições políticas?
Ao fim do primeiro turno do Campeonato Paraense, em que o Remo fez a mais vexatória campanha de todos os tempos, o plano inicial era buscar Givanildo Oliveira, mas o presidente Amaro Klautau teria alegado que não queria fazer altos gastos sem a certeza de que o investimento daria o resultado esperado. Foi sugerido então que, para desestabilizar a Pantera na luta pela única vaga à Quarta Divisão, o negócio era buscar o técnico Válter Lima, que dirigia a equipe mocoronga. Mas, numa entrevista de rádio, Amaro Klautau conseguiu irritar os integrantes do Cinturão com uma declaração considerada das mais infelizes.
“A frase dele foi emblemática, dizendo que ‘não iria prejudicar o futebol do Oeste do Pará’” (com a saída do Valtinho), recordou o empresário Marcelo Matos Carneiro, 41, que é conselheiro azulino. “Pagamos um alto preço”, afirma ele, referindo-se às férias forçadas e tendo que assistir ao título dos alvinegros. Marcelo Carneiro não se conforma e diz que a expressão do presidente carrega nas entrelinhas uma pretensão inequívoca para 2010. “É fala de quem tem conotação política. O que ele disse dá a entender isso, que há outros interesses mais importantes que o Clube do Remo”, dispara Carneiro, revoltado. “Para não dar zero, dou nota 1 para a administração dele”, ironiza.
ABORRECIMENTOS
Numa certa reunião, a cúpula azulina conseguiu aborrecer outra vez ao dizer que, na próxima temporada, o Leão Azul poderia se contentar até em ser o quarto colocado no Parazão para obter uma vaga na Série D, já que Paissandu, São Raimundo e Águia de Marabá estarão na competição. “E a Tuna, o Cametá e os outros times que estão se preparando?”, questiona Carneiro, fazendo alusão a outros fortes candidatos em 2010.
“Faltou ousadia”, enfatizou o empresário e conselheiro César Castilho, 38, outro participante da nova leva do Cinturão, sobre a iniciativa que não houve para o time reagir em 2009. Para ele, Klautau “não tem o perfil” para ocupar o posto máximo do clube.
(Matéria publicada na edição do Bola deste domingo, 15)