O sociólogo Jessé Souza comentou nas redes sociais a confissão do WhatsApp de que a eleição brasileira de 2018 teve uso de envios massivos de mensagens, com sistemas automatizados contratados de empresas. A campanha de Jair Bolsonaro beneficiou-se com o disparo de fake news.
“A ‘onda’, dos últimos dias da eleição de Bolsonaro, foi provocada por impulsos ilegais com mentiras no WhatsApp de pessoas vulneráveis. O que não foi fraude na eleição deste boçal?”, indagou.
Jessé Souza exortou uma reação e apontou o levante contra a política neoliberal no Equador como exemplo a ser seguido. “Quando iremos, finalmente, nos livrar deste usurpador? Que o Equador nos sirva de exemplo!”, disse.
A direção do Inter não garantiu a permanência de Odair Hellmann no comando até o jogo do próximo domingo, contra o Santos. Depois da derrota para o CSA por 1 a 0, na noite de hoje (9), o técnico está ameaçado de demissão. “Não posso garantir (a permanência dele). Neste momento é o treinador do Inter, mas não posso garantir nada em relação a ninguém. A avaliação é constante, precisamos melhorar. Fizemos uma boa Libertadores, chegamos à final da Copa do Brasil, e neste momento as coisas não estão acontecendo. Estamos sob constante avaliação”, disse o vice de futebol Roberto Melo.
A definição ficou postergada para após uma reunião com o presidente Marcelo Medeiros, amanhã, em Porto Alegre. Do seu lado, o treinador afirma entender que a pressão que vem sofrendo no Beira-Rio é normal, mas não comentou a posição da diretoria.
“Ele é treinador do Inter neste momento. As pessoas conversam. Não só em relação a isso, mas grupo, outras questões, sempre conversamos. Sempre nos reunimos após os jogos e amanhã não será diferente”, completou. “A situação dele é a situação de todo treinador. Todos nós, minha, do Rodrigo (Caetano, executivo), dos atletas, uma constante avaliação. E continuaremos assim, sob constante avaliação”, acrescentou.
Em uma coletiva que não escondeu as reclamações dos mais diversos assuntos, Tite disparou contra a cultura do futebol brasileiro e o calendário proposto pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Mais cedo, ele já havia exposto toda a sua insatisfação com a Pitch, empresa que organizou os amistosos contra Senegal (dia 10) e Nigéria (dia 13), ambos em Cingapura. O treinador da seleção brasileira foi bastante criticado por convocar Gabriel e Rodrigo Caio, do Flamengo, Matheus Henrique e Everton, do Grêmio, e Weverton, do Palmeiras, em meio à disputa do Brasileirão e na preparação para a semifinal da Libertadores.
“Quando a seleção joga não tinha que ter jogo de time. Continuo convicto. Isso para mim não vai mudar ao longo do tempo. Eu faço as convocações e faço com bastante pesar. Porque eu não queria. Continuo com a mesma opinião. Eu sei que o Manoel Flores (diretor de competições da CBF) está tentando ajustar. Mas vocês sabem mais que eu e eu não quero entrar nestes aspectos. Mas esse problema aconteceu com todos os clubes, quase todos os clubes. Eu tenho isso claro e continua igual”, afirmou o treinador em coletiva de imprensa.
Na esteira das críticas ao calendário e à cultura do futebol brasileiro, Tite foi questionado sobre a demissão de Sylvinho do Lyon com menos de seis meses de trabalho. Ele deixou claro a sua chateação e a sua surpresa e pediu ajuda para seu auxiliar Cléber Xavier para a resposta.
“A gente não esperava, a gente tem conversado algumas vezes, poucas por conta do trabalho dele e do Fernando (ex-analista de desempenho da seleção e auxiliar de Sylvinho), que a gente tanto se aproximou. Eles têm um potencial enorme. Foi surpresa. Eu achava que não deveria ter uma demissão agora, até pela recuperação na Champions e o Francês poderia recuperar. Fico chateado, triste, mas espero que eles consigam comandar em uma situação”, afirmou Cléber Xavier.
