Bahia mancha camisa de preto em protesto contra poluição nas praias do Nordeste

O Esporte Clube Bahia entrará em campo com camisas ‘manchadas de óleo’ no jogo contra o Ceará, pelo Campeonato Brasileiro, nesta segunda-feira (21). A manifestação de protesto foi muito elogiada pela torcida e viralizou nas redes sociais. Desde agosto, diversas manchas de petróleo cru têm aparecido em praias do Nordeste. Segundo o último balanço do Ibama, divulgado na sexta-feira, 194 localidades já foram atingidas.

MANIFESTO CONTRA O DESASTRE AMBIENTAL

O problema é seu. O problema é nosso.

Quem derramou esse óleo? Quem será punido por tamanha irresponsabilidade? Será que esse assunto vai ficar esquecido?

O Bahia é você, somos nós, cada ser humano.

É a forma como representamos o amor, o apego, o chamego, o sagrado, a justiça. O Bahia é a união de um povo que vibra na mesma direção, que respira o mesmo ar e que depende da mesma natureza para existir, para sobreviver.

Jogaremos nesta segunda-feira (21), contra o Ceará, em Pituaçu, com a camisa do Esquadrão manchada de óleo.

Um convite à reflexão: o que faz um ser humano atacar e destruir espaços sagrados? O lucro a qualquer custo pode ser capaz de destruir a ética e as leis que regem e viabilizam a humanidade?

A barbárie deve ser tratada como tal, não como algo natural.

Povo de fibra salva praias abandonadas pelo governo de vagabundos

Por Kiko Nogueira, no DCM

Correram o mundo as imagens dos voluntários que foram para as praias nordestinas retirar o óleo derramado por barris com a logomarca da Shell. Gente forte e de caráter que arregaçou as mangas e foi à luta pela sobrevivência.

Não vai sair de graça para um governo ecocida, corrupto, incompetente e leniente, diretamente responsável por uma tragédia ambiental. Como disse o Delegado Waldir, Bolsonaro é um “vagabundo”. A definição se estende para quem se pendura no chefe.

As manchas de óleo que começaram a aparecer em setembro estão em nove estados, destruindo flora e fauna e comprometendo o sustento de 140 mil profissionais da pesca.

O ministro Ricardo Salles passeia de helicóptero para lá e para cá, fazendo fotos e vídeos e simulando trabalho e conhecimento do ofício. Em abril, Bolsonaro extinguiu dois comitês ligados ao plano de ação contra vazamentos desse gênero.

A ideia é reduzir proteção e estimular exploração irresponsável, como na Amazônia. Assim como ocorreu na floresta, essa gente só passou a se mexer após o escândalo internacional.

Enquanto um bando de políticos come, bebe e se espanca nas redes sociais, a população se armou de ancinhos, baldes, redes, barcos e o que mais estivesse à mão. As imagens de tartarugas mortas, crianças nadando em manchas e paraísos conspurcados é fatal também para o turismo.

Os moradores de Tamandaré, em Pernambuco, limparam a areia e a água na raça. Salvador ganhou o grupo Guardiões do Litoral, que começou com cinco amigos surfistas e hoje inclui centenas de pessoas corajosas e abnegadas em mutirões.

Eis os verdadeiros voluntários da pátria, não aquela escumalha que se elegeu arrotando amor pelo Brasil e hoje se engalfinha por dinheiro no PSL, se xingando para continuar estuprando os brasileiros.

Mais uma vez os nordestinos salvam a nação. Os vídeos que viralizaram são de um resgate moral. A hora dessa malta está chegando e ela será varrida como a sujeira que invadiu nossa costa — com força, inteligência, indignação e vontade.

A insustentável leveza da paixão

POR GERSON NOGUEIRA

O debate em torno dos torcedores mistos é mais ou menos antigo, mas ganhou força com a ampliação do fosso entre os clubes da elite nacional e os menos afortunados, que brigam pela sobrevivência nas divisões inferiores. No meio da semana, o Fortaleza desfechou campanha de combate aos “mistos” – aqueles que torcem por equipes de fora de sua região, além, é claro, do clube de casa.

A briga que antes ficava restrita às arquibancadas se tornou política oficial do Fortaleza, que se deu ao trabalho de preparar uma campanha de marketing, usando como cenário o restaurante temático do clube: retirou do cardápio a pizza mista, num recado direto aos torcedores de coração mais generoso.

Torcedores do Flamengo, adversário do Fortaleza na rodada do meio de semana, reagiram criticando a iniciativa do tricolor cearense, enxergando preconceito na campanha. Essa argumentação pontuou o posicionamento de quase todos os canais esportivos do Sudeste, menosprezando as históricas perdas econômicas geradas pela supremacia dos grandes clubes.

