Por Cosme Rímoli (R7)
Denílson. 32 anos.
Uma das carreiras mais controversas do futebol brasileiro. Ainda é o jogador mais caro a deixar o país. Foi vendido em 1998 por 32 milhões de dólares. Do São Paulo para o Bétis.
Robinho saiu por 30 milhões de dólares, do Santos para o Real Madrid. O São Paulo vendeu Kaká por 8 milhões de dólares ao Milan. Ronaldinho Gaúcho foi por 5 milhões de euros do Grêmio para o Paris Saint Germain. Keirrison foi por 16 milhões de euros do Palmeiras para o Barcelona.
Denílson ainda é o mais valorizado. “O São Paulo reformou o Morumbi e ainda terminou dois Centros de Treinamento com a minha venda”, brinca Denilson, que depois foi proibido de treinar fisicamente no clube que o revelou e, para quem deu tanto lucro. Em corajosa entrevista exclusiva, ele revela que não ficou com um centavo da maior transação de um jogador que saiu do Brasil. Diz ter sido enganado por seu empresário Luiz Vianna.
E antecipa que está muito perto de voltar a trabalhar com o treinador que mais o conhece na vida: Muricy Ramalho no Palmeiras.
Denílson é verdade que você não ficou com nada da sua venda milionária para o Bétis? Como pode ser isso? Foi a maior da história do futebol brasileiro…
Eu vou ser bem sincero, Cosme. Não fiquei porque confiei plenamente no meu empresário da época, o Luís Vianna. Ele tinha plenos poderes para administrar as minhas coisas. E, simplesmente, ele pegou tudo para ele. Tudo. Eu confiei cegamente nele e o dinheiro que era meu da transação entre São Paulo e Bétis sumiu. Legalmente ele estava amparado porque eu assinei tudo o que ele pediu para assinar. Quando percebi o que tinha acontecido, eu não acreditei. Fiquei chocado. E só me perguntava: por quê? Por quê? Ele era o meu maior amigo, meu protetor. Mas a tentação foi maior. Meus pais me avisavam para ter cuidado com ele. Olhar de pai e mãe não se engana. Eu o defendi até o fim. E foi a grande decepção que tive na vida. Não fiquei com nada desta minha venda para o Bétis. Nada.
Mas sua vida financeira está estabilizada…
Sim. Tirando o Flamengo, sempre recebi em dia nos times onde joguei (ri). Estou tranquilo, mas tenho de trabalhar. Mas o que deveria ter recebido por direito do Bétis, não recebi.
Denílson, muita gente diz que a sua carreira poderia ter sido muito melhor se você não fosse tão individualista, que jogava mais para você do que para os times. Você concorda?
Não, de jeito nenhum. Foi assim, individualista, pegando a bola e partindo para cima dos zagueiros que fiz a minha carreira. O que acontece é muita inveja. Nem sei se inveja é a palavra. Mas sempre teve muita gente que não se conformava com a minha habilidade, meu poder de dribles. Foi assim que fui para duas Copas do Mundo. Fui campeão em uma e vice em outra. Fiz exatamente o que os treinadores me pediram. Podem falar que eu era reserva. Mas se me chamassem para cinco como reserva, eu iria feliz da vida. Minha carreira é vitoriosa, sim.

Você passou pelo Dallas dos Estados Unidos e pelo Itumbiara, clubes sem representatividade. Mas o máximo foi você ir até o Vietnã e jogar 45 minutos. Que coisa de louco foi essa?
Rapaz, foi ótimo você ter me perguntado isso. Parece a história da convulsão do Ronaldinho. Cada um tem uma versão diferente. Eu vou explicar o que aconteceu. Eu estava mal fisicamente quando recebi essa proposta de jogar no Xi Mang, do Vietnã. Fui sincero e falei que só iria se o clube tivesse fisioterapia, sala de musculação, tudo o que eu precisava para me preparar para aguentar jogar. Mas quando cheguei lá, não tinha nada, nada. Tudo era muito amador. Falei para o presidente do clube que iria embora e devolveria os 50% que havia recebido antecipadamente. Expliquei tudo para ele. Só que o presidente disse não. Ele exigiu que eu jogasse.