No dia 12 de junho de 2014, durante a abertura da Copa do Mundo no Itaquerão, em São Paulo, a presidenta Dilma Rousseff ouviu um gigantesco “vai tomar no cu” vindo das arquibancadas do estádio. Foi um “protesto” para o mundo inteiro ver. Aquilo jamais tinha acontecido com um presidente no Brasil. Em se tratando de uma mulher com mais de 60 anos, o xingamento soava ainda mais chocante. Disseram que até jornalistas, na área VIP, participaram do coro.
Em 30 anos como jornalista, eu nunca tinha visto nada igual. Cobri manifestações nos governos Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Não me lembro de ver nada parecido contra nenhum deles. Ouvi todos os tipos de palavras de ordem. Nos protestos dos caras-pintadas contra Collor, entoavam, de forma bem humorada: “Rosane, que coisa feia. Vai com Collor pra cadeia”, “Fora Collor já”, “PC, PC, vai pra cadeia e leva o Collor com você”, “Ai, ai, ai, empurra ele que ele cai”, “Ê Fernandinho/vê se te orienta/já sabem do teu furo/no imposto de renda” (no ritmo de Al Capone, de Raul Seixas).
Na Marcha dos 100 Mil, em Brasília, em agosto de 1999, os manifestantes gritavam “Fora FHC!”, “Basta de FHC!”, “você aí parado, também é explorado”, “Fora FMI!”. Um vendedor de água mineral bradava: “Olha a água mineral, Fernando Henrique sem moral!”. Criatividade, engajamento, politização. Ninguém mandou FHC tomar naquele lugar.
Os palavrões entraram na política na Copa do Mundo. Depois, durante os protestos verde-amarelos pelo impeachment de Dilma, não se viu outra coisa além de xingamentos. A primeira mulher presidenta da República, mãe e avó, era chamada de “puta”, “quenga”, “vaca”… Inclusive em cartazes: em vez de palavras de ordem, palavrões de ordem. Era só rolar a oportunidade que o coro ofensivo voltava. Deprê.
Passamos pelo que passamos, golpe, era Temer, prisão de Lula e agora o desastre Bolsonaro. A população, apática, como bois caminhando em direção ao matadouro, viu a aposentadoria e os direitos trabalhistas se esfumarem, as queimadas na Amazônia, a ameaça aos povos indígenas, o desaparecimento do Queiroz, a impunidade da morte de Marielle, o desemprego, os cortes na educação… Viu tudo isso numa inércia digna de estátua de sal bíblica –para ornar com a mescla nefasta entre Estado e governo patrocinada pela extrema direita.
Mas como assim sem reação? Gritamos “ei, Bolsonaro, vai tomar no cu” no Rock in Rio! Assim como havíamos feito com Temer em 2017… E do quê adiantou? A troca das palavras de ordem pelos palavrões funcionou para os verde-amarelos, é verdade. Mas, justiça seja feita, eles foram às ruas para isso. Nós, não. Estamos entrincheirados detrás de hashtags do twitter e memes nas redes sociais. Parecemos até… eles. Com a diferença, repito, de que os chamados “coxinhas” juntaram a ação virtual à real, em protestos multitudinários. Parecia até… nós. No passado.
Me dizem que os palavrões servem como uma catarse coletiva, um desabafo. Mandar Bolsonaro tomar naquele lugar seria como extravasar o grito que está preso na garganta. Mas é este mesmo o grito que queremos soltar? Eu preferia gritar “Lula Livre”, a palavra de ordem que tantos, até no campo progressista, cobram que se cale em nossas parcas manifestações. “Bolsonaro, safado, cadê minha bolsa de mestrado?”, “Bolsonaro, Michelle, quem matou Marielle?”, “Bolsonaro, mito, deixe os índios, maldito!”, “Bolsonaro, atroz, onde está o Queiroz?” Eram tantas as opções… “Bolsonaro, vai tomar no cu” é mais sonoro, mais rock and roll, entendo. Mas dá uma tristeza, não dá, não? Ver o debate político reduzido a xingamentos.