Aqui em Belém já tivemos oposição mais cerrada em relação aos mistos, mas o sentimento hostil acabou por atrapalhar a conscientização. Abordados com aspereza e truculência à porta dos estádios, os torcedores que usam camisas de clubes de fora (e até internacionais) acabam repudiando a militância agressiva dos que defendem a torcida puro-sangue.

A luta perde força por não convencer. Só faz acentuar diferenças e afastar público dos estádios. Seria mais prático e inteligente atrair o torcedor misto explicando o quanto ele pode colaborar para o crescimento do clube caseiro, normalmente mais necessitado de contribuições do que os congêneres tradicionais de outros Estados.

Acolher para convencer, jamais hostilizar. Devia ser esse o mote de qualquer campanha de valorização dos clubes junto ao torcedor. Impossível controlar a paixão e administrar a preferência de cada um, mas é perfeitamente viável usar argumentos para que o misto priorize o time da casa, normalmente com quem há um vínculo mais forte.  

Remo e PSC chegaram a encampar ações de convocação da torcida para que usasse a camisa do clube nos estádios. Tem funcionado. Muito mais gente vai hoje aos jogos trajando o uniforme do time de coração. É uma forma inteligente de consolidar a fidelização e diminuir a “mistagem”.

A hegemonia das mídias esportivas originárias de Rio e S. Paulo influiu decisivamente na formação das torcidas regionais. Nos anos 50, 60 e 70, as rádios cariocas bombardeavam o cidadão nortista com informes sobre os timaços da época e seus craques maravilhosos – Garrincha, Didi, Vavá, Dida, Nilton Santos, Roberto Dinamite, Zico, Jairzinho.

Ouvia em Baião, ao lado de meu pai José, jornadas esportivas e boletins diários de emissoras do Rio, como Continental, Tupi, Globo, Mundial. Sabia tanto sobre os treinos de Botafogo, Vasco e Flamengo quanto do que rolava na preparação da dupla Re-Pa. Como eu, milhares de outros torcedores foram doutrinados por essa disseminação de conteúdo.

Com a TV, as transmissões seletivas de jogos ampliaram o predomínio sudestino, num processo quase imperialista. Flamengo e Corinthians passaram a dominar a cena nacional, agigantando-se em relação aos demais clubes e sufocando paixões clubísticas nativas.

Sob esse ponto de vista, chega a ser heroica a resistência de torcidas de clubes tradicionais o Norte e Nordeste. Bahia e Vitória, Ceará e Fortaleza, Santa Cruz x Sport e Remo e PSC representam bolsões de luta sustentados pela rivalidade centenária.

Os clubes podem e devem encampar o esforço de suas torcidas. O exemplo do Fortaleza vale para os demais, pois representa a luta pela sobrevivência. Sem visibilidade, como ocorreu com a dupla Re-Pa na Série C deste ano, aumenta o desafio para captar patrocínios, ganhar campeonatos e – em última análise – aumentar o tamanho de sua própria torcida.

Continuo, porém, inteiramente avesso à ideia radical de proibir o acesso de torcedores com camisas e acessórios de outros clubes, a título de valorização do time mandante. Tudo que abre brecha para sentimentos de xenofobia gera riscos de confrontação. Há meios civilizados de fidelizar torcidas sem desrespeitar a liberdade de torcer por outros clubes.

Bola na Torre

Guilherme Guerreiro apresenta o programa, a partir das 21h, na RBATV. Presenças de Giuseppe Tommaso e deste escriba de Baião.

Em pauta, a Segundinha do Parazão e a preparação do Papão para a final da Copa Verde.

Tapetão: refúgio para todos os dissabores

O Fortaleza surpreendeu com um recurso protocolado na sexta-feira (18) junto ao STJD. Pede a impugnação da partida com o Flamengo, realizada na última quarta-feira e vencida pelo time do Rio por 2 a 1. O clube cearense entende que foi prejudicado pela arbitragem no duelo.

Dois argumentos sustentam a apelação dos cearenses. Primeiro, há o lance que gerou o primeiro gol do Flamengo. Não teria havido o escanteio que originou o toque da bola na mão do zagueiro Quintero. Na cobrança do pênalti, Gabigol marcou.

A segunda queixa é de que duas bolas estavam em campo na jogada que levou ao gol de Reinier, aos 43 minutos do 2º tempo, virando o marcador. Segundo os advogados do clube, o lance é proibido pelas regras da Fifa (e é mesmo), o que deve forçar a anulação do jogo.

Olha, se toda situação de duas bolas em campo motivar impugnação de jogo, é melhor extinguir o futebol. Tribunais existem para reparar injustiças, mas apelações rasas deveriam ser punidas com multas pesadas o suficiente para botar freio nesse tipo de expediente.

(Coluna publicada no Bola deste domingo, 20)