Como assim?
Ele já havia dado a palavra dele que havia me contratado. A imprensa do mundo inteiro já tinha noticiado que eu era jogador do Xi Mang. Disse que seria um vexame grande demais para ele se eu não atuasse. Eu percebi mesmo que a coisa saiu do controle. Ficou uma loucura no clube. Então, resolvi jogar. Sou sincero, joguei como um morto. Não conseguia andar. Vi que estava muito mal fisicamente. Pior que imaginava. Mas mesmo assim, fiz um gol, dei passe para outro e sofri a falta que acabou virando o terceiro. Tudo isso em apenas 45 minutos. O time que estava mal no campeonato venceu por 3 a 2. Saí consagrado do campo. Mas eu sabia que não tinha condições de jogar. Precisava operar. Procurei o presidente para devolver o dinheiro. Ele falou que não precisava, que eu tinha sido sincero com ele. E voltei para o Brasil. Tudo foi uma grande loucura.
E agora como você está?
Eu operei o meu joelho e estou liberado há uma semana para fazer todos os exercícios físicos. Vou treinar forte e no começo do ano estarei pronto para voltar a jogar. Estou fazendo o meu trabalho de recuperação no Palmeiras. Está sendo ótimo. Todos me tratam com muito carinho, dignidade. Eu vou confessar: gostaria demais de jogar no Palmeiras em 2010. O Muricy vem sempre me pergunta como estou. Quero muito que dê certo.
Mas está tudo apalavrado?
Não. Não está, não. É só um desejo meu. Não quero atrapalhar o Muricy e o Palmeiras. O time está na fase decisiva do Brasileiro. Estou torcendo muito que o time seja campeão. E depois, se houver a possibilidade, gostaria de defender o Palmeiras. Me identifiquei muito com o clube. E adoraria trabalhar com o treinador que mais me conhece na vida. O Muricy me conhece bem mais do que o Vanderlei Luxemburgo. O Muricy me lançou no São Paulo quando dirigiu o Expressinho.
Você tem mágoa do São Paulo?
De jeito nenhum. Tenho o maior respeito e carinho pelo clube. O que aconteceu foi um problema com um diretor. Quando eu voltei dos Estados Unidos estava precisando treinar fisicamente. E fui para o São Paulo normalmente. Acreditava que era a minha casa, que ninguém me proibiria de treinar. Sempre fui bem tratado demais pelo presidente Juvenal Juvêncio. Só que fui ser humilde e não procurei o presidente. Fui falar com o diretor, um tal de João Paulo (Jesus Lopes). Ele fechou as portas do São Paulo para mim. E ainda ele e o Marco Aurélio Cunha foram dizer na imprensa que não me deixaram treinar porque eu levaria os jogadores para a balada. Uma enorme bobagem.
Denílson: muitas pessoas disseram várias coisas. A mais comum é que você está implorando para jogar. Já ouviu não da Portuguesa, Guarani, Ponte Preta…
Sensacional você me perguntar isso. Os presidentes dos clubes precisam saber que existem empresários me oferecendo por aí. Mas quem responde pela minha carreira só sou eu e meu irmão. Não me ofereci para a Portuguesa ou para nenhum clube. Já me colocaram no Sertãozinho, Rio Branco e vários outros clubes do Interior de São Paulo. A única proposta concreta, verdadeira, eu vou te falar. O Juninho do Ituano me ligou e disse que, se eu não arrumasse clube melhor, as portas do Ituano estariam abertas para mim. Existem outras possibilidades. Mas se elas não se concretizarem, jogarei com o maior prazer no Ituano. E lá posso mostrar que ainda tenho muito futebol. Terei pela frente no mínimo mais três anos de carreira em alto nível. Quando eu sentir que não estou bem, eu serei o primeiro a querer parar. Não vou estragar a minha carreira que é tão vitoriosa.