Dizem que os palavrões funcionam como uma catarse coletiva, um desabafo. Mandar Bolsonaro tomar naquele lugar seria como extravasar o grito preso na garganta. Mas é este mesmo o grito que queremos soltar? Eu preferia gritar “Lula Livre”
Xingaram a Dilma, agora é o presidente quem xinga tudo e todos. Nem as árvores escapam do palavreado baixo nível do chefe da nação. Arthur Weintraub, irmão do ministro da Educação e assessor especial da presidência da República, dá o tom do “debate” que eles querem ter com os “comunistas”, em uma palestra de dezembro de 2018. “Quando um comunista ou socialista chegar pra você com um papo fronhoinhoin (sic), você manda ele para aquele lugar. Xinga. Faça o que o professor Olavo fala: xinga, xinga”, ele aconselha.
Pois é, o guru da extrema direita, Olavo de Carvalho, adora xingar. É seu principal “argumento” nas redes sociais. “Cu” e “piroca” são termos tão presentes em sua “filosofia” quanto “foro de São Paulo”. O ideólogo do bolsonarismo já chamou ministros do governo de “filhos da puta” e disse que o general Santos Cruz é “um merda” e “uma bosta engomada”. O general acabou demitido da Secretaria de Governo.
“Mandar certos sujeitos tomarem no(s) cu(s) é uma maneira de informar-lhes que frescura não entra”, diz Olavo. “Eu uso esses palavrões porque são necessários no contexto brasileiro para demolir essa linguagem polida que é uma camisa-de-força que prende as pessoas, obrigando-as a respeitar o que não merece respeito. Então, às vezes, quando você discorda de um sujeito, mas discorda respeitosamente, você tá dando força, está dando mais força pra ele do que se concordasse. Porque você está indo contra a ideia dele, mas você está reforçando a autoridade dele.”
Ao apelar para o xingamento em relação a Bolsonaro, a esquerda brasileira parece estar se rendendo aos “ensinamentos” de Olavo e seguindo o exemplo dos Bolsonaro e dos Weintraub da vida: adultos que agem como moleques mal educados. Daí os palavrões. O presidente já falou para um cidadão que lhe perguntou do Queiroz: “tá na casa da sua mãe”. Que ninguém se espante quando Bolsonaro der o dedo do meio para alguém. Eles são assim.
Mas não éramos nós que tínhamos mais conteúdo? Não éramos nós que queríamos elevar o debate político? E agora nos encontramos chafurdando na lama da baixaria, da falta de argumentos, que nem aqueles que criticávamos? Xingar Bolsonaro para mim é como se tivéssemos nos dobrado às “estratégias” da extrema direita. É prova cabal de que também nós estamos sem consciência política, sem narrativa, sem estofo; é como se estivéssemos assumindo nossa incapacidade de mobilização, de tomar alguma atitude contra este governo fascista além de xingar. Qual o próximo passo? Fazer coreografias ridículas?
“Bolsonaro merece ser xingado”, explicam. Ele merece, sem dúvida. Nós é que não merecemos decair tanto. A esquerda é maior do que isso. A esquerda é melhor do que isso.
Danilo Mello ama o Flamengo. Assíduo nos jogos do Maracanã, não perderia por nada o jogo internacional mais importante do clube em 35 anos. Mas uma notícia o devastou nas últimas semanas: seu cão Doze, companheiro nos últimos cinco anos, fora diagnosticado com um câncer. O valor do tratamento seria maior do que poderia pagar. A solução, então, por mais que fosse dolorida, seria rifar seu ingresso para jogo do próximo dia 23 e usa o valor para cuidar do Doze.
A história viralizou e emocionou milhares de pessoas que se mobilizaram para ajudar Danilo a conseguir os recursos para salvar seu amigo. Mas, mesmo conseguindo muito mais do que pretendia, uma coisa não teria mais: a chance de ver o Flamengo na decisão, afinal, o seu ingresso será sorteado.
