Antes de qualquer entidade brasileira se manifestar, a Fifa publicou na quinta-feira (11) em seu Twitter oficial uma mensagem sobre a monumental trajetória da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1970, no México. Publicou também parte de um documentário que será divulgado nos próximos dias – precisamente no dia 21 de junho, quando a vitória sobre a Itália, que garantiu o tricampeonato mundial, completa 50 anos.
A produção ganhou o título de “When the World Watched Brazil 1970” (“Quando o Mundo Assistiu o Brasil de 1970”) e traz depoimentos de jogadores que tornaram possível a conquista, como Jairzinho e Rivellino. A Copa de 70 foi a primeira da história a ser televisionada no sistema de cores, fato vinculado à seleção em um dos depoimentos: “Enviamos uma mensagem através das cores da nossa camisa”.
Muitos jogos daquele mundial têm sido reprisados durante a quarentena, o que permite às novas gerações entenderem um pouco do que ocorreu naquele junho iluminado. Eu era moleque, Baião não tinha TV e acompanhei as partidas com o ouvido grudado no rádio.
Era no rádio que eu ouvia futebol e acompanhava as ondas do rock. Era ano de “Let It Be”, a última bolacha do pacote beatle. Ainda não havia certeza, mas era visível que a banda estava se desintegrando. Os Stones tinham lançado um ano antes a clássica “Gimme Shelter”, mas ninguém parecia preparado para o fim do Fab Four. Talvez por um mecanismo de justa compensação, o mundo ganhou o timaço brasileiro.
O rádio permite a rica construção de imagens mentais que a TV não consegue dar. Escutava os jogos imaginando quadro a quadro as manobras endiabradas de Jairzinho pelo corredor direito, as jogadas de aproximação de Rivellino e os passes milimétricos de Gerson.
A curiosidade pela figura do Rei Pelé era fartamente atendida pela narrativa poética de Fiori Gigliotti, cuja narração parecia sempre a um passo de um libreto de ópera. Começava em tom apoteótico com aquele “abrem-se as cortinas do espetáculo…”. Se o jogo ensaiava complicar, ele mandava: “o tempo passa, torcida brasileira…”, espalhando angústia.
Por sorte, aquele time era soberbo e imbatível, não permitia nem sustos no torcedor. Logo nos primeiros três jogos, contra Tchecoslováquia, Romênia e Inglaterra, a empolgação tomou conta de todo mundo. Não havia dúvida de que o tri era uma meta possível. Havia certa apreensão apenas em relação aos três fortes europeus da época. Inglaterra, Alemanha e Itália tinham organização e muitos craques.
Quando a Seleção passou pela Inglaterra no jogo que foi a final antecipada da Copa, o jeito seguro como o time utilizou estratégia e método para superar um adversário altamente qualificado deixou claro que estávamos a caminho da grande conquista.
O mais interessante é que o Brasil, sem abrir da carpintaria individual de suas estrelas, aplicava-se às partidas com surpreendente inteligência tática, inversão de posicionamentos e preenchimento de espaços, recursos que fizeram imensa falta quatro anos na Copa do Mundo da Inglaterra.
Em entrevista recente, Gerson, eleito o 2º melhor do mundial, falou que qualquer dos jogadores de meio e ataque podiam entrar a qualquer momento, sem prejuízo para o conjunto. E falou com autoridade, pois ficou fora das partidas contra Romênia e Inglaterra, por contusão, e foi substituído com extremo apuro por Paulo César Caju.
Às vezes, sinto falta de uma análise mais apurada da campanha por parte de quem viveu tudo tão de perto, lá dentro do campo. Gerson, Jairzinho e Rivellino são os mais ouvidos em matérias que reconstituem aquela caminhada, sem acrescentar grandes novidades sobre o que ocorreu nos campos do México, mas segue faltando a fundamental visão de Pelé.
Quando o Rei se dispôs a falar, disse muito pouco. Jogadores derrotados na Copa, como Franz Beckenbauer, disseram até mais sobre a grandeza daquela seleção. “O Brasil da Copa de 1970 foi a melhor coisa que existiu, na minha opinião. Carlos Alberto, Tostão, Jairzinho. Era um sonho ver aquele time jogando. Eu cresci em uma geração antiga. Meu herói era Pelé”, afirmou o Kaiser. Quem somos nós para discordar dele?
Bola na Torre
Lino Machado apresenta o programa, a partir das 21h15, na RBATV. Saulo Zaire e Mariana Malato compõem a bancada. Participações, via home office, de Guerreiro, Tommaso e deste escriba de Baião. A expectativa pela retomada do Campeonato Estadual é a principal pauta da noite.
Cinco substituições têm potencial para repaginar o futebol
Os técnicos da dupla Re-Pa, Mazola Junior e Hélio dos Anjos, falam positivamente sobre a mudança oficializada pela Fifa para o futebol pós-pandemia: a permissão de cinco substituições por partida. É natural que pensem assim. Bons profissionais lidam bem com a possibilidade de alterar a cara de um jogo a partir da entrada de atletas descansados em campo.
Esta é a mais importante mudança aprovada pela Fifa desde a modificação na regra do impedimento, favorecendo os atacantes, juntamente com a proibição de recuos com os pés para os goleiros.
É claro que as mexidas precisam ser bem utilizadas, mas é inegável que irá favorecer elencos qualificados. Além disso, dependerá muito do ritmo de cada jogo e da capacidade de observação dos treinadores. Mudanças ruins podem ter efeito contrário ao pretendido, com o problema adicional de gerar uma previsível tempestade de críticas.
Jogos Memoráveis: a saga do maior clássico da Amazônia
Com apresentação de Giuseppe Tommaso e participação de Guilherme Guerreiro, o programa vai ar às 15h deste domingo na Rádio Clube do Pará, fazendo uma viagem pelos 106 anos de história do Re-Pa. Reconstituição de jogos icônicos e relatos de personagens do clássico e de comentaristas esportivos compõem o programa especial.
(Coluna publicada na edição do Bola deste domingo, 14)