
POR GERSON NOGUEIRA
Não é apenas no aspecto financeiro que a semifinal da Copa Verde desponta como tábua de salvação para os velhos rivais. Embora importante, o faturamento com a bilheteria não é o fator mais relevante. A questão técnica, aliada à histórica rivalidade, é o que sustenta a motivação maior para o novo duelo, que começa hoje à tarde no Mangueirão.
O entusiasmo envolve os dois lados. Até para o PSC, que já conquistou o torneio em duas ocasiões, a eventual conquista da Copa Verde serve como um objetivo interessante para o técnico Hélio dos Anjos e o elenco atual. Como não conquistou nada na temporada, é natural que o time se agarre ao legítimo projeto do tri da CV.
Outro aspecto que cria um interesse natural pela semifinal é a luta de remistas e bicolores pela chance de garantir às suas torcidas a última grande comemoração da temporada.
Do lado azulino, a ansiedade vem do fato de o clube nunca ter vencido a competição regional. Ganhar a Copa virou obsessão, após a boa campanha de 2015 que terminou com a frustrante goleada diante do Cuiabá.
O sonho de conquista ainda esbarra em dificuldades bem conhecidas. Superar o PSC e chegar à final vai depender de um rendimento técnico que o time não conseguiu mostrar na fase mais aguda da Série C.
A troca de comando reabriu a perspectiva de uma recuperação da equipe, sugerindo uma ruptura com o estilo previsível e defensivo exibido nas rodadas finais do Brasileiro. Eudes Pedro assumiu com a proposta de colocar o Remo sempre em busca de vitórias.
Diante do Atlético-AC, cumpriu à risca essa promessa, obtendo uma goleada que o torcedor do Leão não via há mais de um ano. O problema é que Eudes não tem nenhuma outra credencial para exibir. Segue como aposta. Os clássicos podem dar a ele a musculatura que falta.

Hélio dos Anjos tem musculatura em excesso. Rodou o mundo dirigindo times. O retorno ao Papão é satisfatório até agora. Reorganizou o time, deu sentido de competição e quase obteve o acesso à Série B.
O único senão é o excesso de empates (14 em 19 jogos), que valoriza o trabalho do sistema defensivo, mas deixa dúvidas quanto à efetividade do setor de ataque. A semifinal contra o maior rival pode contribuir para mudar essa imagem ou servir como ratificação.
———————————————————————————–
Guinada em favor do jogo bonito
Há uma saudável tendência de alta do futebol-arte, estilo de jogo que muitos consideravam extinto. Todas as torcidas passaram a eleger como sonho de consumo o futebol entregue pelo Flamengo de Jesus, o Santos de Sampaoli, o Grêmio de Renato e o Atlético-PR de Tiago Nunes.
Pode ser somente modismo de verão, mas é inegável que o Brasileiro exibe um cenário diferente de anos anteriores. Comparada à pasmaceira que foi a competição de 2017 e 2018, o atual campeonato estabelece o resgate de um tipo de jogo que parecia restrito aos arquivos de videotape.
Na frenética dança de cabeças que agitou a Série A desde a quinta-feira (26), chama atenção a aposta do São Paulo em Fernando Diniz, cuja filosofia ofensivista desafia a cartilha pragmática dos resultados.
Logo na primeira entrevista, Diniz conquistou os fãs do futebol bem jogado ao citar “Seu Telê”, um ícone na história do São Paulo e um dos mais fiéis apóstolos do futebol-arte no Brasil.
Curiosamente, a repercussão da escolha foi mais positiva entre torcedores de outros clubes. Os tricolores mostram-se ressabiados, talvez pelos maus passos de Diniz no Atlético-PR e no Fluminense, onde teve baixo aproveitamento mesmo encantando em jogos pontuais.
A questão é que o São Paulo tem um elenco qualificado, com jogadores como Daniel Alves e Hernanes, como nenhum outro dirigido por Diniz, e isso abre a possibilidade de um casamento interessante entre a ousadia tática do técnico e as habilidades dos jogadores.
Lógico que é precipitado avaliar se a mudança de rota determinada pelo São Paulo será bem sucedida. Nem sempre as diretrizes do comando técnico encontram eco na produção de campo. O que respalda a iniciativa é que Diniz é conhecido pela determinação e disciplina com que se lança ao projeto de futebol mais voltado para o ataque.
Outro aspecto favorável é o endosso dos líderes do elenco à contratação, tendência oposta ao que à muito ao contrário da arapuca armada pelo elenco do Cruzeiro para derrubar Rogério Ceni – que já voltou ao Fortaleza, de onde não deveria ter saído.
Aliás, a situação cruzeirense expõe o fracasso de gestões à moda antiga. Com dívidas monstruosas, inclusive com os jogadores, o Cruzeiro tem frequentado as páginas de escândalos dos jornais a partir de denúncias judiciais e ordens de prisão contra dirigentes e ex-presidentes.
O Fluminense sacode no banzeiro de débitos que perduram desde o fim da parceria com a Unimed, que rendeu algumas vitórias e gerou um monumental paiol de problemas. Depois de afastar Fernando Diniz, optou por sua antítese, o conservador Oswaldo de Oliveira. Deu no que deu.
Ainda é cedo, porém, para que se consolide um consenso em torno do futebol-arte. Não se pode esquecer que o torcedor, que dita rumos e apostas, gosta de ver futebol bonito, mas aprecia mesmo é levantar taça.
————————————————————————————
Bola na Torre
Guilherme Guerreiro comanda a atração, a partir das 21h, na RBATV, com a participação de Giuseppe Tommaso e deste escriba de Baião. Em pauta, a primeira semifinal da Copa Verde 2019.
(Coluna publicada no Bola deste domingo, 29)