Pensando nisso, a cerveja Brahma, parceira dos torcedores brasileiros em todos os momentos que realmente importam, encontrou Danilo para garantir a ele a presença nessa hora tão importante para o seu clube de coração. Seu primeiro ingresso será rifado, mas a marca garantiu a ele outra entrada para que possa estar no Maracanã nesta data tão aguardada.
“Estou arrepiado. Agradeço demais à Brahma. A gente tinha que salvar o Doze, nosso 12º jogador e que agora vai virar mascote do Flamengo”, disse Danilo ao receber a surpresa em sua casa.
Doze já iniciou suas sessões de quimioterapia e Danilo avisa que todo o valor extra não utilizado para o tratamento que sua vaquinha arrecadar será doado para outras instituições de apoio aos animais.
“Na eleição brasileira do ano passado, houve a atuação de empresas fornecedoras de envios maciços de mensagens, que violaram nossos termos de uso para atingir um grande número de pessoas.” A declaração é de Ben Supple, gerente de políticas públicas e eleições globais do WhatsApp, em reportagem de Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo. É a primeira vez que a plataforma admite isso publicamente. A repórter foi atacada e ameaçada de morte por sua investigação, publicada em outubro do ano passado, que revelou que empresas de marketing foram contratadas por empresários apoiadores da candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência da República para disparar milhões de mensagens a seu favor e contra o adversário. O disparo em massa é considerado ilegal pelo Tribunal Superior Eleitoral e a contratação de serviços sem que sejam declarados à Justiça Eleitoral pode configurar caixa 2.
A campanha de Fernando Haddad chegou a ser multada por impulsionar ataques contra Bolsonaro, segundo decisão judicial. Mesmo assim, o corregedor-geral da Justiça Eleitoral, Jorge Mussi, não parece interessado em descobrir quem estava por trás dos disparados de mensagens pró-Bolsonaro, nem quem pagou um bom dinheiro por elas. Não quis que jornalistas da Folha responsáveis pelas investigações testemunhassem no processo (aberto pela candidatura de Haddad sobre o caso baseado após reportagem do jornal), nem os donos das agências envolvidas ou mesmo representantes do WhatsApp. Mas aceitou uma testemunha indicada pela defesa do presidente, que prestou serviços para a sua campanha e, hoje, trabalha em sua assessoria de imprensa.
O que falta para uma investigação profunda sobre o caso? Uma declaração de culpa autenticada em três vias no cartório? Surreal, mesmo para o roteirista desta pornochanchada chamada Brasil.
Ao mesmo tempo em que o sistema de Justiça atua para que a sociedade fique sem respostas quanto ao passado recente, o Congresso Nacional agiu para que tenhamos um futuro mais turvo ainda. Em seu projeto que afrouxou as regras eleitorais, partidos autorizaram a si mesmos a usar dinheiro de fundo público a fim de impulsionar conteúdo na internet. Considerando que o TSE não tem demonstrado ser capaz de criar mecanismos para mitigar a manipulação ilegal do debate público por via digital, imagina como vai ser com a porta aberta pela mudança na legislação.
O WhatsApp reconhece tudo isso, mas foi e será corresponsável pela manipulação do debate eleitoral ao não estabelecer mecanismos eficazes para identificar e mitigar o impacto da difusão paga de conteúdo. A lei brasileira afirma que todo o financiamento de campanha deve ser público, mas candidaturas continuam contando com empresários bilionários que fazem o serviço sujo por baixo do pano.
No final, tudo fica por isso mesmo. Candidatos são eleitos. Empresários têm seus interesses apaixonadamente defendidos. Agências de marketing levam uma fábula. Políticos e magistrados continuam agindo como proprietários do país. Aplicativos e empresas de tecnologia ficam cada vez maiores.
A culpa pela chanchada política, econômica, social e de justiça? Repetindo o mantra de nosso presidente, a culpa é do mensageiro, que não conta a história que “deveriam” contar. Com jornalistas presos e redações fechadas, talvez o país tenha paz da ignorância suprema. Como na ditadura.