As primeiras vítimas do VAR

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POR GERSON NOGUEIRA

Na esteira de um dos piores fins de semana para a arbitragem brasileira, o ex-árbitro e analista Salvio Spíndola informou ontem à tarde que a CBF já decidiu fazer três mudanças no quadro Fifa de apitadores para 2020. Segundo ele, o paraense Dewson Fernando Freitas está na lista, ao lado de Wagner Rewai e Ricardo Marques. São as primeiras cabeças a rolar depois da adoção do VAR como instrumento de suporte à arbitragem.

É impossível não associar a troca de nomes à turbulenta convivência da maioria dos árbitros brasileiros com a ferramenta do VAR. Não significa também que apenas o trio citado tenha incorrido em falhas na temporada. Alguns  outros poderiam ser substituídos pelas mesmas razões.

Dewson, pivô de polêmica no Re-Pa por não marcar pênalti cometido pelo lateral Bruno Collaço (PSC), já tinha seu nome especulado há meses. O erro no clássico paraense vem reforçar o baixo rendimento do apitador na Série A, com direito a muitas críticas por parte de técnicos e jogadores.

Contra Dewson acaba pesando também a questão regional. Como árbitro oriundo da Região Norte, ele sempre desafiou a aceitação dos clubes do Sul e Sudeste. Luxemburgo, certa vez, chegou a questionar se Dewson teria segurança emocional para apitar jogo no Maracanã lotado. Jamais faria tal insinuação em relação a árbitros de São Paulo, Rio ou Minas Gerais.

Nos primeiros anos como árbitro Fifa, Dewson apareceu bem, atuando com destaque em competições da Conmebol. Em 2016, foi um dos árbitros mais elogiados do país, com atuações impecáveis. Nos últimos dois anos, porém, o desempenho técnico caiu muito.

O quadro se agravou com a adoção do VAR no Brasileiro. É evidente a dificuldade que grande parte dos árbitros tem em aplicar as regras com convicção, desde que passaram a contar com o reforço da tecnologia.

Enquanto na Inglaterra os árbitros priorizam a decisão de campo, deixando a consulta ao árbitro de vídeo para situações realmente duvidosas, os apitadores da CBF tornaram-se dependentes da máquina. Levam quase todas as questões para análise de vídeo, evitando comprometer-se e interrompendo jogos com irritante frequência.

Dewson, particularmente, tem sido dos mais assíduos consultores do oráculo eletrônico. O pior é que decisões contrariam a lógica, mesmo com o uso do VAR, colocando em dúvida a qualidade e o preparo dos árbitros.

A má aplicação da regra para lances de toque de mão no Re-Pa deixa claro, no caso de Dewson, que há também desatualização ou falta de informação sobre determinações da Fifa em vigor há mais de duas temporadas.

Imagens do lance mostram que Dewson, antes de fazer com os braços o gesto de “não foi pênalti” diante da reclamação dos remistas, olha rapidamente para o auxiliar como se esperasse uma manifestação deste. O lance, ocorrido dentro da área, era de óbvia responsabilidade do árbitro central, que estava a poucos metros da jogada.

Esse detalhe sutil reforça a ideia de dependência dos árbitros em relação ao VAR, que virou uma espécie de muleta. O futebol convive hoje com duas formas de arbitragem: a que conta com o apoio do olhar eletrônico e a que depende exclusivamente do velho e bom olhar humano.

Os desafios impostos pelo VAR, que é um aparato legítimo e positivo, ameaçam turvar os rumos da arbitragem no Brasil caso os árbitros não sejam reeducados para a função de apitar. Reciclar é o caminho.

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Sob o reinado da balbúrdia e das paixões afloradas

No plano nacional, a confusão se amplia ainda mais, à medida que se consolida a impressão de que o VAR passou a ter bandeira, torcida e estádio, como disse o técnico Mano Menezes, do Palmeiras, reclamando do gol do meia Bruno Henrique anulado na partida com o Internacional.

O árbitro Bráulio da Silva Machado invalidou a jogada após ser acionado pelo VAR e rever as imagens no monitor. Entendeu que o toque de mão (involuntário) do jogador Willian anulava todo o lance.

Seguiu o procedimento indicado pela Fifa. Pela nova regra, em lances de gol, qualquer toque de mão do ataque, voluntário ou não, anula a jogada. O problema é que Bráulio havia dado vantagem a Willian, o que, na prática, invalida o toque de mão ocorrido em seguida.

Os comentaristas de arbitragem – encabeçados pelo notório Sandro Meira Ricci – foram unânimes em defender a bizarrice, deixando de lado o bom senso, que deve pautar qualquer tipo de julgamento.

O tiroteio verbal em torno do lance ganhou temperos de rivalidade e até suspeitas de favorecimento indireto ao Flamengo, com lembranças de outras decisões do VAR que de fato beneficiaram o time de Jorge Jesus, mas a questão é central aqui é a necessidade de padronização dos critérios da arbitragem. Lances parecidos não podem gerar interpretações diferentes a partir do entendimento de cada apitador.

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A esquisita distribuição de cabines no Mangueirão

O DIÁRIO e o DOL, que cobrem diariamente o futebol paraense e se fazem presentes aos jogos realizados no estádio Jornalista Edgar Proença, estão impedidos de utilizar uma das 22 cabines disponibilizadas para imprensa, visitantes e autoridades. Até a rádio digital da FPF, que existe há pouco mais de um ano, ocupa um espaço no Mangueirão, graças à boa vontade dos gestores do estádio.

Enquanto as cabines são ocupadas por veículos sem registro de atuação profissional, repórteres, produtores e fotógrafos de Bola e DOL são direcionados para arquibancadas e uma exígua área próxima às cadeiras em meio à torcida.

O absurdo critério de distribuição das cabines precisa ser devidamente explicado pela direção da Seel. Estamos aguardando.

(Coluna publicada no Bola desta terça-feira, 01)

7 comentários em “As primeiras vítimas do VAR

  1. O fanfarrão Luxemburgo não estava errado, ou menosprezando a origem nortista, quando vaticinou que Dewson não teria equilíbrio emocional pata atuar no Maracanã. Não tem, nem para apitar no Mangueirão. A falha gritante da não marcação do penalty contra o Paysandú, no último domingo – talvez acreditando que o jogo não estivesse sendo televisionado, não é a primeira vez que mostra, não somente falta de equilíbrio, mas despreparo técnico. Lembro que em dois RExPA, em 2016 ou 2017, seu desempenho foi um fiasco e também questionado. Que volte às origens, se recicle, ou mude de profissão.

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    1. O lance na área do Remo só teria sido marcado se houvesse VAR. Foi muito rápido, ninguém se deu conta no momento em que ocorreu e Dewson seria poupado de críticas. O lance do Collaço, porém, foi a poucos metros dele. Marcação completamente equivocada.

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  2. Verdade Acácio. Penalidade clara a favor do Papão não marcada pela arbitragem. Se fosse na série A com o uso do VAR tal infração teria sido anotada pela arbitragem.

    Após a bola bater no travessão no chute do Vinicius Leite, precisamente no rebote, o jogador remista empurra com o braço Wellington Reis pensando que este fosse alcançar a bola.

    Ninguém reclamou na hora porque o lance com bola no travessão causou um alvoroço e todos estavam com a atenção voltada para o Vinicius Leite q ainda tentou um segundo chute sendo travado pelo adversário e o jogador Wellington Reis não reclamou talvez por acreditar que o árbitro não iria marcar nada num lance com muitos detalhes pra detectar ao mesmo tempo.

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  3. Em resumo, Dewson errou para os dois lados ao não marcar um pênalti para cada equipe.

    O fato do lance na área do remo ter sido rápido não fez deixar de existir a penalidade em favor do Paysandu. O apoio do auxiliar nessas horas é decisivo para marcação de penalidades.

    Quanto ao toque no braço lembro que no clássico de 11 de março do ano passado o jogador bicolor Fábio Matos chutou e a bola bateu no braço do jogador do remo que se encontrava muito mais aberto do que o do Rodrigo Colaço e o árbitro não marcou a penalidade em favor do Paysandu.

    Quanto ao Var, entendo que o problema não está somente na dependência do equipamento pelos árbitros brasileiros e sim nas próprias regras referentes à penalidade máxima em razão do contato da bola com o braço ou mão do jogador.

    Com efeito, a falta de simplificação da regra, que prevê tal infração e as hipóteses de exceção que afastam a penalidade máxima, conduz as mais variadas interpretações.

    Por isso que, algumas vezes, a própria equipe de apoio e monitoramento do VAR demora na análise do lance, justamente em razão da dificuldade de se interpretar regras revestidas de inúmeros detalhes.

    Esse tipo de situação poderia ser resolvido se a FIFA, de uma vez por todas, colocasse em vigor a antiga regra da “bola na mão ou mão na bola” revogando a atual norma.

    Portanto, batendo a bola no braço ou mão do jogador não seria pênalti e, se o jogador tocasse intencionalmente com o braço ou mão na bola, aí sim estaria caracterizada a infração.

    Assim, a equipe de apoio do VAR e a própria arbitragem decidiriam rapidamente o lance e a partida não seria paralisada de forma enfadonha por mais de dois minutos.

    Do jeito que está a atual regra, vai chegar o dia em que o jogador vai ter que usar uma espécie de cinto para amarrar os dois braços próximo ao corpo quando estiver dentro da área de sua equipe.

    Não devemos descartar a hipótese de que um jogador pode intencionalmente chutar a bola pra pegar no braço do adversário e ser premiado com o pênalti a seu favor.

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